Fraldas descartáveis demoram cerca de 600 anos para se decompor
A Agência Nacional de Segurança Sanitária da Alimentação, do Meio Ambiente e do Trabalho (Anses), da França, publicou nesta quarta-feira (23) um relatório alarmante sobre a presença de substâncias tóxicas em fraldas descartáveis para bebês. Nas amostras, foi encontrado até glifosato, o agrotóxico mais usado no mundo, fabricado pela Monsanto e apontado como causador de câncer no seu uso contínuo na agricultura. O estudo constatou que, em diversos casos, as marcas ultrapassam os limites máximos autorizados de elementos químicos, na fabricação de um produto para um público tão sensível quanto os bebês.
Essa é a primeira vez no mundo que uma agência nacional realiza uma avaliação desta amplitude sobre as fraldas descartáveis. Entre as substâncias encontradas, há desreguladores hormonais e resíduos químicos que podem estar na origem de distúrbios no sistema reprodutivo e até na formação de câncer. O jornal Le Monde indica que 60 elementos tóxicos foram identificados.
Algumas substâncias são acrescentadas intencionalmente na fabricação, como os perfumes, que podem causar alergias. A agência recomenda a completa eliminação dos aromas.
Outras param nas fraldas por estarem presentes nas matérias-primas utilizadas na produção, ou ainda por resultarem do processo produtivo em si, como o PCB-DL (um derivado do cloro), furanos (altamente inflamáveis e tóxicos), dioxinas, potencialmente cancerígenas, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), ou ainda hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP), resultado da combustão a altas temperaturas e que são habitualmente encontrados na fumaça do cigarro ou na queima de diesel.
O relatório ressalta que o abuso dessas substâncias, encontradas com frequência além dos limites permitidos, é particularmente preocupante. No total, 23 marcas disponíveis no mercado francês foram analisadas, entre 2016 e 2018, e “em condições reais de uso”. O relatório não cita nenhuma marca especificamente. O texto explica que, na presença de urina, os químicos “entram em contato direto e prolongado com a pele dos bebês”.
Bebês usam 4 mil fraldas em 3 anos
Diante dos riscos dos elementos químicos, a Anses recomenda aos fabricantes “reduzir ou eliminar ao máximo a presença” deles nas fraldas descartáveis, além de pedir mais fiscalização dos produtos disponíveis no mercado. A agência também solicita uma regulamentação mais rígida quanto ao uso dessas substâncias perigosas à saúde.
O alerta é preocupante porque, em média, um bebê francês usa 4 mil fraldas nos primeiros três anos de vida. Um recém-nascido tem as fraldas trocadas cerca de oito vezes por dia. O uso de fraldas laváveis de tecido é considerado mais seguro para a saúde do bebê, mas atualmente apenas 5% deles utilizam essa alternativa ao modelo descartável, na França.
O estudo é resultado de um pedido conjunto feito por distintos organismos de saúde, consumo, mercado, repressão de fraudes e prevenção de riscos, depois de um alerta preliminar publicado por uma organização de defesa dos consumidores, em 2017.
Fabricantes são convocados pelo governo
Depois da publicação do relatório, os ministros franceses da Transição Ecológica, François de Rugy, da Saúde, Agnès Buzyn, e da Economia, Bruno Le Maire, divulgaram um comunicado comum no qual pedem a “aplicação imediata” das recomendações da Anses. O governo convocou uma reunião de emergência com os fabricantes e distribuidores de fraldas para que eles se comprometam, em um prazo de 15 dias, a eliminar as substâncias tóxicas de seus produtos.
Conforme o Le Monde, a Direção Geral da Concorrência, do Consumo e da Repressão de Fraudes vai reforçar os mecanismos de fiscalização para garantir que haverá mudanças, e um primeiro balanço sobre o tema deve ser feito em seis meses.
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