quinta-feira, julho 04, 2019

Bolsonaro decide ir ao Maracanã na final da Copa América


Jair Bolsonaro parece que gostou de ser uma espécie de Emílio Médici do século XXI no quesito frequentar estádios de futebol como presidente da República — e talvez associar sua imagem com a da seleção, como fez Médici com o time tricampeão do mundo em 1970.

Depois de assistir aos jogos da seleção no Mané Garrincha (contra o Catar) e no Mineirão (contra a Argentina) e a uma partida do Flamengo também em Brasília, Bolsonaro decidiu ir domingo ao Maracanã. Acompanhado de vários ministros, vai torcer pelo Brasil na final da Copa América.

Bolsonaro parece que está gostando da exposição. No Mineirão, ousou. Foi ao gramado — e dividiu a plateia com vaias e aplausos, como aliás, divide o país.

Terá a mesma disposição de entrar em campo no Maracanã, onde Lula foi estrepitosamente vaiado, na abertura do Pan, em 2007?

Médici, no período mais barra pesada da ditadura, frequentava sobretudo o Maracanã, munido de um radinho de pilha no ouvido. Ia para torcer pelo Flamengo.

Certa vez, em 1970, ano em que o Brasil cresceu 10,4% e matou (ou fez desaparecer) 28 adversários do regime, Médici e o seu radinho foram ao Morumbi. Era convidado do tricolor paulista para assistir à inauguração definitiva do estádio. Uma partida do São Paulo contra o Porto.

Nelson Rodrigues descreveu assim a ida do ditador ao jogo, numa crônica eivada de elogios, publicada em 28 de janeiro daquele ano:

— É preciso não esquecer o que houve nas ruas de São Paulo e dentro do Morumbi. No Estádio Mário Filho, ex-Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio, e, como dizia o outro, vaia-se até mulher nua. Vi o Morumbi lotado, aplaudindo o presidente Garrastazu. Antes do jogo e depois do jogo, o aplauso das ruas. Eu queria ouvir um assobio, sentir um foco de vaia. Só palmas. E eu me perguntava: E as vaias? Onde estão as vaias? Estão espantosamente mudas.

O Globo

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