Enquanto a equipe de transição se movimenta em torno dos novos nomes para ministérios a serem anunciados, o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), terá em Brasília a semana mais social desde a eleição. Pela primeira vez após o resultado das urnas, ele virá com a mulher, a brasiliense Michelle de Paula, para encontros e reuniões que incluem o casamento do ministro da transição, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), futuro chefe da Casa Civil da Presidência da República. Interlocutores do futuro chefe de Estado afirmam que novas indicações para ministérios deverão sair nesta semana, só não se sabe ao certo quantas. O número total deve ser de, no máximo, 18 pastas — o atual governo tem 29. Até agora, 11 ministros foram definidos. Amanhã, o presidente eleito deve visitar a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, durante a tarde.
Além da visita à PGR, Bolsonaro manterá uma agenda de encontros na capital nesta semana. Ainda na terça, ele se reunirá com o ministro da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário; com o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Raimundo Carreiro; e com Lorenzoni. Também está prevista uma audiência com representantes das santas casas, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde está sediado o gabinete de transição.
A futura primeira-dama deve viajar em um voo diferente do marido, na parte da tarde. É a primeira vez que ela vem ao Distrito Federal após a campanha eleitoral. Nascida em Ceilândia, onde moram seus pais, Michelle vai visitar as instalações da Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência da República. É possível que também visite o Palácio da Alvorada.
Após tomar posse, Bolsonaro decide se mantém sua família na casa de campo da Presidência ou se vai se acomodar no Alvorada. A opinião de Michelle será fundamental nesta decisão. Também na terça, o presidente eleito e a primeira-dama devem ir ao casamento do ministro Lorenzoni em uma cerimônia reservada, em Brasília. No resto da semana, até o momento, estão previstos apenas despachos internos no CCBB. No local, ele avalia, junto com a equipe de transição, os novos nomes para os ministérios ainda sem definição.
Professor de Ciência Política da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Felippo Cerqueira acredita que as definições sobre os ministérios serão resolvidas tão logo o presidente eleito assimile a repercussão das decisões tomadas até agora. “Aas escolhas condizem com o discurso de campanha de Bolsonaro, que prometeu mudanças”.
A equipe ministerial de Bolsonaro possui raízes no centro-sul do país, onde o capitão reformado obteve a maior parte dos 57 milhões de votos que o elegeram no segundo turno. De São Paulo, vieram Paulo Guedes (Economia) e Roberto Campos Neto (Banco Central). Moro (Justiça), do Paraná, e Lorenzoni, do Rio Grande do Sul.
Os generais Augusto Heleno (futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e o diplomata Ernesto Araújo, escolhido como chanceler, passaram a vida entre o Rio e Brasília. O astronauta Marcos Pontes, futuro ministro da Ciência e Tecnologia, vive na capital paulista. A lista conta ainda com a deputada Tereza Cristina (DEM-RS), na Agricultura.
“Os ministros mais fortes serão Guedes, Moro e o general Heleno. Ao concentrar a ação do governo nesses três nomes, a possibilidade de êxito fica mais evidente”, opina Antonio José Barbosa, professor de história política contemporânea da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, “não haverá tanta ruptura, principalmente em termos econômicos, entre o atual e o próximo governo”.
Bolsonaro defendeu ontem a, Tereza Cristina. De acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo, ela ofereceu incentivos fiscais à JBS ao mesmo tempo em que ocupava uma secretaria no Mato Grosso do Sul. “Também sou réu no Supremo, e daí?”, indagou. E completou: “Ela goza de toda nossa confiança”.
Críticas ao Mais Médicos
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, voltou a criticar o que ele chama de “escravidão de médicos cubanos”. Ele comentou o assunto ao ser abordado pela imprensa durante um campeonato de jiu-jitsu realizado ontem na Arena Carioca 1, no Parque Olímpico do Rio de Janeiro. O futuro chefe do Executivo foi questionado sobre a decisão de Cuba de retirar os médicos do Brasil e encerrar sua participação no programa Mais Médicos.
Bolsonaro disse que, em algumas cidades, médicos brasileiros foram demitidos para que profissionais estrangeiros fossem contratados. “Não podemos admitir escravos cubanos no Brasil. Não podemos continuar alimentando a ditadura cubana. Se nós dermos o tratamento adequado, isso vai ser resolvido. E tem mais, tem prefeitura que mandou embora seu médico para pegar o cubano e quer ficar livre da responsabilidade”, acusou, sem citar em quais cidades isso teria ocorrido.
Lacunas
Ao ser questionado sobre quais medidas vai tomar para preencher as lacunas que serão deixadas nos hospitais pelos médicos cubanos, ele respondeu que ainda não é presidente, mas que irá decidir sobre o tema quando tomar posse. “Não podemos ser coniventes com o trabalho análogo à escravidão. É uma questão humanitária. Eu não sou presidente. Em janeiro, nós vamos apresentar o remédio para isso. Se bem que o governo Temer já está trabalhando nesse sentido. É justo confiscar 70% ou 80% do salário de uma pessoa? Não é justo”, completou.
Bolsonaro também comentou o fato de a equipe técnica do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter apontado diversas suspeitas de irregularidades na prestação de contas de sua campanha e disse que todas os pontos apontados pelo Tribunal foram explicados. “Estão todas rebatidas. Tem umas que são falhas do próprio TSE, já foram as razões de defesa, não tem problema, não. É a campanha mais pobre da história do Brasil”, disse o presidente eleito.
Esporte
Além das polêmicas envolvendo o Mais Médicos, Bolsonaro também afirmou que o esporte terá destaque em seu governo. O futuro chefe do Executivo prometeu dar mais atenção ao setor durante sua gestão. “Eu sou formado em educação física também. Já fui atleta das Forças Armadas. Sempre fui apaixonado pelo esporte, que é uma linguagem universal. A questão da segurança, a questão do respeito e o desenvolvimento de outros atributos. Também se cria uma hierarquia. O esporte é bem-vindo e com toda certeza terá um espaço muito especial no nosso governo”, disse.
Ele destacou ainda que não tem uma decisão sobre a eventual incorporação do Ministério do Esporte pela pasta da Educação, medida que vem sendo cogitada. “Estamos definindo ainda. Se eu falo uma coisa agora aqui, lá na frente vão dizer que eu estou recuando. Então, está sendo definido e lá na frente vamos anunciar o mapa dos ministérios”, afirmou.
Próximos passos
Tendo escolhido 11 ministros, Bolsonaro indicou que seu governo pode ter até 18 pastas. A prioridade agora é preencher postos estratégicos, que recebem recursos mais elevados, como Educação e Saúde, ou que podem ter grande evidência, caso da área ambiental.
>> Meio ambiente
O PP pretende levar ao presidente o nome de Ana Pellini, secretária do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, para ocupar o cargo.
>> Educação
Viviane Senna, que atualmente preside o Instituto Ayrton Senna e desenvolve vários projetos na área, conversou na semana passada com Onyx Lorenzoni, mas nega ter sido convidada para o cargo. Stavros Xanthopoylos, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), atuou como consultor na campanha e também é cotado para ser ministro.
>> Saúde
O deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) está entre os nomes considerados. Pesa contra ele o fato de ser do mesmo partido de outros dois ministros já anunciados: Lorenzoni e Tereza Cristina que, além disso, também é de seu estado.
Por: Correio Braziliense
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