A preocupação de Bolsonaro com supostos projetos políticos de Moro explica, em grande parte, o caráter conflituoso que marcou a relação entre os dois. Segundo interlocutores, após a saída do ex-juiz do governo, o presidente passou a dar ainda mais atenção a possibilidade de ter que enfrentar Moro nas urnas em 2022. "Candidatíssimo", tem repetido o chefe do Executivo aos aliados.
Bolsonaro tem sido acusado por opositores de privilegiar a disputa política em detrimento da resposta brasileira à pandemia do novo coronavírus. Segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 8 mil pessoas já morreram vítimas da Covid-19.
Em meio a uma crise que se aprofunda a cada dia, o presidente tem protagonizado embates também com governadores que, em cumprimento às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), adotam o isolamento social para barrar o avanço do novo coronavírus.
Ao defender a reabertura do comércio e o relaxamento das medidas sanitárias, com o argumento da preservação da economia e dos empregos, Bolsonaro mira em pelo menos dois virtuais candidatos à presidência - os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), seus maiores desafetos.
O deputado Bibo Nunes (PSL-RS), ao falar de Sergio Moro, o chamou de "traidor" e disse que o ex-ministro e a mulher, a advogada Rosângela Moro, já vinham articulando um projeto político com vistas às eleições de 2022.
"O presidente e muitos de nós sabemos disso. O senhor Sergio Moro foi picado pela mosca azul. E toda essa articulação é feita em parceria com a mulher dele, a advogada Rosângela Moro", disse ao Correio o parlamentar.
Ele citou como exemplo a criação, em março deste ano, do Instituto Rosângela Moro. Segundo anúncio publicado nas redes sociais da advogada em 25 de março deste ano, o instituto é "uma organização sem fins lucrativos com o objetivo de impulsionar projetos de impacto social".
A ONG também tem um perfil no Instagram. Uma das primeiras publicações trata do impulsionamento de um projeto chamado "Casa Hunter - Solidariedade". Com o slogan "costurando esperança", o instituto está fazendo doações de aventais, toucas, protetores de calçados e máscaras descartáveis sem qualquer encargo para estabelecimentos de saúde.
Apesar da finalidade assistencial da iniciativa, a página da entidade se transformou em um espaço de embates políticos entre os seguidores, com ataques a Bolsonaro e a Sergio Moro. O ex-juiz é chamado por muitos de "traidor", em razão das acusações de que o presidente da República tentou interferir na Polícia Federal para ter acesso a relatórios de inteligência do órgão.
"A esposa do ex-ministro Sergio Moro já vem se movimentando dentro de um projeto político para se tornar primeira-dama do país", disse Bibo Nunes.
O Correio tentou contato com o escritório da advogada Rosângela Moro em Curitiba, mas as chamada não foi atendida, e a secretária eletrônica estava desativada, não tendo sido possível deixar recados.
Para o cientista político Paulo Calmon, da Universidade de Brasília (UnB), a saída de Sergio Moro do governo deve fazer com que Bolsonaro perca o apoio dos defensores da Operação Lava-Jato, forçando-o a buscar novos integrantes para sua base. O docente também vê provável prejuízo à popularidade do presidente e a direita chegando com vários candidatos às eleições de 2022.
"O mais provável é que haja vários candidatos de direita em 2022. Em função disso, Bolsonaro terá que recompor a coalizão que o apoia, buscando novas alianças e se preparando para as muitas críticas que receberá, não apenas dos candidatos da esquerda, mas também de centro e de direita. Ciente disso, ele parece buscar avidamente recompor suas bases de apoio e buscar alianças com governadores e partidos do Centrão", disse Calmon.
Por Correio Braziliense
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