quinta-feira, outubro 17, 2019

Óleo chega às piscinas naturais de Alagoas e à baía de Todos-os-Santos, na Bahia


Praia de Maragogi, em Alagoas (Foto: Lúcia Xavier/Arquivo BlogAR)

As manchas de óleo que atingem praias do nordeste desde 30 de agosto, ainda de origem desconhecida, chegaram na quarta-feira (16) à praia de Maragogi, no litoral norte de Alagoas e à baía de Todos-os-Santos, maior baía do Brasil e segunda maior do mundo. Até o momento, 25 locais no estado foram afetados.

Alagoas

Alagoas foi o quarto estado no Nordeste a ser atingido pelo óleo. A primeira praia afetada na região, em 7 de setembro, foi a de Japaratinga, que voltou a ser atingida por manchas em dois pontos diferentes também nesta quarta-feira, segundo informações do Ibama.

No município de Japaratinga fica a APA (Área de Proteção Ambiental) Costa dos Corais, a maior unidade de conservação marinha do país. Por isso, 180 fuzileiros e um navio com mergulhadores devem trabalhar para verificar se houve impacto nos recifes de corais.


O governo de Alagoas enviou para a região kits com equipamentos de proteção individual como máscaras, luvas, peneiras e botas a serem distribuídos para os voluntários.

"O diretor-presidente do IMA [Instituto do Meio Ambiente de Alagoas] e o secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos informaram que homens da Defesa Civil Estadual, reeducandos do sistema prisional e servidores de todas as secretarias de Estado vão se juntar aos municípios do Litoral Norte no trabalho de limpeza das praias. Serão disponibilizadas, também, caçambas e retroescavadeiras", diz a nota do instituto.

Ainda na quarta, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobrevoou ao lado do vice-governador, Luciano Barbosa (MDB), o litoral norte de Alagoas para conferir o estado das praias afetadas. Durante a noite, voluntários participaram de um mutirão para remover o óleo da praia.

Bahia


Manchas de óleo foram identificadas na faixa de areia e em cima de pedras e corais nas praia de Jaburu, Tairu e Cacha Pregos, município de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica.

As praias costumam ser utilizadas por pescadores e marisqueiras que vivem em povoados vizinhos, já que são formadas por corais onde se escondem os animais marinhos.

O avanço do óleo na baía preocupa ambientalista e autoridades, já que a região é repleta de manguezais que são berçário de espécies marinhas. Também na baía desemboca um dos rios mais importantes da Bahia, o Paraguaçu.

O superintendente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) na Bahia, Rodrigo Alves, confirma a chegada do óleo em Itaparica e afirma que o órgão já havia acionado preventivamente um plano de emergência que existe desde 2015 para eventuais desastres ambientais.

O plano inclui o governo e empresas que atuam na região como a Petrobras e gestoras de terminais portuários.

Desde sábado (12), a entrada da baía vem sendo monitorada diariamente pela Marinha do Brasil. A atenção foi redobrada para evitar que o óleo avance sobre as regiões com ecossistema mais sensível.

"Tem muito mangue no fundo da baía de Todos-os-Santos. Nosso principal foco, no momento, é saber se existe risco de o óleo pode chegar às áreas mais sensíveis e qual resposta pode ser dada", afirmou à reportagem.

O prefeito de Vera Cruz, Marcus Vinícius Marques Gil (MDB), afirma que servidores da prefeitura e voluntários de entidades ambientais estão nas praias para recolher o óleo. E afirma que as equipes estão tendo dificuldades, já que as manchas atingiram recifes e corais: "É um trabalho muito mais complexo".

Ele destacou ainda o impacto socioeconômico da chegada do óleo na região, já que a maior parte das comunidades da contracosta da ilha sobrevivem da pesca e da mariscagem. E cobrou do governo federal um plano emergencial para atender a estes trabalhadores.

Na manhã desta quinta-feira (17), as manchas de óleo já haviam chegado às praias de Ondina e à região do Farol da Barra, no limite da entrada da baía de Todos-os-Santos.

Pequenas pelotas de óleo foram identificadas nas duas praias, conhecidas por ficaram em regiões de apelo turístico e junto a um dos principais circuitos do Carnaval.

Com o avanço das manchas, chega a 11 o número de regiões do litoral de Salvador já atingidas pelo óleo, atingindo toda a faixa da orla atlântica.

Outras praias que já haviam sido atingidas receberam uma maior quantidade de óleo na manhã desta quinta. Foi o caso, por exemplo, das praias de Stella Maris e praia da Pedra do Sal, em Itapuã.

"Estamos preocupados com estas duas áreas, pois o óleo chegou em uma textura mais líquida e está concentrado no meio das pedras, o que dificulta o trabalho de coleta", afirma o secretário municipal da Casa Civil, Luiz Carreira.

Ele diz que é necessária uma ação rápida para evitar que os sedimentos voltem ao mar com o avanço da maré durante a tarde.

Ao todo, 405 agentes da Limpurb, empresa municipal de limpeza urbana, estão atuando na retirada do óleo. Grupos de voluntários também tem ajudado na coleta do material.


Até a manhã desta quinta, foram retiradas das praias de Salvador 26 toneladas de óleo. Somente na quarta-feira, 22 toneladas foram retiradas em oito horas.

Os primeiros vestígios de óleo começaram a chegar a Salvador na terça-feira (10), mas até então em pequenas quantidades. Antes desta quinta-feira, haviam sido recolhidos apenas 37 quilos do óleo.

Investigações

Até o momento, não se sabe de quem é a responsabilidade pelo surgimento do óleo, mas,
segundo análises do material encontrado nas praias do litoral nordestino, o petróleo é de origem venezuelana, o que não quer dizer que a responsabilidade pela crise ambiental seja do governo da Venezuela.

Pesquisadores especializados em dinâmica de correntes marítimas fizeram simulações de computador e chegaram a resultados que indicam que a origem das manchas de óleo nas praias do Nordeste está no alto-mar, a pelo menos 400 km da costa.

Em nota, a Marinha aponta que já foram empregados 1.583 militares, cinco navios e uma aeronave na contenção, neutralização e investigação das manchas de óleo.
Pelo menos 30 navios-tanque de dez países diferentes serão notificados para prestarem esclarecimentos. "A Marinha entrará em contato com as autoridades competentes dos países dessas bandeiras, com a Organização Marítima Internacional e com a Polícia Federal, visando elucidar todos os fatos".

O Ibama requisitou apoio a Petrobras para a limpeza das praias. A estatal é a responsável por contratar pessoas entre agentes comunitários e cidadãos locais para receberem treinamento e auxiliarem na limpeza dos locais atingidos. Não há, ainda, informações sobre o número de pessoas envolvidas nas ações.

Folha Press/Diário de Pernambuco

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