sábado, dezembro 08, 2018

Refém diz que tiro que matou a filha durante confronto em Milagres partiu da polícia

“Fiquei com a minha filha dentro do carro já morrendo, com o sangue fervendo na goela, e eu pedindo socorro, gritando, mas não apareceu ninguém. Quando meu menino se deitou no chão que a polícia começou a chegar nele, ele disse ‘Vocês mataram minha irmã!’

A mãe de Francisca Edneide da Cruz Santos, de 49 anos, uma das seis reféns mortas durante uma tentativa de roubo a duas agências bancárias no município de Milagres, no Sul do Ceará, afirmou que viu a filha morrer nos seus braços. Ela afirmou que foi mantida refém pelos suspeitos dentro do carro junto com a família e que o disparo que matou Edneide partiu do lado policial durante o tiroteio com os bandidos. A Secretaria da Segurança Pública do Ceará afirmou que oito pessoas foram presas, mas não comentou sobre a ação policial que terminou com a morte dos reféns.

No total, 14 pessoas morreram, sendo seis reféns e oito são suspeitos de participação da quadrilha. A tentativa de roubo aconteceu na madrugada de sexta-feira, no Centro de Milagres. De acordo com a Secretaria de Segurança, cinco criminosos foram baleados nas proximidades das agências e morreram. Outros dois suspeitos morreram no hospital e um oitavo envolvido durante confronto com policias na cidade de Barro.

Até este sábado (8), a Perícia Forense do Estado identificou oito mortos, sendo os seis reféns e dois envolvidos. Dentre as vítimas também estavam cinco pessoas de uma mesma família de Serra Talhada (PE) e um de uma família natutal de Brejo Santo. Dois corpos foram velados em Serra Talhada e demais em São José do Belmonte.

A outra refém morta foi Edneide da Cruz, que foi atingida dentro do carro em que estava junto com a mãe e os criminosos. A mãe da vítima relatou que o filho dela e um dos bandidos afirmaram que o tiro que vitimou Edneide partiu da polícia.

“Fiquei com a minha filha dentro do carro já morrendo, com o sangue fervendo na goela, e eu pedindo socorro, gritando, mas não apareceu ninguém. Quando meu menino se deitou no chão que a polícia começou a chegar nele, ele disse ‘Vocês mataram minha irmã!’, e o policial fez assim ”, disse agricultora Maria Larilda Rodrigues, replicando o gesto do agente de segurança com as mãos na cabeça.

Três horas por ajudaA agricultora disse que Edneide morava em São Paulo e aproveitou uma licença do trabalho para vir ao Ceará e passar dois meses com os pais. A família foi feita refém pelos bandidos após retornar do aeroporto. “Fomos buscar ela no aeroporto, e no caminho de volta, perto de Brejo Santo, a gente viu um caminhão atravessado na estrada, com um carro de cada lado da pista, e um movimento daqueles moços mascarados. Aí pensei ‘Senhor, tá tendo um assalto, tem misericórdia!", relembra a agricultora.

Segundo Maria Larilda, os suspeitos pararam o carro, renderam e separaram os quatro membros da família- pai, mãe e dois filhos- em dois veículos diferentes. A agricultora seguiu com a filha e dois homens em uma caminhonete, enquanto o marido e o filho ficaram no automóvel pertencente ao grupo de assaltantes.

Os dois os carros seguiram em direção à agência do Banco do Brasil de Milagres. De acordo com Larilda, o suspeitos tentavam tranquilizar a família, dizendo que “não queriam celular, dinheiro nem carro, nem maltratar”, apenas as levariam “numa missão”.
“Os bandidos voltaram com a gente, já perto da pista, e começou o tiroteio. Senti arder, tinha farelo de pólvora, mas não vi que tinha pegado tiro na minha filha. Aí o bandido que tava do lado dela disse: ‘(A polícia) Quebrou minhas pernas e matou a mulher!’ Olhei pra ela e vi o sangue descendo, o cabelo no rosto”, relatou a mulher.

De acordo com Larilda, após o tiroteio, os suspeitos correram para um matagal, e o bandido que fez a filha de escudo pediu ajuda aos demais, que não voltaram para buscá-lo. Ela conta ainda que passou mais de três horas pedindo ajuda para a filha na beira da estrada.


“É muito difícil. Isso que você tá vendo em mim é a força de Deus, porque você ver uma filha sua morrer em seus braços lavada de sangue e passar até três horas na beira de uma pista pedindo socorro e não aparecer ninguém”, relembrou.


O sepultamento de Francisca Edneide ocorre em Brejo Santo, quando a família dela chegar de São Paulo. A mulher deixou marido, dois filhos e uma neta.

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