Durante o procedimento, cirurgiões australianos ligaram os nervos acima da lesão medular aos paralisados, abaixo dela. Passados dois anos e após fisioterapia intensiva, os participantes foram capazes de esticar o braço e abrir a mão para pegar e manipular objetos. A restauração da extensão do cotovelo melhorou a capacidade de impulsionar a cadeira de rodas e de se deslocar para a cama ou para o carro.
Agora, os participantes podem realizar tarefas cotidianas de forma independente, como se alimentar, escovar os dentes e os cabelos, fazer maquiagem, escrever, manusear dinheiro e cartões de crédito e usar ferramentas e dispositivos eletrônicos. Os resultados sugerem que as transferências nervosas podem resultar em melhorias funcionais similares às de tendões tradicionais, com o benefício de incisões menores e menos tempo de imobilização pós-cirúrgica.
Embora o estudo tenha sido feito com um pequeno número de pessoas, os pesquisadores dizem que as transferências nervosas são um grande avanço na restauração da função das mãos e dos braços e oferecem outra opção cirúrgica segura e confiável para pessoas que vivem com tetraplegia. No entanto, eles observam que quatro neurotizações falharam em três participantes. Por isso, os autores concluem que mais pesquisas serão necessárias para determinar os melhores candidatos ao procedimento, de forma a minimizar a incidência de falhas.
“Para pessoas com tetraplegia, a melhora na função da mão é o objetivo mais importante. Acreditamos que a cirurgia de transferência de nervo é uma opção nova e empolgante, oferecendo aos indivíduos com paralisia a possibilidade de recuperar as funções do braço e da mão para realizar tarefas cotidianas. Isso dá a elas independência e capacidade de participar mais facilmente da vida familiar e profissional”, diz Natasha van Zyl, da Austin Health, em Melbourne, Austrália, que liderou a pesquisa. “Além disso, mostramos que as transferências nervosas podem ser combinadas com sucesso às técnicas tradicionais de transferência de tendões para maximizar os benefícios.”
Combinações cirúrgicas
Relatos de casos individuais anteriores e pequenos estudos retrospectivos mostraram que a cirurgia de transferência de nervo é viável e segura em pessoas com tetraplegia. Mas esta é a primeira pesquisa prospectiva a utilizar a combinações de múltiplas cirurgias de transferência de nervo e tendão.
No total, o estudo recrutou 16 adultos jovens (idade média de 27 anos) com lesões medulares traumáticas precoces (menos de 18 meses após a lesão) no pescoço, que foram encaminhados à Austin Health, em Melbourne, para restauração da função no membro superior. A maioria era vítima de acidentes de carros ou de lesões esportivas.
Os participantes foram submetidos a transferências nervosas simples ou múltiplas em um ou ambos os membros superiores para restaurar a extensão do cotovelo e das funções de apreensão, beliscão e abertura da mão. Cinquenta e nove transferências nervosas foram completadas em 16 pessoas. Em 10 (12 membros), o procedimento foi combinado com transferências de tendão para melhorar a função da mão.
Os participantes completaram avaliações sobre seu nível de independência relacionado às atividades da vida diária (por exemplo, autocuidado, toalete, função do membro superior, força muscular, força de pinça e aperto e capacidade de abertura da mão) antes da cirurgia, um ano após a cirurgia e novamente dois anos depois. Dois participantes não foram mais encontrados para acompanhamento e houve uma morte (não relacionada à cirurgia).
Após 24 meses, melhorias significativas foram notadas na capacidade de pegar e soltar vários objetos dentro de um período de tempo especificado. Antes da cirurgia, nenhum dos participantes foi capaz de pontuar nos testes de força de agarrar ou beliscar, mas, dois anos depois, a força de pinça e apreensão era alta o suficiente para realizar a maioria das atividades da vida diária. Três participantes tiveram quatro transferências nervosas fracassadas. No geral, a cirurgia foi bem tolerada.
Limitações
Apesar dessas conquistas, a cirurgia de transferência de nervo ainda tem algumas limitações. Para os melhores resultados, ela deve, idealmente, ser realizada dentro de seis a 12 meses após a lesão. Além disso, pode-se levar meses após a transferência para que o crescimento do nervo no músculo paralisado ocorra e para que novos movimentos sejam notados, e anos até que a força total seja alcançada. No entanto, os autores observam que um dos benefícios das transferências nervosas é que a maioria dos movimentos não restaurados com sucesso pelas transferências nervosas ainda pode ser restaurada usando transferências de tendão.
Discutindo as implicações das descobertas, Ida Fox, da Universidade de Washington, diz: “Células-tronco e neuropróteses poderiam mudar o cenário da medicina regenerativa no futuro. Por enquanto, as transferências nervosas são uma forma econômica de aproveitar a capacidade inata do corpo para restaurar o movimento em um membro paralisado”. Porém, ela é cautelosa. “Ainda é fundamental avançar mais nesse campo. O estudo detalhado das razões para a falha de transferência nervosa também é necessário.”
Correio Braziliense
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