domingo, outubro 14, 2018

América Latina é a região com maior taxa de cesáreas do mundo


No Brasil, a maioria das cesáreas se dá em gestações de baixo risco, com 54,4% de cesáreas feitas em mulheres de nível educacional elevado, frente a 19,4% de nível mais baixo. 

A América Latina é a região com maior taxa de césareas (44,3% dos nascimentos) do mundo, e o Brasil é o segundo país que mais realiza esta cirurgia, segundo um estudo que alerta para a "epidemia" mundial deste parto, recomendado apenas em casos específicos.

O número de nascimentos por cesárea no planeta praticamente duplicou em 15 anos, de 12% para 21% entre 2000 e 2015, e superou os 40% em 15 países, a maioria da América Latina e do Caribe, indica o relatório publicado nesta sexta-feira na revista Lancet.

Atualmente, estima-se entre 10% e 15% a proporção de cesáreas necessárias por motivos médicos. Contudo, 60% dos 169 países estudados estão acima dessa faixa, e 25%, abaixo, de acordo com o estudo baseado em dados da Organização Mundial da Saúde e da Unicef.


"O forte aumento de cesáreas - especialmente entre as classes abastadas e sem motivos médicos - representam um problema devido aos riscos associados para a mãe e o bebê", destaca a coordenadora do informe, Marleen Temmermann, da Universidade Aga Khan, no Quênia, e da Universidade de Gante, na Bélgica.

Embora as cesáreas salvem vidas e seu acesso deva ser facilitados "para as mulheres de regiões pobres", este tipo de parto apresenta também seus risco. Por isso, não se deve "abusar" deles, segundo Temmermann.

República Dominicana e Brasil na liderança

As disparidades entre regiões são impressionante, vão de 4,1% dos partos na África subsaariana a 44,3% na América Latina e no Caribe (frente a 32,3% em 2000).

Na Ásia do Sul, as cesáreas aumentaram mais rapidamente que em qualquer outra região, a uma média de 6% ao ano, disparando de 7,2% dos nascimentos em 200 para 18,1% em 2015.

Na América da Norte, a taxa foi de 32%, e na Europa ocidental, de 26,9%.

Por países, a República Dominicana é líder mundial neste tipo de nascimentos (58,1%), seguida do Brasil (55,5%).

Entre os 15 primeiros também se destacam os seguintes países latinos: Venezuela (52,4%), Chile (46%), Colômbia (45,9%), Paraguai (45,9%), Equador (45,5%), México (40,7%) e Cuba (40,4%).

À revista Lancet, o Congresso Mundial de Ginecologia e Obstetrícia, reunido no Brasil, atribui a "epidemia" de cesáreas à existência de equipes médicas menos competentes para acompanhar os partos normais difíceis, à comodidade de programar o dia do parto, aos maiores benefícios econômicos para as clínicas, entre outros.

Gestações de baixo risco no Brasil

O estudo ainda constata uma ligação estreita entre as cirurgias e a faixa de renda e de educação das mulheres.

No Brasil, por exemplo, onde a maioria das cesáreas se dá em gestações de baixo risco, 54,4% deste tipo de partos são feitos em mulheres de nível educacional elevado, frente a 19,4% de nível mais baixo.

As cesáreas são indispensáveis quando se apresentam complicações, como hemorragias, sofrimento fetal ou posição anormal do bebê, destaca o estudo.

Mas também representam riscos como uma recuperação mais complicada para a mãe e problemas nos partos seguintes (gravidez ectópica, desenvolvimento anormal da placenta, entre outros).

O estudo ainda destaca que estão surgindo provas de que os bebês nascidos por cesárea não se expõem aos mesmos processos hormonais, físicos nem bacterianos que os nascidos por parto normal - o que pode afetar sua saúde.

A fim de limitar o excesso de cesáreas, o Congresso Mundial de Ginecologia recomenda por exemplo aplicar uma tarifa única para todos os partos, obrigar hospitais a publicar suas estatísticas, informar melhores as mulheres e melhorar a formação para partos normais.

Correio Braziliense

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