terça-feira, março 12, 2019

MP diz que PM matou Marielle por repulsa às causas dela, mas não descarta crime encomendado

Promotoras do MP em entrevista coletiva — Foto: Matheus Rodrigues/G1 Rio
Ronnie Lessa, apontado como autor dos disparos contra Marielle, e Élcio Queiroz, suspeito de dirigir o carro — Foto: Reprodução/TV Globo

O Ministério Público disse na tarde desta terça-feira (12) que a vereadora Marielle Franco foi morta por causa de uma "repulsa" do atirador Ronnie Lessa a sua atuação política em defesa de causas voltadas para as minorias. O PM reformado Ronnie foi apontado pela força-tarefa como o atirador.

Segundo as promotoras, porém, as investigações permanecem sob sigilo para identificar o mando do crime.

"O crime contra a Marielle Franco, segundo as investigações, todos os autos de investigação nos autorizam a hoje a afirmar e a colocar e a imputar aos dois denunciados foi a motivação torpe, decorrente de uma abjeta, de uma repulsa, de uma reação de Ronnie Lessa a uma atuação política de Marielle na defesa de suas causas. Nas causas de Marielle, nas causas voltadas para as minorias. Para as mulheres negras, LGBT, entre outras causas para a minorias. Isso ficou comprovado, ficou suficientemente indiciado a ponto do MP denunciar por essa motivação. Essa é uma motivação torpe, abjeta", disse Simone Sibilio , promotora de justiça e coordenadora do Gaeco.

“Essa motivação ela é decorrente da atuação política dela, mas não inviabiliza um possível mando. Ela não inviabiliza que o crime tenha sido praticado por uma paga ou promessa de recompensa. Essas causas juridicamente e faticamente não se repelem", acrescentou a promotora.

Perguntada sobre que elementos da investigação demonstram a motivação torpe para o crime, a promotora explicou que as pesquisas feitas por Ronnie Lessa "demonstram perfil absolutamente reativo a essas pessoas que se dedicam às causas das minorias".

Ainda segundo as promotoras que concederam a entrevista, ainda está sendo investigada a possibilidade de envolvimento de Ronnie com as milícias.

“Sobre o alvo Ronnie Lessa, não se tem ainda prova contundente de que ele participa de alguma organização de milicia. Mas ainda há a possível participação dele em atividade paramilitar, não em Rios das Pedras. A possibilidade do envolvimento de Ronnie com a criminalidade violenta ainda é mantida”, disse Leticia Emile Alquebres Petriz.

Policiais da Divisão de Homicídios da Polícia Civil e promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro prenderam, por volta das 4h30 desta terça-feira (12), o policial militar reformado Ronnie Lessa, de 48 anos, e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, de 46 anos.

A força-tarefa que levou à Operação Lume diz que eles participaram dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Os crimes completam um ano nesta quinta-feira (14).

“O crime contra Anderson e Fernanda Chaves, segundo a investigação, o executor Lessa atirou contra o carro que estavam a vítima. Foram 14 disparos que atingiram o veículo. A denúncia também imputa o crime mediante emboscada porque monitoraram a vítima. Eles aguardaram ela sair da Câmara, tinham informações privilegiadas e ficaram na Rua dos Inválidos até Marielle sair de lá”, acrescentou Sibilio.

As promotoras afirmaram que a operação não foi programada para coincidir com o aniversário do crime. "Investigação ficou madura. Se não tivesse madura, MP não ofereceria denúncia. Operação seria amanhã, foi antecipada em razão de rumores de que operação seria vazada", disse Simone.

Promotora explica como atirador foi identificado

Elisa Fraga, promotora de justiça e coordenadora da Coordenadoria de segurança e inteligência, explicou como o atirador foi identificado.

"Tivemos três frentes de trabalho. Uma desenvolvida na divisão de inteligência, com agentes de campo. Uma outra que trabalhamos com a ação telemática, em conjunto com agentes do Gaeco: analisamos o conteúdo que recebemos dos provedores. A terceira é através da divisão de evidências digitais e tecnologia".

"Recebemos uma imagem feita na casa das pedras, a imagem foi gerada por uma câmara de infravermelho. Para saber o biotipo do atirador, podemos traçar um perfil dele. Depois conseguimos usar uma atividade de luz e sombra para identificar que não tinha ninguém no banco da frente, onde tinha sombra é um vácuo de imagem", acrescentou.

"Nessa imagem obtida, havia um braço direito do atirador. Fizemos a análise e com a comparação de outras imagens do Ronnie Lessa, observamos uma compatibilidade do réu com o atirador", disse ainda Elisa.

Por Matheus Rodrigues, G1 Rio

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