Durante coletiva à imprensa realizada neste domingo (13) para anúncio destes detalhes, no Colégio Damas, bairro das Graças, foi inaugurado um memorial à memória da religiosa, que estará aberto diariamente. Ele traz para exibição pública a maior parte dos 230 itens do acervo de Irmã, a exemplo de roupas, quadros, manuscritos, relógios, mortuário, mobília, óculos, bolsas e até mesmo recipientes contendo o óleo e a água benta que ela utilizava para a unção. O espaço funcionará de segunda a sábado, das 8h às 12h e das 14h às 17h, e aos domingos, das 8h às 12h.
Antes de seguir para o Vaticano, o processo de beatificação e canonização foi aprovado pelos bispos do Regional Nordeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). No dia 5 de setembro, em nome da Diocese de Pesqueira, capitaneada pelo bispo Dom José Luiz, a solicitação foi enviada à Roma. De acordo com o Frei Jociel Gomes, postulador do processo de canonização, o momento agora é de espera pela resposta que pode acontecer entre seis meses e um ano. Foram constituídas as comissões histórica e teológica, que recolhem toda a documentação civil/religiosa a respeito.
Com este material, será elaborado um relatório a ser anexado ao processo, futuramente. Caso haja a resposta do Vaticano seja positiva, o momento será de escutar testemunhas que conviveram com a Irmã e possam falar sobre a sua santidade. “Já temos uma lista de aproximadamente 30 pessoas. E devem, certamente, aparecer outras. Será algo em torno de um ano e meio de escuta. Ao final, toda a documentação será levada a Roma. A partir daí, não temos como estipular o prazo final de todo o processo”, afirma. Ele solicita que quem tiver conseguido graças por interseção da Irmã procure o Colégio Damas para fazer seu relato.
André Silva de Moura, professor do departamento de História da Universidade de Pernambuco (UPE), preside a Comissão Histórica, composta por três historiadores e arquivistas (André, Dirceu Marroquim e Pedro Lopes), além de um membro da congregação a qual a Irmã pertencia, Irmã Rosimar.
“Nosso trabalho é comprovar as narrativas em torno desta personagem do seu primeiro ao último dia de vida, suas atividades religiosas e pastorais em diversos lugares. Vai além disso, pois há desdobramentos do seu trabalho em escolas e ações socais, por exemplo. Queremos demonstrar que ela não foi um personagem histórico resumido à aparição”, informa. O trabalho de quebra-cabeça, como André denomina, compreende vários locais a exemplo de Pesqueira, onde ela nasceu; Garanhuns, onde estudou; Recife, onde trabalhou, além de Vitória, Itamaracá e outros estados.
“Começamos desde março/abril, coletando documentos físicos, pessoais, registros da igreja, jornais e entrevistas. Em um final de semana, perfizemos mais de 1 mil km, o que não corresponde nem à metade. É uma história grande e com conexões internacionais”, afirma. Ele acredita que, historicamente, Irmã Adélia deva ser canonizada por estar dentro destas redes de aparições do mundo contemporâneo, como aconteceu em Fátima (Portugal).
“O que diferencia as aparições em Cimbres das demais? O lugar. As mensagens em todas elas são muito próximos e as imagens representam isso. Além disso, ela tinha projetos sociais compromissados com os mais pobres, especialmente crianças e povos indígenas. Profissionalizou adultos, fundou creches e ajudou na construção de casas”, detalha.
Sobre a missão teológica, que cuida da verificação dos milagres, a provincial da Ordem das Religiosas da Instrução Cristã do Brasil, Cleonice Santos, afirma que não há, ainda, como mensurar estas manifestações, mas que acontecem em diversas áreas como conversões e curas relacionadas à saúde física e emocional em locais como Recife e Pesqueira, estados como Ceará, Alagoas, e até mesmo fora do Nordeste.
“Sua vida foi este testemunho concreto, por meio das suas atitudes com as pessoas que se achegavam a ela, sempre pedindo orientação, sendo acolhidos. Para nós, este momento é significativo”, declara. Opinião compartilhada pelo Bispo de Pesqueira, Dom José Luiz, que afirma ter sido Irmã Adélia uma mulher de coração muito ligado a Deus e ao seu povo. “Ela tinha o desejo de evangelizar por todas as comunidades por onde passou, nunca foi alguém acomodada. Gostava de cuidar dos pobres e de rezar pelos sacerdotes. Isto é importante pois quanto mais santo o sacerdote, mais santo também o povo de Deus”, relatou.
Presente durante a inauguração do Memorial, estava Maria das Graças Teixeira, 80 anos, irmã da candidata à santidade. Em uma família com 18 filhos, cinco homens e o restante de mulheres, não conviveu tanto com a religiosa pois foi a última dos irmãos enquanto a então Maria da Luz havia sido a terceira. Lembra, entretanto, como o fato de a irmã não gostar de falar em público sobre a aparição.
“As pessoas questionavam coisas pequenas como a cor dos olhos de Nossa Senhora. O que sei é que ela sempre recebia as mensagens de Nossa Senhora em suas festas principais e as transmitia”, afirma. Nascida três anos depois da aparição em um ambiente de grande vinda de romeiros, Graça gostava quando a irmã deixava a congregação e ia visitar a família. “Ela tinha uma vida simples, sempre muito humilde. Deixou um grande exemplo e sempre recomendava muito amor aos pobres. Quanto a ser santa, se for da vontade de Deus, que seja”, finaliza.
As aparições de Nossa Senhora para Irmã Adélia
Maria da Luz Teixeira de Carvalho nasceu em Pesqueira, no dia 16 de dezembro de 1922 e ficou conhecida por presenciar as aparições de Nossa Senhora, na Sítio Guarda, em Cimbres, distrito de Pesqueira, no Agreste de Pernambuco. Recebeu o nome de Irmã Adélia ao entrar para o Instituto das Religiosas da Instrução Cristã (RIC) e virar freira. Ela faleceu há seis anos, no dia 13 de outubro de 2013, com 90 anos de idade.
A primeira aparição ocorreu em 6 de agosto de 1936, no Sítio Guarda. Acompanhada da amiga Maria da Conceição, viu, no alto da serra, uma mulher bonita com uma criança nos braços. Com a mão desocupada, a moça chamou as meninas para se aproximarem. As duas subiram correndo e permaneceram com Ela por um tempo até voltarem para casa. Seus pais, inicialmente, não acreditaram na história.
O pai foi com as garotas, então, até o local da aparição. Chegando lá, as duas viram novamente a mulher. Sem conseguir enxergar e achando que era alucinação das garotas, o pai de Maria da Luz pediu que ela perguntasse para a moça quem era Ela e o que queria. “Eu sou a Graça”, respondeu. “Vim para avisar que hão de vir três castigos mandados por Deus. Diga ao povo que reze e faça penitência”, completou. Desde então, as duas não pararam de ver a imagem.
A história se espalhou, o local virou lugar de peregrinação e oração, o que ocorre até os dias atuais. Por conta da perseguição que sofreram, o pai de Irmã Adélia inclusive chegou a ser preso. Em 1985, Irmã Adélia resolveu reunir as religiosas da congregação para partilhar a experiência que teve com Nossa Senhora e decidiu dar o testemunho porque estava com câncer e tinha pouco tempo de vida.
Passadas algumas semanas da revelação, foi com um grupo de religiosas para o local das aparições e pediu que, se fosse da vontade da Mãe do Céu, estes acontecimentos fossem divulgadas e que Ela lhe desse a cura. Foi o que ocorreu. Os novos exames realizados mostraram que a Irmã não tinha mais câncer.
Por Diario de Pernambuco
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