Dr Danilo David Santos Silva, de 33 anos, era de Belém e trabalhava em UPA no Rio de Janeiro — Foto: Arquivo pessoal
Médico contou sobre episódio de racismo na profissão no Encontro com a Fátima, em 2017 — Foto: Reprodução/TV Globo
“Meus pacientes precisam de mim, logo na semana que vem já tenho que ir salvar pessoas. Fico olhando aqui desse lado e só penso que eu poderia estar do outro lado ajudando”.
A mensagem de celular foi mandada para uma amiga um dia antes de o médico Danilo David Santos, de 33 anos, ser entubado no Hospital Escola de Valença, onde trabalhava, no interior do Rio de Janeiro. Desde então, a família não o viu mais. O psiquiatra morreu por Covid-19 na manhã do último domingo (10).
Quatro dias antes de apresentar os primeiros sintomas, ele atendeu três pacientes infectados por Covid na UPA onde também fazia plantões na emergência, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro.
“Lutou, lutou, lutou. Morreu na profissão, se contaminou na profissão, morreu trabalhando”, contou ao G1 a mãe, Francisca das Chagas dos Santos, de 61 anos, que disse que o filho, de quase dois metros de altura, tinha diabetes e pressão alta.
Danilo nasceu e cresceu em uma casa de palafita em Belém, no Pará, que ficava com água até o meio da perna quando a tradicional chuva paraense insistia em ser ainda mais forte. A mãe, manicure e diarista, e o pai, vidraceiro, juntavam a maior parte da renda para que o garoto conseguisse cursar um colégio melhor. Aos 16 anos, passou em três faculdades, Enfermagem, Ciências Biológicas e Engenharia Ambiental.
Danilo começou a cursar Enfermagem, mas o sonho era Medicina. Dois anos depois, resolveu prestar vestibular mais uma vez na Universidade Estadual do Pará (UEPA).
Como é tradição em Belém, ele e a mãe ligaram o rádio para escutar, nome por nome, a lista dos aprovados no vestibular, mas não ouviram o nome de Danilo. Minutos depois, uma amiga apareceu na porta com confetes e serpentina, e contou que ele tinha passado em segundo lugar. Ele não acreditou, e foi na casa de uma vizinha que tinha computador para buscar a confirmação na internet. Nesse dia, dona Francisca comprou uma caixa de fogos e fez feijoada.
O primeiro médico da família foi fazer residência em psiquiatria no Rio de Janeiro. Na capital fluminense, foi onde também conheceu o marido, Gilberto Amaral, em 2015. Com apenas um mês de namoro, Danilo escondeu uma aliança em um brigadeiro e o pediu em casamento.
Além de ensinar Gilberto a comer “o verdadeiro açaí”, Danilo o convenceu de que ele também era capaz de cursar Medicina, curso que hoje estuda. Quando o marido acabasse a faculdade, o casal planejava adotar um casal de crianças, que já tinham até nome. Antes de ser entubado, Danilo deixou um recado com o enfermeiro: “fala com o Gilberto que eu já volto, e quando voltar vamos antecipar a Liz e o Gabriel’.
Em 2017, em um plantão em um hospital no Rio de Janeiro, ele foi na porta da emergência para ajudar no andamento da fila. Um homem o olhou e disse que não gostaria de ser atendido por Danilo, porque ele era “crioulo”. “Como aquela pessoa estava numa situação de emergência médica eu tive o discernimento e a ética de dizer para ele o seguinte: ‘você não tem condições de dizer quem vai te atender’”. Após o atendimento, o médico registrou Boletim de Ocorrência em uma delegacia por racismo.
Ele contou este episódio em uma ação da série Sob Pressão, da TV Globo, que mostra os dramas do cotidiano de uma emergência de um hospital público. (veja o vídeo acima). Danilo também foi ao programa Encontro com a Fátima para falar sobre preconceito.
“O que temos que mostrar, independente da cor da pele, é que estamos onde nós estamos porque somos capazes. Nós temos que cada dia mais nos acostumar com negros em altos cargos, com negros sendo chefes de equipe, com negros tendo um papel social muito mais relevante”, disse Danilo na época.
O médico deixa o marido, Gilberto, a mãe, Francisca, o pai, Davi, a irmã, Daniele, e a sobrinha, Sophia, por quem era apaixonado. “Ele foi uma estrela na minha vida e sempre será”, disse a mãe.
Por Paula Paiva Paulo, G1
A mensagem de celular foi mandada para uma amiga um dia antes de o médico Danilo David Santos, de 33 anos, ser entubado no Hospital Escola de Valença, onde trabalhava, no interior do Rio de Janeiro. Desde então, a família não o viu mais. O psiquiatra morreu por Covid-19 na manhã do último domingo (10).
Quatro dias antes de apresentar os primeiros sintomas, ele atendeu três pacientes infectados por Covid na UPA onde também fazia plantões na emergência, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro.
“Lutou, lutou, lutou. Morreu na profissão, se contaminou na profissão, morreu trabalhando”, contou ao G1 a mãe, Francisca das Chagas dos Santos, de 61 anos, que disse que o filho, de quase dois metros de altura, tinha diabetes e pressão alta.
Danilo nasceu e cresceu em uma casa de palafita em Belém, no Pará, que ficava com água até o meio da perna quando a tradicional chuva paraense insistia em ser ainda mais forte. A mãe, manicure e diarista, e o pai, vidraceiro, juntavam a maior parte da renda para que o garoto conseguisse cursar um colégio melhor. Aos 16 anos, passou em três faculdades, Enfermagem, Ciências Biológicas e Engenharia Ambiental.
Danilo começou a cursar Enfermagem, mas o sonho era Medicina. Dois anos depois, resolveu prestar vestibular mais uma vez na Universidade Estadual do Pará (UEPA).
Como é tradição em Belém, ele e a mãe ligaram o rádio para escutar, nome por nome, a lista dos aprovados no vestibular, mas não ouviram o nome de Danilo. Minutos depois, uma amiga apareceu na porta com confetes e serpentina, e contou que ele tinha passado em segundo lugar. Ele não acreditou, e foi na casa de uma vizinha que tinha computador para buscar a confirmação na internet. Nesse dia, dona Francisca comprou uma caixa de fogos e fez feijoada.
O primeiro médico da família foi fazer residência em psiquiatria no Rio de Janeiro. Na capital fluminense, foi onde também conheceu o marido, Gilberto Amaral, em 2015. Com apenas um mês de namoro, Danilo escondeu uma aliança em um brigadeiro e o pediu em casamento.
Além de ensinar Gilberto a comer “o verdadeiro açaí”, Danilo o convenceu de que ele também era capaz de cursar Medicina, curso que hoje estuda. Quando o marido acabasse a faculdade, o casal planejava adotar um casal de crianças, que já tinham até nome. Antes de ser entubado, Danilo deixou um recado com o enfermeiro: “fala com o Gilberto que eu já volto, e quando voltar vamos antecipar a Liz e o Gabriel’.
Em 2017, em um plantão em um hospital no Rio de Janeiro, ele foi na porta da emergência para ajudar no andamento da fila. Um homem o olhou e disse que não gostaria de ser atendido por Danilo, porque ele era “crioulo”. “Como aquela pessoa estava numa situação de emergência médica eu tive o discernimento e a ética de dizer para ele o seguinte: ‘você não tem condições de dizer quem vai te atender’”. Após o atendimento, o médico registrou Boletim de Ocorrência em uma delegacia por racismo.
Ele contou este episódio em uma ação da série Sob Pressão, da TV Globo, que mostra os dramas do cotidiano de uma emergência de um hospital público. (veja o vídeo acima). Danilo também foi ao programa Encontro com a Fátima para falar sobre preconceito.
“O que temos que mostrar, independente da cor da pele, é que estamos onde nós estamos porque somos capazes. Nós temos que cada dia mais nos acostumar com negros em altos cargos, com negros sendo chefes de equipe, com negros tendo um papel social muito mais relevante”, disse Danilo na época.
O médico deixa o marido, Gilberto, a mãe, Francisca, o pai, Davi, a irmã, Daniele, e a sobrinha, Sophia, por quem era apaixonado. “Ele foi uma estrela na minha vida e sempre será”, disse a mãe.
Por Paula Paiva Paulo, G1
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