quinta-feira, maio 21, 2020

Grupo de médicos do Recife se junta a movimento nacional para mudar atendimento inicial a pacientes com coronavírus


Médicos de diversas especialidades no Brasil, incluindo Pernambuco, divulgaram um manifesto, nesta quarta-feira (20), para mudar o atendimento primário de pacientes com o novo coronavírus. O objetivo é tentar impedir o avanço da doença nas pessoas e evitar que seja necessário o atendimento em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

De acordo com o médico oftalmologista Antônio Jordão, que faz parte do grupo que assina o manifesto, no Brasil não está sendo dada atenção necessária à fase inicial da doença, e os pacientes acabam tendo o estado de saúde agravado. "Nós médicos achamos um tremendo absurdo atender um paciente e mandar ele para casa com paracetamol e água. Sabendo que há outras medicações que vão ajudar nesse momento. Pode ser que não sejam medicações definitivas. Pode ser que amanhã surja um remédio melhor, mas aí para isso a pessoa precisa estar viva. Essa é nossa preocupação", disse.

Ele explicou que em outros países, como a Espanha, um dos mais afetados pela covid-19, o atendimento primário passou a ser feito de forma mais intensa e houve resultados positivos. "Se descobriu que essa doença não era uma gripe simples. Era uma doença generalizada, infecciosa, imunológica, hematológica e inflamatória. Ou seja, atacando o organismo todo. Você tem gente com pneumonia, mas você também tem gente com inflamação no intestino, no cérebro e no coração. E no pâncreas e em qualquer órgão. O número de casos graves, ele foi exponencial. Ele cresceu muito. Então isso acabou colapsando o sistema de saúde de diversos países", comentou.

O médico disse que, ao se observar que o coronavírus era mais que uma gripe, foi constatado que era necessário tratá-lo antes que o quadro evoluísse para grave. "Uma gripe é autoresolutiva, e em 5 dias, 7 dias, o paciente está recuperado. Essa não é uma gripe. O coronavírus não mata ninguém. O que mata as pessoas é a reação que o organismo tem em função da entrada do coronavírus no organismo. Então quando se viu que não se resolvia na alta complexidade, os países inverteram a lógica da intervenção. Viram que era necessário investir na atenção primária. Nos casos leves, para que eles não evoluíssem para moderados, e o moderado não evoluísse para grave. Então, foi assim que a Espanha esvaziou os leitos de UTI e desativou os hospitais de campanha. Como? tratando logo, de imediato, na chamada fase viral", afirmou.

"Esse é o momento ideal de se agir. No início do processo. Primeiro, segundo dia, terceiro no máximo. A primeira fase ela leva em torno de cinco dias. Então, o que aconteceu nos outros países? Quando eles começaram a tratar na fase leve, eles acabaram por evitar, na grande maioria dos casos, que eles evoluíssem de leves para moderados e de moderados a grave", completou Jordão.

Segundo explicou o médico, uma doença possui três fases: de replicação viral (fase 1), replicação viral com início da fase inflamatória (fase 2) e a fase 3, que é classificada como "muito inflamatória". "Essa é a fase que ocorre o comprometimento dos órgãos, que é onde o paciente vai parar na UTI", explicou.

No manifesto, consta que "inegavelmente, a comunidade médica reconhece cada vez mais como impactante na prática de enfrentamento da pandemia é que, tratando precocemente com prescrição de medicações via oral, uma abordagem primária, simples e de baixo custo, na maioria das vezes evita-se que os casos leves progridam para moderados, e os moderados para graves, reduzindo de forma expressiva o índice de letalidade e reduzindo substancialmente o custo de tratamento".

Por Jornal do Commercio

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