Aí está o perigo maior das transmissões e a sustentação para as cobranças das autoridades recomendando que as pessoas se isolem socialmente para evitar um quadro mais caótico. Muitas podem estar com coronavírus, indo à praia ou mantendo suas rotinas de trabalho e sequer sabem do risco que oferecem porque apresentam sintomas leves da infecção - falseando uma gripe, ou sem ter nenhum indicativo do novo coronavírus. O vírus demora em média 6,6 dias para se mostrar - quando o faz.
Divulgado esta semana, o primeiro estudo sobre a linha endêmica da China mostra que 86% das infecções por coronavírus não foram diagnosticadas por ausência de sintomas ou pela semelhança dos sintomas do coronavírus com quadros de síndromes gripais simples. A transmissão desses pacientes assintomáticos chegou a 55%. Os achados científicos finalizam mostrando o caminho traçado até o estrago atual visto na saúde pública mundial provocado pela pandemia: 79% dos pacientes registrados, catalogados, foram contaminados pelos assintomáticos. O estudo foi coordenado pela Faculdade de Medicina do Imperial College de Londres e contou com instituições parceiras. Tomou como base dados de mobilidade, em especial os de viajantes que transitaram até o dia 23 de janeiro de 2020. “A estimativa da prevalência e contagiosidade de novas infecções por coronavírus não documentadas é crítica para a compreensão da prevalência geral e do potencial pandêmico dessa doença”, diz o documento. A revista Science publicou segunda-feira passada artigo tratando da pesquisa.
Nesta sexta-feira, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgaram a estimativa do risco de disseminação da epidemia da Covid-19 no Brasil. Recife aparece entre os locais mais ameaçados, ao lado de Salvador, na Bahia, e dos centros metropolitanos do Sul e Sudeste. Os resultados integram o relatório Estimativa de risco de espalhamento da Covid-19 no Brasil e o impacto no sistema de saúde e população por microrregião. Toma como partida a exportação de casos dos dois maiores centros urbanos do país, Rio de Janeiro e São Paulo. Com uma diferença da China - a análise brasileira lida com o futuro.
“O que mais me preocupa é a taxa de transmissão deste vírus, que só perde hoje para o sarampo. E é difícil falar em taxa de transmissão precisa porque a grande dificuldade está nos casos assintomáticos. Cientistas no mundo inteiro estão debruçados nisso para entender o que explica a ausência de sintomas”, diz o virologista Ernesto Marques Jr, em entrevista ao Diario dos Estados Unidos, por telefone. Professor associado da Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, Estados Unidos, lotado no departamento de doenças infecciosas, pesquisador do departamento de virologia da Fiocruz, ele prevê que cerca de 60% ou 70% da população vai se contaminar. O que se faz agora é “como uma troca de pneu com carro andando”. É a contenção para que a população mundial não se contamine “todos de uma vez”.
O virologista reforça o alerta para se evitar contato social, perder o medo e ser racional mudando o hábito de higiene e conclui: “É lastimável, mas não é o fim do mundo. As pessoas precisam ter consciência e ir tentando tocar a vida da melhor forma possível.”
VEJA A ENTREVISTA AQUI
O perigo
86% das infecções por coronavírus não foram diagnosticadas*
55% foi a taxa de transmissão de infecções de casos não documentados
79%dos pacientes registrados vieram dessas pessoas, não registradas pelo governo como sendo caso de coronavírus e sem sintomas claros para a doença
6,6 dias é o tempo médio para que os sintomas sejam apresentados Estudo do primeiro lote de pacientes comcoronavírus na China, até 23 de janeiro, quando foi determinada a restrição de viagens
Fonte: Revista Science - artigo sob título “Substantial undocumented infection facilitates the rapid dissemination of novel coronavirus (SARSCoV2)”, coordenado por Ruiyun Li, da Faculdade de Medicina do Imperial College de Londres
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