Corpo de Vavá, irmão de Lula, é enterrado em São Bernardo do Campo — Foto: Glauco Araújo/G1
Lideranças do PT afirmaram nesta quarta-feira (30) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não irá para São Bernardo do Campo se encontrar com familiares após a morte do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá. O corpo de Vavá foi enterrado no ABC paulista pouco depois da divulgação da decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, de autorizar a saída de Lula, no início da tarde desta quarta.
O ex-ministro Gilberto Carvalho, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, lamentaram que a decisão saiu tardiamente e afirmaram que o presidente não irá a São Bernardo do Campo. O advogado de Lula, Manoel Caetano Ferreira, em entrevista concedida em frente à Superintendência da Polícia Federal (PF), onde Lula está preso desde abril, disse que o ex-presidente não se submeteria a essa decisão avaliada como tardia. "Seria um vexame", afirmou.
Na tarde de terça-feira, a defesa de Lula pediu à Justiça a liberação dele para ir ao velório de Vavá, que tinha morrido pela manhã. Segundo os advogados do ex-presidente, o artigo 120 da Lei de Execução fala que "os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto e os presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão".
O presidente da República em exercício, Hamilton Mourão, afirmou que autorizar o ex-presidente a ir ao velório do irmão é uma "questão humanitária".
Na madrugada desta quarta-feira, o desembargador de plantão do TRF-4, Leandro Paulsen, negou recurso da defesa de Lula. Os advogados do ex-presidente recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) ainda na madrugada para Lula poder ir ao velório, que estava previsto para as 13h. No início da tarde, Dias Toffoli, o STF, autorizou a saída de Lula para encontrar os familiares em uma unidade militar na região do ABC.
'Não faz sentido mais'
"É lamentável que a decisão só tenha saído a essa hora. É totalmente inviável. Não era pra vir ver o corpo do Vavá, era para falar com a família. O Lula com muita dignidade agradeceu, mas não vem, não faz sentido mais", disse Gilberto Carvalho.
"Agora, o importante da sentença do ministro Toffoli, nós somos gratos a ele nesse sentido. Ele faz uma crítica correta à crueldade da juíza, ao cinismo da Polícia Federal que alegou razões logísticas e de segurança para impedir um direito do presidente Lula. Contra Lula não há limite, não vamos nos iludir. Eles farão de tudo para quebrar a espinha dorsal do presidente."
“Da última vez que estive com Lula ele demonstrava preocupação com o Vavá. Pela condição de saúde dele, Vavá não podia ir, mas o Lula podia vir”, disse Gleisi Hoffmann, presidente do PT. "Foi uma falta de humanidade, já não digo nem mais perseguição política. É uma perseguição pessoal. Falta de direito humano de convivência com a família, pelo menos com a convivência com a dor. Ele falou mais cedo que não ‘posso fazer nada, o que posso fazer é chorar e rezar."
Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula, afirmou: "Eu acho mais um absurdo. O Lula é tratado com excepcionalidade pela Justiça, de forma seletiva. Então, infelizmente, esse é o enfrentamento que nós temos que fazer: mostrar que o Lula, em muitos direitos, ele está sendo prejudicado, em muitas discussões ele está sendo prejudicado porque sempre há um julgamento político sobre as atitudes dele".
Segundo o filho de Vavá, o que ocorreu, trata-se de uma "piada". "Eu preciso dar risada. A lei disse que pode vir. No regime militar, minha vó morreu e foi enterrado nesse cemitério, e ele veio. Agora, que vivemos em uma democracia, a Justiça não permite por 'N' motivos. Criaram uma série de motivos. É uma piada", disse Edson Inácio da Silva, filho de Vavá.
Questionado se a família vai visitar Lula em Curitiba, Edson disse que eles o visitam regularmente.
"A família vai [visitar Lula em Curitiba], as pessoas vão, os primos vão, meus tios vão, a gente tem feito regularmente, mas não tem sentido tirar ele de lá, do meu modo de ver para encontrar com a família, se o principal ponto acabou sendo sepultado".
Velório e enterro
Vavá morreu nesta terça-feira (29) após lutar nos últimos anos contra um câncer. Ele tinha 79 anos. O corpo foi velado durante a manhã no Cemitério Paulicéia, em São Bernardo do Campo. Em seguida, foi levado para uma capela no mesmo cemitério, onde foi realizada uma cerimônia religiosa com parentes, amigos e integrantes do PT e do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Estiveram na cerimônia a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, o vereador Eduardo Suplicy, os ex-prefeitos Fernando Haddad (São Paulo) e Luiz Marinho (São Bernardo), Frei Betto, entre outros.
Decisão de Toffoli
A defesa de Lula conseguiu no Supremo Tribunal Federal (STF) a autorização para que o ex-presidente se encontrasse com familiares em São Bernardo. O ex-presidente está preso desde abril do ano passado na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
A decisão de liberar Lula para ir à cidade do ABC foi proferida pelo presidente da Corte, Dias Toffoli, de plantão no recesso do Judiciário. Ela saiu pouco antes de o corpo de Vavá ser sepultado.
Toffoli assegurou o direito de Lula de se encontrar com os familiares em Unidade Militar em São Bernardo, com a possibilidade de que o corpo de Vavá fosse levado até lá.
"Por essas razões, concedo ordem de habeas corpus de ofício para, na forma da lei, assegurar, ao requerente Luiz Inácio Lula da Silva, o direito de se encontrar exclusivamente com os seus familiares, na data de hoje, em Unidade Militar na Região, inclusive com a possibilidade do corpo do de cujos ser levado à referida unidade militar, a critério da família", decidiu o presidente do Supremo.
Por Glauco Araújo, G1 SP
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