Coração do PM foi encontrado a mais de um km do corpo; na sexta ele esteve no enterro de outro PM
"O que fizeram com ele não se faz nem com um gado de abate". A frase é de um amigo do policial militar Gustavo Gonzaga da Silva, 44 anos, assassinado na madrugada da última sexta-feira (8) por traficantes no bairro da Santa Cruz, em Salvador.
Gonzaga estava voltando para casa depois do trabalho e dava carona para um amigo de infância, identificado como 'Jai', quando foi abordado por três traficantes. Os autores do crime foram identificados como Choquito, Keka e Leno.
O PM foi torturado e teve o corpo mutilado antes de ser morto pelos criminosos. Gonzaga ainda recebeu vários tiros na cabeça. "Eu nunca vi isso. Tem gente que tá há mais de 30 anos na polícia e nunca viu alguém ser morto dessa forma", diz um colega do policial.
Os autores do crime chegaram a arrancar o coração da vítima e deixaram o órgão na região do Nordeste de Amaralina, em uma localidade conhecida como Boqueirão, a mais de 1 km onde Gonzaga foi morto.
'Jai', que estava com Gonzaga, teria fugido no momento do crime e ainda não apareceu para prestar depoimento. "Era uma grande amigo dele, a família toda conhece. Ele que tava junto. Ele tem que falar", diz um familiar do policial.
"O cara sumiu. Abriu um buraco no chão e desapareceu", reclama um amigo da vítima, que não aponta Jai como participante do crime, mas quer que ele preste depoimento. "Está tudo muito estranho". Mesmo questionando o sumiço, amigos e policiais militares ouvidos pelo CORREIO acreditam que Jai não participou do crime.
Na manhã de sábado (9), a polícia matou um suspeito de participar do assassinato do PM. Identificado como 'Budigo', foi encontrado na Rua dos Posseiros com revólver, munições e drogas e atirou contra a polícia. Em seguida, teria ocorrido uma troca de tiros, ele acabou atingido e não resistiu.
Mortes
Muito abalada, Kelly, de 23 anos, a filha mais velha de Gonzaga, se limitou a dizer que o pai era "um bom policial". A irmã de 15 anos está em choque.
Gonzaga foi o segundo policial morto em pouco mais de 24 horas em Salvador. O também cabo da PM José Luiz da Hora, 51 anos, foi norto na noite da última quinta-feira (7) no Subúrbio Ferroviário. No final da tarde da última sexta, Gonzaga compareceu ao enterro do colega, no cemitério Bosque da Paz.
O tenente-coronel Moreno, comandante do Batalhão de Polícia de Guarda da Polícia Militar (BG), esteve ao lado dele no enterro na sexta, muito emocionado, e neste domingo disse que estava de luto pela morte dos dois policiais.
“O policial militar jura defender a sociedade colocando em risco a própria vida. Temos que manter serenidade, ficar tristes e enlutados. O que esperar? Foi uma barbaridade, uma execução que nem nos tempos medievais acontecia".
"Já virou rotina. A gente nem pensa nisso senão não sai de casa, não vive. Mas cada colega que tem a vida ceifada é como se tirassem um membro do nosso corpo", diz um PM amigo da vítima.
Velório
O sepultamento de Gonzaga ocorreu na manhã deste domingo (10), no cemitério Campo Santo, e foi marcado pelo sentimento de comoção de amigos, familiares e integrantes da Polícia Militar, que seguem escandalizados com as circunstâncias da morte.
"Duas mortes tristes e trágicas. As duas causaram muita comoção no seio da tropa. Essa última foi ainda mais triste por causa dos requintes de crueldade”, lamentou o coronel Paulo de Tarso Alonso Uzêda, do Comando de Operações da PM-Ba.
Mais de 300 pessoas compareceram ao velório de Gonzaga. As filhas levaram a farda do pai no velório. “Ele não merecia ter morrido assim. Até usuário [de drogas] ele aconselhava e levava pra recuperação, fez isso com uns quatro conhecidos dele. Perdi um colega. Mais um”, disse outro amigo do PM.
Amigos e policiais militares contaram que, apesar de aconselhado, ele não pensava em sair do bairro onde cresceu. “Ele dizia que mal nenhum iria acontecer porque ele conhecia a todos, mesmo os que desviaram do caminho. E agora acontece essa tragédia", comentou coronel Uzêda.
Correio BA
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