Em quase duas horas de entrevista ao apresentador José Luis Datena, da Band, Bolsonaro falou de tudo um pouco: criticou o Enem por questões ligadas às minorias, como LGBTs, defendeu que alunos gravem professores em sala de aula — mesmo com uma decisão da Justiça e declarações contrárias à prática de instituições, como a OAB — e aprovou a ideia do governador eleito do Rio, Wilson Witzel (PSC), de usar drones com armas acopladas e atiradores de elite para “botar um ponto final nisso daí”, em referência à violência em comunidades do estado.
O capitão do Exército voltou a repetir que aprovar o excludente de ilicitude, para que policiais e militares das Forças Armadas sejam investigados e não punidos, caso atirem e matem uma pessoa durante operações, pode diminuir a violência no Rio e em todo o país.
Questionado sobre qual será o papel do futuro ministro da Justiça e da Segurança Pública, o juiz federal Sérgio Moro, Bolsonaro reafirmou que ele terá “carta branca”, mas que quando houver discordâncias em bandeiras históricas do bolsonarismo, como a flexibilização do Estatuto do Desarmamento e a redução da maioridade penal, eles terão que chegar a um “meio-termo”.
DRONES COM ARMAS E ATIRADORES DE ELITE
“Eu acredito que se você fizer isso com drones aqui (uso em situações de guerra), você tem que ter o apoio da legislação. Eu sou a favor. Você não tem outro caminho.
Se você está em um confronto, em vez de dar, por exemplo, milhares de tiros para uma região que você pode atirar, é melhor o snipper (atirador de elite). Você tem que ter isso daí, porque o outro cara que está do outro lado, afrontando, com um fuzil na mão, está atirando à vontade para o lado de cá. Você tem que botar um ponto final nisso daí”.
ENEM
“Não tenho implicância com LGBT, mas uma questão de prova que entra na linguagem secreta de gays e travestis não mede conhecimento nenhum. Temos que fazer com que o Enem cobre conhecimentos úteis para a sociedade. Ninguém quer acabar com o Enem, mas tem que cobrar ali o que realmente tem a ver com a história e cultura do Brasil, não com uma questão específica LGBT. Parece que há uma supervalorização de quem nasceu assim”.
GRAVAÇÃO DE PROFESSORES EM SALA DE AULA
“Professor tem que se orgulhar e não ficar preocupado. Mau professor é que se preocupa com isso aí”.
SUPERLOTAÇÃO EM PRESÍDIOS
“Na questão das cadeias, eu tenho dito que se você tem recurso você amplia. Ninguém quer torturar ninguém dentro da cadeia. Agora, se não tiver recursos, amontoa. É melhor o cara lá dentro entre os seus colegas do que aqui fora. Você não pode deixar o cara aqui fora estuprando, roubando, sequestrando. Se não tiver recurso, lamento, você vai ter que amontoar esse cara lá. Aí a resposta do Supremo, algo que já foi decidido, um ano e pouco, dois anos atrás, que um presidiário e seu advogado entraram na Justiça porque ele estava dormindo de forma desacomodada no presídio”.
REFORMA DA PREVIDÊNCIA
“Eu acho que, com o que está aí (projeto de Reforma da Previdência), é possível fazer acertos de forma gradual e atingir o mesmo objetivo sem colocar em risco os trabalhadores e sem levar pânico à sociedade. Nós vamos fazer alguma reforma. Se não conseguir aprovar alguma coisa esse ano, vamos propor alguma reforma ano que vem. Logo no começo (de 2019)”.
IDADE MÍNIMA PARA SE APOSENTAR
“O grande passo, no meu entender, neste ano, se for possível, é passar para 61 anos o serviço público para o homem e 56 para mulher. E majorar também um ano nas demais carreiras. Acredito que seja um bom começo para a gente entrar no ano que vem já tendo algo de concreto para nos ajudar na economia”.
RECRIAÇÃO DA CPMF
“Não vamos recriar a CPFM. Queremos desburocratizar, desregulamentar, fazer comércio com o mundo todo sem o viés ideológico. Nós queremos até diminuir a carga tributária, que alguns falam que é loucura. Até porque, hoje em dia, se você diminui imposto — e é também o pensamento do Paulo Guedes — lógico, diminuir com responsabilidade, você cria emprego no Brasil. Criando emprego, aumenta a base de contribuição”.
CASO CESARE BATTISTI
“Ele (ex-presidente Lula) decidiu, no apagar das luzes, dar status de refugiado a um terrorista italiano chamado Cesare Battisti. O que disse é que tudo o que for legal da minha parte nós faremos para devolver este terrorista para a Itália. Voltará para a Itália, sim, imediatamente. Volta para lá. Vai depender do Supremo Tribunal Federal esta decisão”.
CRÍTICAS A FHC
“Essa máscara caiu com a minha chegada como candidato e agora eleito, mostrando que eles pertenciam ao mesmo time. Até mesmo durante a campanha, em dois momentos, FH disse que, caso o PSDB não fosse para o segundo turno, ele apoiaria o PT contra a minha pessoa. E ele só não externou depois, no segundo turno, porque o partido fechou questão. O partido perdeu muito. Alguns dizem que o PSDB acabou. Eu acho que não acabou ainda. Se tivesse apoiado o PT, com certeza tinha acabado”.
EXCLUDENTE DE ILICITUDE
“Quando você entra em confronto com gente armada, de fuzil ou não, com toda certeza vai haver morte. E não podemos, após haver mortes, simplesmente, colocar o jovem soldado com 21 anos ou o coronel com 45 de idade no banco dos réus. Você não pode fazer isso. Tem que dar carta branca para ele se defender em confronto, dar garantia de que ele não vai ser processado. Se nós conseguirmos no parlamento, nós conseguiremos, sim, inibir a entrada de armas, munições e drogas pela fronteira”.
NOVOS MINISTROS
“Estamos namorando quatro ministros, por enquanto. A gente só divulga depois de toda a equipe tomar conhecimento. Estamos no forno com Relações Exteriores, Meio Ambiente, Agricultura e Infraestrutura. Está bastante avançado isso aí. Mas não podemos revelar os nomes”.
ENCONTRO COM TEMER AMANHÃ
Vai ser um encontro protocolar, uma visita. Pouca coisa vai ser discutida com ele. O mais importante é que ele está colaborando com a equipe de transição com números, afinal de contas, o Brasil continua. Alguma coisa que porventura a gente possa fazer agora nós pediremos ao presidente Michel Temer. Seja evitando pautas-bomba, vetando algum ou outro dispositivo, fazendo com o que o Brasil continue andando”.
MULHERES FORA DO TIME DE TRANSIÇÃO
O gabinete de transição de Jair Bolsonaro começou a tomar forma ontem, com a nomeação de 27 indicados, todos homens, para o grupo, que atuará sob a coordenação do ministro extraordinário Onyx Lorenzoni, que será o chefe da Casa Civil do futuro governo. Com 50 cargos disponíveis, o presidente eleito terá, neste primeiro momento, uma equipe técnica composta por juristas, economistas, militares e assessores parlamentares.
O principal desafio do grupo de transição será estabelecer um canal de diálogo com os quadros técnicos do governo do presidente Michel Temer (MDB) para analisar os dados da máquina federal. Em um rápido pronunciamento à imprensa ontem, em frente ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a sede da transição em Brasília, Lorenzoni anunciou que o gabinete trabalhará dividido em dez grupos temáticos.
Com salários de R$ 2,5 mil a R$ 16,5 mil, a equipe de transição nomeada ontem tem sete militares — dois do Exército, três da Aeronáutica e dois do Corpo de Bombeiros — e, pelo menos, seis economistas, além de assessores e conselheiros da confiança de Lorenzoni. Os futuros ministros general Augusto Heleno (Defesa), Paulo Guedes (Economia) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) também estão na equipe. Outro que faz parte do grupo de transição é Marcos Aurélio Carvalho, um dos proprietários da AM4, agência que cuidou da estratégia de comunicação da campanha presidencial de Jair Bolsonaro, com remuneração de R$ 9,9 mil.
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