A Carta da Marcha Antinuclear foi divulgada ao término do encontro que reuniu povos indígenas, Cimi e movimentos sociais. “O nosso Rio São Francisco, animais, pedras e matas merecem ser protegidos” (Ilustração: Gustavo Guarani)
Por conta da potencial ameaça de construção de uma Usina Nuclear no município de Itacuruba, sertão de Pernambuco, na divisa com Rodelas, pelo lado baiano, a Comissão de Juventude Indígena de Pernambuco (Cojipe) organizou a Marcha Antinuclear.
A ação fez parte de um encontro da Cojipe realizado na Terra Indígena Serrote dos Campos, do povo Pankará de Itacuruba, e contou com a presença de povos indígenas, Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), organizações indigenistas e grupos de pesquisas, além da rede de movimentos sociais ligados à luta antinuclear.
“O nosso Rio São Francisco – chamado por nós de OPARÁ – animais, pedras e matas merecem ser protegidos e resguardados, pois a Natureza não é objeto, não é moeda de troca e sim a mãe de todas as mães, nossa fonte de vida. A Terra é nossa mãe legítima”, diz trecho da carta divulgada ao término do encontro.
Leia na íntegra:
Carta da Marcha Antinuclear – TI Pankará Serrote dos Campos 23 a 25 de março de 2019
Por conta da potencial ameaça de construção de uma Usina Nuclear no município de Itacuruba, refletimos e reafirmamos que não vamos permitir sermos novamente enganados com a ilusão do falso progresso e com a perpetuação do genocídio dos povos tradicionais e da natureza dentro desse modelo colonizador de desenvolvimento. O nosso Rio São Francisco – chamado por nós de OPARÁ – animais, pedras e matas merecem ser protegidos e resguardados, pois a Natureza não é objeto, não é moeda de troca e sim a mãe de todas as mães, nossa fonte de vida. A Terra é nossa mãe legítima.
Já sofremos com as consequências da Barragem de Itaparica que provocou impactos na cultura e na forma de bem viver dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos como a perda e destruição dos territórios, a separação das famílias, que refletiram na atual realidade da região que é marcada por doenças; como banzo e depressão; perda de direitos, alto índice de suicídio, conflitos, pobreza e miséria. Todos esses impactos sofridos são irreparáveis!
O governo e o capitalismo nos atacam por todos os lados: querem transformar a saúde indígena em departamento, não mais demarcar nossos territórios, cometem violência policial e agora querem construir Usina Nuclear que traz problemas como poluição do solo, da água, do ar e dos alimentos; câncer e má-formação genética das crianças; mutação genéticas das espécies; superaquecimento da água do OPARÁ, risco de vazamento; escassez de solo, queimaduras, redução da imunidade e infertilidade; ou seja, uma Usina Nuclear significa a morte!
Querem continuar o genocídio dos povos e da Natureza. Não aceitamos esses desgovernos que não vão aos debates, que não respeita o povo tradicional de seu país e desrespeitam e rasgam os direitos existentes e consagrados como a necessidade de consulta prévia aberta e popular garantida pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT; o artigo 216 da Constituição Estadual de Pernambuco que proíbe a instalação de Usina Nuclear em Pernambuco; “O direito de usufruto exclusivo sobre os recursos naturais existentes do artigo 231, parágrafo segundo e os direitos do artigo 232 da Constituição Federal de 1988, a denominada Constituição Cidadã.” Chamamos os órgãos estatais competentes para cumprirem com suas funções, Ministério Público Federal, Ministérios Públicos estaduais, Defensoria Pública da União e Defensorias Públicas dos Estados. Também chamamos os organismos internacionais como a ONU, CIDH e outros.
Somos contra todos os grandes projetos de desenvolvimento que incluem o projeto da Usina Nuclear em Itacuruba, que traria muito mais consequências negativas por conta seu raio de destruição de mais de 300km em torno de Itacuruba, incluindo, entre outras, as cidades de Floresta, Cabrobó, Paulo Afonso, Rodelas, Salgueiro, Orocó, Petrolina, Águas Belas, Jatobá, Tacaratu, Petrolândia, Belém de São Francisco, Serra Talhada, Pesqueira. Somos também contra os projetos de mineração, porque matam e fazem sangrar nossa mãe Natureza sagrada como aconteceu nos crimes da Samarco, da Vale e que poderá acontecer em Itacuruba, ao invés da utilização de fontes alternativas de energia como a solar. Por conta de todos esses fatos e argumentos assinamos essa carta reafirmando nossos direitos e aproveitamos para convidar mais povos e parceiros para aderirem à nossa luta.
A Natureza é a nossa casa e na nossa casa somos nós quem mandamos!
OPARA CONTRA A MORTE NUCLEAR! OPARA É NOSSO!
Assinam essa carta:
Povo Pankará Serrote dos Campos
Povo Pankará Serrá do Arapuá
Povo Truká
Povo Xukuru do Ororubá
Povo Tuxá – Pajeú
Povo Atikum – Carnaubeira da Penha
Comunidade Quilombola Negros de Gilu
Povo Kariri-Xocó/ Alagoas
COJIPE – Comissão de Juventude Indígena de Pernambuco
Nova Cartografia Social
Associação Antinuclear Brasileira – AABA,
Comitê de Bacias Hidrográficas do São Francisco – CBHSF,
APOINME – Associação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo;
CIMI – Conselho Indigenista Missionário;
Mandato coletivo das JUNTAS;
GEPT – Grupo de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares sobre Meio Ambiente, Diversidade e Sociedade;
Comissão Antinuclear com sede na Diocese de Floresta;
Comitê Local de Itacuruba Antinuclear.
Fonte: CIMI
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