sábado, agosto 03, 2019

Canal da Transposição do Rio São Francisco tem rachaduras erosão e mato, denuncia perito do Ministério Público Federal (MPF)

Canal da transposição do rio São Francisco na Paraíba apresenta problemas estruturais, segundo MPF. Imagem: Divulgação/MPF
Rachaduras e problemas no revestimento estão entre os problemas apontados pelo MPF Imagem: Divulgação/MPF.


Uma vistoria técnica feita nas obras do Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco na cidade de Monteiro, no Cariri paraibano, constatou que as obras apresentam rachaduras em vários trechos, que podem ter sido causadas por impropriedades na concepção ou execução da obra. O canal está sem receber água há mais de cinco meses após o bombeamento ser suspenso devido a um problema na barragem de Cacimba Nova, em Pernambuco.

A informação técnica da vistoria, feita por um perito do Ministério Público Federal (MPF) e divulgada na segunda-feira (29) tem informações que são contrárias às hipóteses levantadas pelo Ministério de Desenvolvimento Regional que, por nota, sugeriu que as fissuras nas placas do canal teriam sido “em decorrência das altas temperaturas na região durante o dia e constante exposição ao sol, além de baixas temperaturas à noite”.


A vistoria foi feita nos dias 21 e 22 de julho, no trecho entre a cidade de Monteiro, na Paraíba, e Sertânia, em Pernambuco. Entre os problemas apontados pelo perito, estão trincas e fissuras no revestimento de concreto, que chegavam a atravessar as placas em alguns pontos.

“Entendo que as fissuras estão associadas à retração plástica do concreto, e as trincas à retração hidráulica (por secagem)”, diz o perito no texto da informação técnica.

O documento do MPF, que foi remetido à procuradora da República Janaína Andrade de Sousa, diz ainda que em alguns trechos houve uma tentativa frustrada de recuperação das placas por um material selante, que já está deteriorado. Em alguns pontos, as rachaduras tinham mais de 1,5 centímetros.

Em outros trechos, as placas apresentam danos mais severos. O texto da informação técnica diz que o revestimento aparenta não ter sido feito com juntas horizontais e tem um aspecto mais poroso, “suscitando dúvidas quanto ao método de execução e à qualidade” das placas.

Assoreamento e canais de drenagem danificados

Ainda de acordo com a informação técnica do MPF, o canal apresenta trechos com assoreamento. O perito explica que as principais causas estão relacionadas “a falhas na proteção dos taludes de corte dos canais e a obstrução das canaletas de drenagem”.

O Sistema de Drenagem Externa, que tem a função de proteger as obras dos efeitos das chuvas e da erosão também apresenta problemas. Durante a inspeção, foi constatado que vários trechos dos canais de drenagem externa estão completamente danificados, comprometendo o direcionamento das águas em todo o sistema.

“Os canais da Transposição do São Francisco apresentam uma série de patologias que são incompatíveis com o tempo decorrido desde a construção. A meu ver, tais patologias estão associadas a impropriedades quando da concepção e/ou execução da obra e não a fenômenos naturais ou climáticos da região. Entendo que o excesso de fissuras, trincas e mesmo a ruptura do concreto que reveste o canal por si só é um indicativo de que: ou a qualidade do material ficou aquém daquela desejada (elevado fator água/cimento, condição de cura insatisfatória, etc.) ou existe uma deficiência na concepção das juntas de dilatação e controle”, conclui o perito.

Monteiro foi a primeira cidade paraibana a receber as águas da transposição, em 8 de março de 2017. No total, 35 cidades paraibanas dependem das águas da transposição, entre elas Campina Grande, a segunda maior do Estado.

Conforme o presidente da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa), Porfírio Loureiro, desde o dia 22 de fevereiro deste ano que o bombeamento foi suspenso para o Eixo Leste. Segundo o órgão, uma barragem em Pernambuco teve sobrecarga acima do permitido no projeto e por isso o bombeamento para Monteiro foi parado.

Por G1 BA

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