O voto feminino é maioria no país, mas não se direciona a eleger alguém do mesmo sexo. Nas últimas semanas, porém, grupos estão se organizando para tentar não escolher alguém de extrema direita para ocupar a vaga no Palácio do Planalto.
Mais da metade do eleitorado brasileiro, as mulheres têm nas mãos a capacidade de mudar os rumos das eleições de 2018 e, cada vez mais, assumem essa posição de destaque. Em um cenário em que 52,2% dos votos partem delas, a rejeição ou a união feminina em direção a uma candidatura pode fazer muita diferença nos resultados do pleito, avaliam especialistas consultadas pelo Correio. A opinião dos 77,3 milhões de mulheres aptas a votar terá um papel fundamental no desenrolar de uma situação totalmente indefinida nas urnas brasileiras.
Essa mobilização leva a outro fato inédito: nunca houve tanta diferença entre votos femininos e masculinos em um candidato. Pelos dados mais recentes do Datafolha, divulgados ontem, a intenção de votos do líder dos levantamentos, Jair Bolsonaro (PSL), chegou a 26%. No universo feminino, ele chega a 18% dos votos. Entre os homens, o percentual é de 35%. “Ele (Bolsonaro) faz declarações preconceituosas em relação a mulheres, não em relação aos homens. Ofende esse eleitorado, que, portanto, não gosta tanto dele”, resume a cientista política Lara Mesquita, pesquisadora do Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (Cepesp/FGV).
Maria Aparecida, 45 anos, que trabalha com serviços gerais no Distrito Federal, é um exemplo disso. Para ela, “um candidato com ideias extremistas e respostas simples é inviável”, porque não se propõe a resolver os problemas na base. Mãe de três filhas, Maria contou que gosta de acompanhar a propaganda eleitoral para discutir a escolha com a família, mas ainda está indecisa quanto ao voto. “O que a gente observa é que essas mulheres são contra a ideia de resolver os problemas na força, por meio da violência ou do armamento”, afirmou a cientista política Flávia Millena Biroli Tokarski, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol-UnB).
Além do crescimento do debate público em torno de pautas feministas nos últimos anos, que fez com que grupos de mulheres se unissem contra uma candidatura de extrema direita, outros fatores levam à mobilização contra Bolsonaro. A percepção das especialistas é de que o movimento não é apenas de feministas, esquerdistas ou com o objetivo de eleger mulheres — tanto que não se nota um número grande do voto feminino em Marina Silva (Rede), uma das duas candidatas na corrida eleitoral (a outra é Vera Lúcia, do PSTU). Na verdade, entre a pesquisa Datafolha de 22 de agosto e a divulgada ontem, nos votos estimulados, a preferência da ex-ministra do Meio Ambiente caiu de 19% para 9% entre elas.
Voto útil
Segundo a cientista política Hannah Maruci Aflalo, da Universidade de São Paulo (USP), a explicação para que grupos organizados femininos não escolham alguém do próprio sexo seria o voto útil.
A estudante Alyssa Volpini, 27 anos, apesar de defender mais votos femininos, considera o cenário para a Presidência inviável e mais delicado. “No caso do presidente, acho que o fundamental é analisar as alianças que o candidato ou candidata tem, por mais que eu ache muito importante a representatividade. Para os outros cargos, faço questão de votar em mulheres”, explicou. Ela não votará em Marina, apesar de ser mulher, por considerar o plano de governo menos atraente que os de outros candidatos.
Por isso, os votos dessas mulheres se dividem entre vários candidatos. O que, inclusive, explica por que Alckmin (10% x 9%) e João Amoêdo (4% x 3%) têm mais voto femininos, de acordo com a pesquisa Datafolha. Como não há nenhuma mulher declaradamente direitista no pleito e as políticas econômicas de Alckmin e Amoêdo atraem mais o público de centro, eles são a opção de muitas delas.
Correio Braziliense/Diário de Pernambuco
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