"A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe supremo", reclama o presidente da República
Após o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro revelar nesta sexta-feira (24/4) que o presidente Jair Bolsonaro teria tentado interferir em investigações da Polícia Federal, o próprio mandatário revelou que já fez pedidos pessoais à corporação desde que assumiu o Palácio do Planalto. Apesar de não considerar como interferência, Bolsonaro admitiu que recorreu à PF em pelo menos três oportunidades, uma delas para provar que não havia nenhum vínculo entre a família dele e a do ex-policial militar Ronnie Lessa, suspeito de ter feito os disparos que mataram a vereadora Marielle Franco, em março de 2018.
Com a prisão de Lessa, em março do ano passado, um dos delegados que investigava o crime informou que Jair Renan, filho de Bolsonaro, já havia namorado com uma filha do ex-PM. Tanto o presidente quanto Lessa têm casa no Condomínio Vivendas da Barra (RJ). Intrigado com a informação, Bolsonaro primeiro consultou o filho e o pediu para “abrir o jogo”. Como resposta, Jair Renan disse que havia “saído com metade do condomínio” e que não se lembrava “dessa menina, se é que esteve com ela”.
Dessa forma, Bolsonaro procurou pessoalmente a Polícia Federal para que Lessa, preso presídio de segurança máxima de Mossoró (RN), fosse interrogado sobre o assunto. “E aí eu fiz um pedido para a Polícia Federal, quase com um 'por favor': chegue em Mossoró e interrogue o ex-sargento. Foram lá, a PF fez o seu trabalho, interrogou e está comigo a cópia do interrogatório, onde ele diz simplesmente o seguinte: a minha filha nunca namorou o filho do presidente Jair Bolsonaro, a minha filha sempre morou nos Estados Unidos”, revelou Bolsonaro.
O presidente disse que não visava se blindar a partir da atitude. Contudo, ele reclamou que Moro não tenha feito nada para descobrir alguma informação. “Mas eu é que tenho que correr atrás disso? Ou é o ministro? Não é a Polícia Federal que tem que se interessar? Não é para me blindar porque eu não estou em busca de um crime”, ponderou.
Devido à história, Bolsonaro admitiu que retirou Ricardo Saadi da superintendência da PF do Rio de Janeiro. Quando o retirou do posto, em agosto do ano passado, ele disse que a troca foi por motivos de "gestão e produtividade".
“Sugeri a troca de dois superintendentes, entre 27. O do Rio, a questão do porteiro. A questão do meu filho, 04, o Renan, que agora tem 20, 21 anos de idade. Quando, no clamor da questão do porteiro, do caso Adélio, que os dois ex-policiais teriam ido falar comigo, também apareceu que o meu filho 04 teria namorado a filha desse ex-sargento.”
Ainda no caso Marielle, o presidente também revelou que teve de “implorar” para a Polícia Federal apurar o depoimento de um porteiro do condomínio que afirmou ter falado pelo interfone com Bolsonaro no dia da morte da vereadora.
Segundo o relato do porteiro, ele teria escutado a voz do “seu Jair” em determinado momento de 14 de março de 2018, data do assassinato de Marielle. Naquele dia, o também ex-policial militar Élcio Queiroz, também suspeito de participar da morte da vereadora, foi até o condomínio para encontrar Ronnie Lessa e teria alegado no momento de entrar no complexo habitacional que iria até a casa de Bolsonaro, conforme a versão do porteiro. O presidente, no entanto, estava na Câmara dos Deputados, em Brasília.
“Será que é interferência pedir à PF, quase que implorar via ministro, para que fosse apurado o caso Marielle no caso do porteiro? Se eu não pedisse para o meu filho ir na portaria e filmar a secretária eletrônica, talvez até hoje ficasse a dúvida para todos que eu poderia estar envolvido nisso”, frisou.
“Será que é interferir na PF, exigir uma investigação sobre esse porteiro, (saber) o que aconteceu com ele? Ele foi subornado, ele foi ameaçado, ele sofre das faculdades mentais? O que aconteceu pra ele falar com tanta propriedade sobre um fato que, segundo ele, existiu há praticamente um ano atrás? Com todo o respeito a todas as vidas do Brasil. Acredito que a vida do presidente da República tem um significado, porque, afinal de contas, é o chefe de Estado. Isso é interferir na PF? Cobrar isso da sua PF?”, acrescentou Bolsonaro.
O terceiro episódio em que ele pediu à Polícia Federal uma investigação foi para descobrir que mandou matá-lo em setembro de 2018, quando ele foi atacado com um golpe de faca durante campanha eleitoral em Juiz de Fora (MG). Para Bolsonaro, houve mais preocupação de Moro em investigar o crime de Marielle do que o atentado a ele.
“Será que é interferir na Polícia Federal, quase que exigir, implorar a Sergio Moro, que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe supremo. Cobrei muito deles aí, não interferi”, reclamou.
Correio Braziliense
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