Pernambuco enfrenta crise hídrica há vários anos, o que aponta para o esgotamento dos recursos naturais cada vez mais cedo - Crédito: Alfeu Tavares/Folha de Pernambuco
Em apenas 212 dias de 2018, os 7,4 bilhões de habitantes do Planeta Terra esgotaram os recursos naturais de comida, água, fibra, solo e madeira disponíveis para os 365 dias do ano. Por esta razão, 1º de agosto é considerado pela ONG Global Footprint Network o Dia da Sobrecarga da Terra, ou seja, a partir desta quarta-feira (1º), a humanidade estará em dívida com a natureza. Em Pernambuco, o esgotamento desses recursos cobra essa conta há vários anos com a crise hídrica.
As mudanças climáticas deverão afetar vários setores nas próximas décadas. Entre os impactos previstos em Pernambuco está a perda de até 64,9% de suas terras agricultáveis - aquelas que são aradas ou cultivadas regularmente - até 2050. O dado é apontado por uma pesquisa de 2009 - última válida - da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O biólogo e diretor-presidente do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan), Severino Ribeiro, alertou que são necessárias mudanças imediatas. “Não é mais apenas aquele negócio de ‘a árvore é bonita’ não. Estamos registrando perdas econômicas, desafios de saúde pública atrelados às mudanças climáticas e perdas na agricultura. Ou seja, o momento chegou”, destacou.
Para o biólogo, a sociedade precisa ser conscientizada e formada desde os primeiros anos de vida para que seja esboçado um cenário de melhorias. “Ou começamos a entender que é necessário ter um bom comportamento perante ao meio ambiente ou a persistência da vida humana estará cada vez mais comprometida. Não é ficção científica, é ciência. As pessoas sabem que têm de economizar água, pois estão passando meses em racionamento. A dinâmica de vida começou a ser afetada e a tendência é piorar”, pontua.
Neste ano, segundo a Global Footprint Network, seriam necessárias 1,7 Terra para garantir todos os recursos usados pelos habitantes do planeta anualmente, de acordo com a média global. O Brasil, que se posiciona como um dos maiores credores ecológicos do planeta - com biocapacidade excedendo a pegada ecológica -, chegou à sobrecarga em 19 de julho.
“O que falta é as pessoas se conscientizarem do básico: é preciso consumir menos água e menos plástico, por exemplo. É clichê, mas nem isso é cumprido”, acrescenta o biólogo. “Talvez a conscientização seja o maior desafio para reduzir os impactos do consumo humano no planeta. Precisamos criar grandes processos educacionais e de conscientização em escala e quando falamos disso, estamos falando de uma mudança de paradigmas sociais”.
O débito com a natureza resulta ainda de medidas como sobrepesca, exploração excessiva de florestas e da emissão de mais dióxido de carbono na atmosfera do que os ecossistemas podem absorver. Este desperdício de recursos naturais varia de acordo com os países. O recorde mundial é do Catar, onde recursos do ano foram esgotados no dia 9 de fevereiro, enquanto o Vietnã alcançará a data apenas em 21 de dezembro.
Em 2017 o overshoot day global aconteceu em 4 de agosto e em 1970 a data era 29 de dezembro. Como não há um planeta B para habitar por enquanto, se fazem necessárias medidas que retardem cada vez mais esta data, como proposto pela campanha#MoveTheDate, promovida pela ONG.
Folha de Pernambuco
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