Estudante Brysa dos Santos, uma das vítimas do surto de doença de Chagas, contou que teve dor forte depois do retiro em Ibimirim - Vítimas de surto de doença de Chagas em Pernambuco contam luta para superar sintomas
Vítimas do maior surto da forma aguda de doença de Chagas registrado em Pernambuco contaram como estão enfrentando o tratamento para superar os sintomas. Nesta quarta-feira (5), duas mulheres relataram também o que aconteceu durante o retiro realizado em Ibimirim, no Sertão, na Semana Santa, quando ocorreu a contaminação.
O surto veio à tona no dia 31 de maio. Ao todo, 77 pessoas participaram do retiro. Dessas, 27 estão em tratamento, sendo sete ainda internadas no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, na área central do Recife.
Vinte e duas pessoas tiveram resultado positivo em testes laboratoriais e cinco foram diagnosticadas por causa dos sintomas apresentados. Nesta quarta (5), duas pessoas deram entrada no hospital e uma teve alta.
Ao contrário dos pacientes que estão na fase crônica da doença, a perspectiva de cura dos doentes contaminados no retiro existe porque eles apresentam a doença na fase aguda, segundo o médico Wilson Oliveira, da Casa de Chagas.
Uma das vítimas, a estudante Brysa Sascha Batalha dos Santos, de 26 anos, relatou que o primeiro sintoma foi uma dor lombar. "Depois, essa dor passou para as pernas. Tive febre e fui para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) quatro vezes. No dia 24 de maio, fui internada", lembra.
Ela diz a, ainda, que recebeu tratamento para febre tifoide e malária até chegar ao diagnóstico de doença de Chagas. "Agora, vou ficar sendo acompanhada. São dois meses, mas a vida é normal. Estamos muito gratos a Deus e aos médios", diz a paciente.
A mulher lembra que foi uma das primeiras pessoas a chegar ao local do retiro, em uma escola da rede municipal. "Na quinta-feira, umas pessoas tomaram uma água que tinha na escola, eu não. Na sexta-feira, eles passaram mal. Fizemos uma limpeza no bebedouro e encontramos fezes de lagartixa", afirma.
Outra paciente, que preferiu não ser identificada, contou que os sintomas começaram a aparecer uma semana após o fim do retiro. Com 31 anos, a mulher lembra que teve enxaqueca e dor nos membros superiores, no dia 30 de abril.
"Eu não tinha feito atividade nem esforço físico. Não tinha motivo para tanta dor", recorda. Entre outros incômodos estavam náusea, dor na barriga e falta de apetite.
A mulher deu entrada no hospital com o marido, que também participou do retiro e foi infectado. "Ele recebeu alta e está com nosso filho em casa. Agora, fico ansiosa para voltar, espero que eu seja liberada ainda hoje", diz.
A vítima do surto diz que está melhor, mas deve se cuidar por causa de um derrame na membrana que envolve o coração. "Às vezes, me dá um cansaço e percebo que não posso andar por muito tempo", conta.
A paciente, que deu entrada no hospital há 26 dias, lembrou que foi para Ibimirim com amigos em uma van que saiu do Derby, na área central do Recife. “A única parada que fizemos na ida foi em uma lanchonete. Não comi nada, só tomei um cappuccino”, lembra.
Durante os três dias de retiro, de 18 a 21 de abril, segundo ela, a alimentação foi feita de forma coletiva, ou seja, o cardápio era o mesmo para todos. A paciente diz também que a maioria das comidas era cozida.
"Tivemos poucas saladas cruas e, ainda assim, tudo estava muito bem higienizado. As frutas do café da manhã também eram bem lavadas pela equipe da cozinha", afirma. Ainda de acordo com a mulher, não houve empresa terceirizada em qualquer função no retiro.
Investigação
Na terça-feira (4), a Secretaria Estadual de Saúde informou que 62 integrantes do grupo fizeram coleta de sangue para análise. O material está sendo avaliado pelo Laboratório Central de Pernambuco (Lacen-PE), no Recife, e pelo Laboratório da VI Gerência Regional de Saúde (Geres), com sede em Arcoverde, no Sertão.
Todos os pacientes em tratamento receberam o medicamento Benzonidazol, produzido pelo Laboratório Farmacêutico de Pernambuco (Lafepe).
Entre as seis pessoas ainda internadas no Huoc, a maioria é composta por mulheres. Segundo o médico infectologista Filipe Prohaska, elas têm idades entre 16 e 40 anos.
"Todos os pacientes internados saíram do isolamento e estão na enfermaria com um quadro de saúde estável. Três tiveram complicações e precisam ficar mais um tempo por aqui", diz o profissional.
Mesmo que não tenham apresentado sintomas da infecção, os outros 50 participantes do retiro passam por exames de rotina, já que a doença pode ser assintomática.
Destes, 30 já fizeram exame físico, de sangue e laboratorial com ênfase no funcionamento dos órgãos. Os resultados não acusaram a doença de Chagas, mas eles também devem ser acompanhados por uma equipe médica.
De acordo com o infectologista, quem foi diagnosticado com a doença tem um acompanhamento diário, enquanto houver sintomas. Os assintomáticos têm um acompanhamento ambulatorial por cinco anos.
As causas do surto ainda sendo investigadas pela Secretaria Estadual de Saúde. Até esta quarta (5), não havia sido divulgado nenhum resultado de exames.
"Sabemos que a doença começou no retiro. Dificilmente, teria acontecido em outro lugar e atingido o mesmo grupo de pessoas. É mais comum encontrar o barbeiro ou as fezes do animal em alimentos", afirma Filipe Prohaska.
Doença
A doença de Chagas é causada pelo protozoário Tripanossoma cruzi, cujo vetor é o barbeiro. Outra forma de transmissão é por meio de alimentos contaminados.
Entre os sintomas estão febre contínua, intermitente e prolongada por cerca de sete dias, edema de face ou de membros, manchas vermelhas na pele, inchaço de gânglios, inflamação de fígado ou de baço, além de problemas cardíacos agudos.
Também podem acontecer manifestações hemorrágicas, icterícia, náusea, perda ou diminuição de força física, dor nas articulações, edema inflamatório nas pálpebras ou dor estomacal.
Por G1 PE