Novas conversas atribuídas ao então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, e o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, procurador Deltan Dallagnol, foram publicadas na noite desta terça-feira pelo site The Intercept.
Nos trechos, o procurador e o então juiz teriam ajeitado a condução das investigações envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) com a intenção de não afastar possível apoio que o tucano dava às investigações da operação.
Na conversa, Moro teria questionado Dallagnol sobre a necessidade de o Ministério Público Federal (MPF) ter remetido o inquérito contra FHC para São Paulo. No entendimento do então juiz a medida poderia prejudicar a boa relação, principalmente por se tratar de crimes quase prescritos. “Tem alguma coisa mesmo séria do FHC? O que vi na TV pareceu muito fraco?”, questiona Moro, querendo saber também se tratava-se do “caixa 2 e 96”.
Dallagnol responde o então juiz afirmando que “em príncípio sim, o que tem é muito fraco”; Moro volta a indagar se o caso não estaria prescrito, mas Dallagnol esclarece a ele que o possível vencimento do caso de investigação não chegou a ser avaliado pela equipe que remeteu o caso para São Paulo. O procurador completa: “Suponho que de propósito. Talvez para passar recado de imparcialidade”.
A estratégia, no entanto, é criticada por Sérgio Moro. “Ah, não sei. Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante”.
Na sequência, o The Intercept publicou uma série de trechos em que os procuradores traçam estratégias para que o PSDB fosse incluído em fases da operação, principalmente, para dar a opinião pública a mensagem de que a Lava-Jato seria imparcial, tese fortemente levantada por integrantes da esquerda e apoiadores do ex-presidente Lula.
Em uma das conversas, que segundo o site teriam ocorrido em 17 de novembro de 2015, outro procurador que integra a força-tarefa, Roberson Pozzobon,o sugeriu que em uma das fases o Instituto Lula e o Instituto Fernando Henrique Cardoso fosse alvo de ações ao mesmo tempo. “Assim ninguém poderia indevidamente criticar nossa atuação como se tivesse vies partidário”, justificou Pozzobon
Nas imagens, disponibilizadas por Pozzobon no grupo de procuradores, a informação de uma secretaria do iFHC que dava a opção de depósito direto na conta do instituto como doação ou a possibilidade de contratação de novo serviço. Ela negociava com a Brasken, braço petroquimico da Odebrecht. O serviço, no entanto, não foi especificado. Apesar disso, o episódio foi tratado como “fratura exposta” por Pozzobon.
Sérgio Moro deve ir ao Senado às 9h desta quarta-feira (19), para prestar esclarecimentos na Comissão de Constituição e Justiça da Casa. Ele vai ao local na condição de convidado.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Justiça informou que Sérgio Moro não reconhece a autenticidade das mensagens. Ele também negou interferência no caso envolvendo o ex-presidente.
“Sobre as supostas mensagens divulgadas, esclarecemos:
- O Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, não reconhece a autenticidade de supostas mensagens obtidas por meios criminosos, que podem ter sido editadas e manipuladas, e que teriam sido transmitidas há dois ou três anos.
- Nunca houve interferência no suposto caso envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi remetido diretamente pelo Supremo Tribunal Federa a outro Juízo, tendo este reconhecido a prescrição.
- A atuação do Ministro como juiz federal sempre se pautou pela aplicação correta da lei a casos de corrupção e lavagem de dinheiro.
- As conclusões da matéria veiculada pelo site Intercept sequer são autorizadas pelo próprio texto das supostas mensagens, sendo mero sensacionalismo”
Por Jornal Estado de Minas
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