Flávio e a esposa costumavam pegar um barco no Marco Zeropara visitar o Parque das Esculturas regularmente, sempre nos finais de semana, e depois comer agulha frita em um bar de Brasília Teimosa. Os familiares afirmaram que eles fazem o trajeto há pelo menos dois anos e nunca foram alvo de criminosos.
De acordo com a polícia, Arthur Felipe Lima de Lira, de 20 anos, e Matheus Ribeiro Vieira de Barros, 18, confessaram a autoria do latrocínio. O disparo teria sido efetuado por Matheus, mas os dois já eram investigados por ligação com uma quadrilha envolvida em tráfico de drogas e homicídios e que seria responsável por pelo menos outros três assassinatos ocorridos na área também neste mês.
Os suspeitos contaram aos policiais que estavam no local consumindo maconha quando viram o casal e uma adolescente com bicicletas que custam entre R$ 2,5 e R$ 3,2 mil. Matheus teria dado a ideia do assalto, já que a dupla já teria um receptador certo para os produtos dos roubos que praticassem.
De acordo com o gestor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Guilherme Caraciolo, a dupla responderá por latrocínio consumado, que tem pena prevista de 20 a 30 anos. Eles foram autuados em flagrante pelo crime e passarão por audiência de custódia nesta segunda-feira (1º) no Fórum do Recife. "Um deles confessa a participação no roubo e o outro confessa que atirou na vítima e infelizmente tirou a vida dela. Eles são criminosos habituais, inclusive com participação em tráfico de drogas. As investigações estão em andamento e, se confirmadas, eles vão responder por outros crimes também fora esses", afirmou o delegado.
Caraciolo destacou que, caso seja confirmada a participação do receptador, eles poderão responder ainda por associação criminosa. "Houve um informe de que existia uma terceira pessoa que encomendava os crimes. Essa pessoa seria o receptador que pegava os objetos e distribuía no mercado."
Vítima pediu que não atirasse
A polícia ainda não sabe o que levou o criminoso a atirar no bacharel em Direito e empresário. As duas testemunhas que estavam com a vítima e outras pessoas que estavam no local na hora do crime afirmaram que não houve nenhum tipo de reação da vítima. "Muito pelo contrário, a vítima pediu que ele não tirasse. Não sei se ele se desagradou porque a esposa não estava com celular, não sei qual o motivo dele ter feito isso ou se foi só por maldade mesmo, mas não houve reação. Parentes da vítima relatam inclusive que era uma pessoa muito tranquila e em hipótese alguma reagiria a um assalto desses", observou o delegado.
Escuridão e insegurança no Parque das Esculturas
Algumas horas após o latrocínio do ciclista que visitava o Parque das Esculturas, a Folha de Pernambuco esteve no local e constatou que inúmeras pessoas aguardavam barcos para retornar ao Marco Zero. Mesmo após o início da noite, algumas se arriscavam permanecendo no local, que quase não tem iluminação pública.
"São feitos dois tipos de trabalho. Tem prevenção e repressão. Dentro da prevenção, Brasília Teimosa tem uma viatura da Patrulha do Bairro, com dois homens, um trio de motocicleta e tem a Rocam (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas), que é uma unidade especializada e que nos dá esse suporte também. Em ação de repressão, entra mais uma viatura com três homens e o Grupo de Apoio Tático Itinerante (Gati)", detalhou.
Crime foi "um ponto fora da curva"
Para o comandante do 19º BPM, o latrocínio registrado neste domingo (30) foi o que a polícia chama de "um ponto fora da curva". A expressão, segundo ele, é usada para se referir a algo anormal dentro do que costuma ocorrer. "A família mesmo diz que eles faziam esses passeios frequentemente e nunca foram assaltados. Agora é como dizemos na nossa linguagem, um ponto fora da curva. Hoje foi o dia. E nós estávamos lá com um efetivo grande na carreata (pró-Bolsonaro), que desloquei todo pra lá de imediato. Fechamos o perímetro e com as informações e expertise, chegamos aos elementos. A gente só não conseguiu devolver a vida dele. Porque isso aí pertence a Deus."
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