"É uma atividade sustentável", garante Luiz Alves de Siqueira, 49, presidente da associação. "Quanto mais se produzir, fica mais fácil a venda". Um dos motivos para a escolha da opção da atividade numa região tão seca foi, segundo o gestor, a diversidade de plantas da caatinga já que as abelhas são responsáveis pela polinização das plantas. "A natureza nos presenteia com uma florada de diversas plantas, e com isso as abelhas são favorecidas", explica Luiz Siqueira, que é um dos produtores de mel de Carnaíba. O município tem potencial para produzir 30 toneladas anualmente. "Se todos os associados praticassem a apicultura, teríamos cerca de 51 toneladas/ano", acredita o dirigente da AAPIC. A produção no ano passado teve uma baixa, creditada por Luiz Siqueira às condições climáticas, pois "o inverno parou de vez".
De 2007 para cá, quando foi fundada, a associação vem dando passos largos na conscientização dos associados e da população quanto à rentabilidade da apicultura. Já existe um selo, o Vozes da Seca, e falta apenas certificação para que os produtos à base de mel da AAPIC chegue ao mercado consumidor. Informamelmente, já são vendidos em feiras e exposições na região e no estado. O projeto é amplo e envolve até mesmo a capacitação de agricultores para produção de derivados à base do mel de abelha. A associação mantém uma casa do mel com maquinário que beneficia toda produção dos sócios e tem também uma escola para capacitação na área da apicultura.
Projeto evita o êxodo rural
"Como é rentável, a apicultura é uma forma de manter o homem fixo à terra", analisa Luiz Siqueira, presidente da Associação dos Apicultores de Carnaíba e Região (AAPIC). Foi o que aconteceu com o agricultor Manoel Alves da Silva, 54, morador do Sítio Tamboril, na zona rural do município. Manoel pôde diversificar suas atividades na roça com a adesão à apicultura sem precisar ir muito longe. Antes vivia de plantar apenas milho e feijão. Atualmente, mantém 24 colmeias com estimativa de produção de mel em torno de 700 quilos, este ano, ao lado da casa onde mora. "Estou esperando o inverno chegar para trazer uma nova florada", revela o agricultor, ansioso para ter uma renda extra com a produção de mel.
Na verdade, a apicultura em Carnaíba está em evidência agora mas é uma operação antiga. Na família do funcionário público Olavo Damião Torres, 63, tudo começou com seu pai José Damião Torres. Morando na área urbana da cidade, ele cria a abelha indígena, tida como social e que tem baixa agressividade e produz entre um a dois quilos de mel por ano. Esse mel é tido como mais valioso. São 32 colmeias mantidas no quintal de casa. No ano passado, ele tirou cerca de 30 litros, cada um sendo vendido a R$ 40. No Sítio Poço Grande, Olavo mantém o apiário com a criação da abelha italiana, produzindo cerca de uma tonelada de mel por ano.
O engenheiro agrônomo José Anchieta Alves de Queiroz, 51, acabou tornando-se referência no município no quesito apicultura. Fez um curso na área em 1990, identificou-se com o ofício e possui cerca de 60 colmeias, divididas em três apiários distribuídos pelos sítios Riacho do Peixe e Serrote Verde, em Carnaíba, e Matinha, em Afogados da Ingazeira. Em 2018, Anchieta Alves tirou aproximadamente 40 quilos por caixa, ficando a produção total em torno de 1.800 quilos. "É um investimento garantido pois traz retorno", pontua o produtor. "Para mim gera uma renda mensal em torno de R$ 2 mil". Na visão do engenheiro, a apicultura está ainda engatinhando em Carnaíba. "Tem campo para crescer mas falta incentivo. Não temos, por exemplo, a assistência técnica que deveríamos ter", expõe. "Mas, no geral, estou satisfeito".
O próprio presidente da associação é dono de um apiário contendo com 45 colmeias, no meio da caatinga no Sítio Tamboril, aproximadamente 12 quilômetros do Centro. Luiz já era apicultor e enfrentou um período de desemprego na vida. "Foram as abelhas que me deram o respaldo para continuar sobrevivendo", relembra. Hoje, o faturamento do dirigente chega a aproximadamente R$ 3 mil mensais.
Por: Diário de Pernambuco
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