Em declarações públicas recentes, o senhor gerou desconforto ao dizer que não entende de economia. Não é um problema para um candidato que mira o Planalto?
Não entendo mesmo. Não entendo de medicina, de agricultura, não entendo um montão de coisa. Acho que temos que ter bom senso para governar. Foi o que falei para a equipe do Paulo Guedes (economista responsável pelo programa econômico do presidenciável). O que a gente quer: inflação baixa, dólar compatível para quem importa e exporta, taxa de juros um pouco mais baixa e não aumentar mais impostos. Só pedi coisa boa.
Mas a economia vai ser um eixo relevante da campanha…
Esse é o bê-á-bá, precisa saber mais do que isso? Estou indo para o vestibular ou para campanha política?
Por exemplo, qual seria a sua política de combate à inflação?
É com ele (Paulo Guedes). Mas acho que tem que manter a meta que está aí, de 4,5%. Agora, é importante dizer que a inflação está muito mais baixa, não pelo trabalho da equipe econômica, mas sim pelo desemprego e empobrecimento da população.
O senhor é favorável à autonomia ou até mesmo a independência do Banco Central?
O Goldf… Como é o nome dele? (um assessor diz o nome de Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central). A ideia do Paulo Guedes é mantê-lo. Outro dia, o Paulo deu uma declaração importante: devemos manter alguns integrantes da equipe econômica atual. Até alertei: “Paulo, não fala em manter alguns da equipe, fala o nome dos caras, para não me vincular com o Temer.” Daqui a pouco, a imprensa vai dizer que apoio o governo Temer.
Qual a sua proposta de reforma tributária?
O deputado Luiz Carlos Hauly está bastante avançado em um projeto. Não vi ainda, mas as informações que tenho são de que, sendo aprovada, vai trazer um grande alívio. O Marcos Cintra (economista) tem fixação em imposto único. Eu, como leigo, acho que é legal, mas também uma utopia. Se conseguir diminuir 15 ou 20 impostos, já seria excelente. É igual à reforma da Previdência: vamos devagar, que a gente chega lá.
Taxação de grandes fortunas?
Sou contra.
E taxar dividendos?
Quem aplica no mercado financeiro, é isso? Aí eu vou para o Posto Ipiranga. Perguntar para o Paulo Guedes. Não tenho vergonha de falar isso não.
Tudo o senhor joga para o Paulo Guedes?
Sobre isso aí (taxar dividendos), eu vou ouvir a opinião dele.
O senhor é contra aumentar imposto, mas pode assumir um governo com problema de caixa. Onde vai cortar?
Se para salvar o governo, tem que quebrar os trabalhadores, vamos morrer juntos abraçados. Ninguém aguenta mais pagar imposto. Podemos também diminuir a quantidade de ministérios. Fundir Agricultura e Meio Ambiente. Transformar o Ministério da Cultura só em uma secretaria.
A negociação durante meses com o PR, liderado pelo Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão, não contraria seu discurso contra as práticas da velha política?
Minha negociação era apenas com o senador Magno Malta. O Valdemar abriu para que eu colocasse quem eu quisesse de vice: do meu partido, do dele ou até mesmo um terceiro. Ele coligaria conosco desde que nós fechássemos aliança no Distrito Federal, Rio e São Paulo. Mas acabou, PR já morreu.
A aliança do centrão em torno de Geraldo Alckmin preocupa o senhor?
O centrão diz que vai bater mesmo o martelo lá para o dia 4 de agosto. Podem acontecer problemas entre eles, e alguém vir para o nosso lado. O atrativo que eu tenho é a popularidade. Mas estou muito tranquilo. Se der zebra, eu vou para a praia. Não estou preocupado com isso.
O senhor quer mesmo ser presidente da República?
Não estou com obsessão, mas sigo em frente. Acabei de chegar de uma viagem barra pesada. Sozinho, por Goiânia e Rio Verde (GO).
Está cansado da pré-campanha?
Eu digo que sou “imbroxável”, mas estou meio broxa sim.
O senhor vai participar dos debates?
Vou, mas sem ficar preso à agenda, no joguinho de discutir besteira. Vou dar um tranco de dez segundos e falar o que interessa. Não adianta querer me amarrar numa pauta. Vou responder o que eu quero.
O senhor imagina algum adversário caso passe para o segundo turno?
Acho que não enfrento ninguém. A gente ganha no primeiro turno. O Alckmin acabou de me ajudar com a aliança com o centrão. Vou mandar um beijo para ele. Um beijo hétero.
Ele tem tentado provocar o senhor nas redes sociais. Vai responder?
Não vou entrar na pilha dele. Ele perde em casa (São Paulo) para mim em toda pesquisa. Ele tem que se explicar, crescer um pouquinho mais.
Marina e Ciro também já alfinetaram o senhor publicamente…
Não sou psiquiatra para responder o Ciro. Já a Marina me chamou de hiena em entrevista a um programa de rádio. Imagina se fosse o inverso. A hiena é um animal que só faz amor uma vez por ano, come porcaria o tempo todo…
Sabe quanto a sua pré-campanha gastou até agora?
Não. Fico em casa de amigos. São caras que me convidam, alguns parlamentares. Há uma briga de foice para me levar a qualquer estado do Brasil. Minhas viagens são com o dinheiro do partido. Antes, viajava, em média, uma vez e meia por mês. Agora é quase toda semana.
Tem empresário ajudando o senhor no empréstimo de jatinhos ou na produção de vídeos?
Já tive oferecimento de jatinho e helicóptero e não aceitei. Sobre os vídeos, tem gente que faz no amor e manda para cá. As mídias sociais, sou eu que posto.
Há páginas no Facebook impulsionando postagens favoráveis ao senhor, além de outdoors espalhados pelo Brasil. É tudo espontâneo?
Eu não tenho nada a ver com isso. Não conheço 99% desses caras. Deve ser gente que tem dinheiro. Tem vaquinha também. Por que está acontecendo tudo isso aí? Porque sou diferente dos outros.
O senhor propôs aumentar o número de ministros do Supremo, medida tomada no passado pela ditadura militar no Brasil e por Hugo Chávez na Venezuela. Não é autoritário?
Não. Tem que propor emenda à Constituição, e os nomes seriam acolhidos pelo Senado. Eu indicaria dez. Ninguém em sã consciência acha que o Supremo, em especial a Segunda Turma, está fazendo um trabalho à luz da Constituição.
Pelos cálculos, o senhor poderá indicar dois ministros do STF se for eleito. Por que quer indicar dez?
Você tem que ter maioria independente no Supremo.
Seria dependente do senhor essa maioria, certo?
Não. Nós sabemos como são indicados os ministros. Em especial, quando começou o mensalão, o critério foi mais politizado e ideologizado. E o Supremo está numa situação de querer legislar. O Conselho Nacional de Justiça também, e o Executivo e Legislativo não tomam providência.
O senhor defende pontos fora da lei brasileira, como uma espécie de carta branca para policiais matarem em operações nas favelas. Por quê?
A lei permite só para o lado do crime. Imagina um soldado na rua em missão da GLO (Garantia da Lei e da Ordem). É surpreendido, tem troca de tiros e acaba morrendo um inocente. É justo levar esse garoto para uma Auditoria Militar para uma condenação de 12 a 30 anos de cadeia? Ele tem que ser responsabilizado por tudo isso? Estamos vivendo em guerra, e nela os dois lados atiram. Eu topo manter como está se os especialistas e a imprensa participarem com os policiais de uma operação e mostrarem como têm que fazer.
Em entrevista para a revista Playboy, em 2011, o senhor disse a seguinte frase: “Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”. Voltaria atrás?
Negativo. Não foi do nada. Naquela época, o governo estava com um programa para combater a homofobia e apareceu o kit gay (forma como Bolsonaro chama uma cartilha que seria distribuída pelo Ministério da Educação para debater sexualidade no ambiente escolar). Minhas frases foram importantíssimas para combater a questão de ensinar sexo para criancinha a partir de seis anos de idade.
O senhor acha que é possível ensinar a ser gay?
Não é ensinar, mas estimular. Se você passa um filme na escola de dois meninos se beijando, o Joãozinho no intervalo pode dar uma bitoquinha no Pedrinho. O garoto, até uma certa fase, imita.
Um garoto não poder ver um beijo gay mas pode fazer gestos como se estivesse com armas? (Bolsonaro foi fotografado simulando o uso de uma pistola)
Pelo amor de Deus, você quer comparar beijo gay com isso? Essa foto foi tirada de maneira totalmente espontânea, o pai autorizou e tudo. Ontem fiz mais uma. Chega de frescura, quando eu era criança brincava de arma o tempo todo. Nas favelas, tem gente de fuzil por todo o lado. Um filho vê o pai policial armado todo dia. Não vejo maldade nenhuma nisso. As crianças do Brasil têm que ver as armas como algo ligado à responsabilidade e de proteção à vida.
Caso eleito, haverá preocupação de gênero na formação da sua equipe?
Não vai ter essa preocupação de afro, mulher ou gay. Quero gente que dê conta do recado. Pode ter 14 mulheres até.
O senhor repetiria hoje a declaração de que a deputada Maria do Rosário “não merece ser estuprada, por ser muito feia”?
Exemplo: estou jogando futebol contigo. Você me dá um carrinho por trás, eu xingo você e dou uma cotovelada. Chama-se ato reverso. Estávamos discutindo o caso Champinha. Ela perdeu os argumentos, me chamou de estuprador, e eu respondi no reflexo.
O movimento feminista reagiu fortemente às suas falas…
Cada um faz o que quer da sua vida. Não estou preocupado com movimento de mulher com braço cabeludo. Não interessa. Quer depilar, depila; não quer, não depila.
O movimento feminista não é sobre depilação.
Mas o que o movimento feminista quer? Não sei. Não estou preocupado com isso.
O Globo
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