A Secretaria de Cultura do Governo Federal nomeou nesta quarta-feira (27) Sérgio Nascimento Camargo para chefiar a Fundação Palmares. Ele substitui Vanderlei Lourenço na presidência. A escolha do nome, no entanto, gerou polêmica uma vez que o mesmo costuma utilizar as redes sociais para desferir comentários racistas. Ele chefiará a pasta criada para defender e fomentar a cultura e manifestações afro-brasileiras.
O perfil @scamarsn foi desativado após a repercussão. No perfil, Sérgio Camargo se descrevia como "negro de direita, contrário ao vitimismo, aos direitos dos manos e ao politicamente correto."
O novo representante costuma ainda atacar personalidades e questões importantes para o movimento negro. Ele já se posicionou contra o dia da Consciência Negra, afirmou que a atriz Taís Araújo deve voltar para a África e declarou ainda que a escravidão foi boa porque negros viveriam em condições melhores no Brasil do que no continente africano. Ele defendeu a extinção do feriado por decreto, porque ele causaria “incalculáveis perdas à economia do país” ao homenagear quem ele chamou de um “um falso herói dos negros”, Zumbi dos Palmares.
“Fui nomeado nesta quarta-feira presidente da Fundação Cultural Palmares, a convite do secretário especial da Cultura, Roberto Alvim. Assumir o cargo será uma grande honra e ao mesmo tempo um desafio! Grandes e necessárias mudanças serão implementadas na Fundação Palmares. Sou grato a Deus por essa oportunidade. Minha atuação à frente da Fundação será norteada pelos valores e princípios que elegeram e conduzem o governo Bolsonaro”, escreveu nas redes sociais.
Outras mudanças também foram realizadas na área de cultura e publicadas nesta quarta-feira no Diário Oficial da União, como a alteração ocorrida na Secretaria do Audiovisual e na Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura, com a nomeação de Katiane de Fátima Gouvêa para secretária da instituição.
Em nota, a Secretaria de Cultura, afirmou apenas que a indicação de Camargo partiu do secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, que está a frente da pasta desde o último dia 7.
Questionado na noite desta quinta-feira (27) sobre a repercussão negativa da escolha, o porta-voz da República, Otávio Rêgo Barros se esquivou de comentar o caso e jogou para Alvim a responsabilidade. Perguntado se Bolsonaro deu aval para a nomeação e se, diante dos aspectos mencionados, o Palácio do Planalto acha que Sérgio possui condições de assumir o cargo, respondeu:
“É preciso entender o processo de nomeação de funcionários de níveis um pouco mais abaixo e que não estão diretamente sob responsabilidade do presidente da República. Por diversas vezes ele já declarou que a indicação é de responsabilidade do próprio ministro ou detentor do poder para tal. Evidente que o ministro quando achar adequado comenta com o presidente a nomeação. Nesse caso, não tive oportunidade de comentar com ele, de forma que não há como esboçar o pensamento dele sobre isso”.
Revolta
A escolha por Sérgio causou revolta. A tag Zumbi dos Palmares ficou entre os trend topics do Twitter. A maioria, de repúdio e exigindo a exoneração do novo presidente da fundação. Uma lista de assinaturas passou a transitar na internet para este fim.
A atriz Elisa Lucinda utilizou as redes sociais para comentar o caso. “Sobre a nomeação de um racista declarado para a gestão da fundação Palmares, proponho uma mobilização nacional. Somos maioria a qual ele não representa. E com nosso dinheiro público não podemos manter alguém que concorde com o genocídio do povo brasileiro. É improbidade. A Palmares tem como missão a luta antirracismo. Ter na presidência alguém racista (o que é crime), pago com o dinheiro público, é inadmissível. Somos a maioria, o senhor não nos representa, não o legitimaremos, senhor Sergio Nascimento!”.
O deputado David Miranda (PSOL-RJ) escreveu: “A Fundação Palmares tem como objetivo fomentar a cultura afro-brasileira. Um órgão tão importante não pode ser presidido por alguém que ofende as lideranças negras brasileiras ou que relativiza a gravidade do racismo em nosso país. Sergio Camargo deve ser exonerado!”.
Correio Braziliense
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