Ação desenvolvida por uma rede de pesquisadores nacional no Moxotó de Pernambuco é considerada promissora pela Assembleia Legislativa no Ceará. A rede é coordenada por Francis Lacerda do Laboratório de Mudança Climática do IPA (Foto: Divulgação IPA/Ecolume)
"Nossos estudos e trabalho de campo têm sido desenvolvidos na escola de Agroecologia Serta, em Ibimirim/PE. Lá, buscamos demonstrar que, com os efeitos das mudanças do clima globais sobre a região semiárida, a biodiversidade nativa da Caatinga, já adaptada naturalmente ao clima semiárido, e em combinação com s utilização da energia solar, existem potencialidades para se encontrar soluções para os desafios hídricos, alimentar e energético", garante Francis. Desse modo, a rede já está planejando a instalação do primeiro sistema agrovoltaico da América do Sul para a produção de alimentos vegetais orgânicos e animal, no Sertão. A Ecolume é financiada pelo CNPq desde o início deste ano.
O sistema, que usa painéis fotovoltaicos transformando a radiação solar em energia elétrica, também faz a captação e bombeamento de água. E ainda potencializa o gerenciamento hídrico eficaz e eficiente através do modelo de produção de plantas e peixes por aquaponia (um sistema simples de engenharia por tubos e tanques, otimizando o uso e reuso da água). "Portanto, tal modelo evidencia a abundância oriunda do sol, onde a temperatura tende a aumentar e a chuva a diminuir com as mudanças climáticas, e demonstra que é possível aumentar a produção de água, desde que pelo seu uso racional e implantação de tecnologias sociais", conta Francis.
Entre as plantas, o replantio de espécies da Caatinga (recaatingamento) com fins alimentícios, medicinais e outros fins socioeconômicos também têm sido estimuladas pela Ecolume. Uma delas é o Umbu, que começa a entrar em fase de extinção diante do desmatamento - cenário que tem contribuído para a ampliação do processo de desertificação no Sertão. Os alunos do Serta inclusive já criaram o grupo Guardiões das Caatinga, transformando as suas casas em viveiros abertos das plantas nativas. O IPA, em Ibimirim/PE, também está empenhado em produzir 3 mil mudas de umbu. E, no final deste ano, deve ocorrer as primeiras ações de recaatingamento da espécie.
O sistema agrovoltaico Ecolume/Serta estará sendo usado ainda para o recaatingamento, demonstrando potencial socioeconômico e ambiental das plantas nativas. "E com o solo coberto por vegetação da Caatinga, esta que pode ser consumida, o processo de desertificação pode ser mitigado, da mesma forma que contribui para manter o solo úmido, pois as plantas retêm a água em sua volta e contribuem para aumentar a umidade do solo e do ar através do seu processo de evapotranspiração, contribuindo para regulação do microclima local diante deste ciclo hidrológico natural da planta-água-solo e a atmosfera", explica Francis, justificando a metáfora plantar água pelo replantio da Caatinga, sendo irrigada com o sol pela radiação solar através das placas fotovoltaicas.
Por estas inovações e potencialidades, a rede Ecolume foi selecionada pela Assembleia Legislativa do Ceará como uma das experiências exitosas dentro do Bioma para participar da 2ª Conferência da Caatinga. O evento, que começa na terça (19) e vai até quinta (21), é realizado em parceria com o governo cearense, Ibama, DNOCS e outros órgãos públicos e privados. O tema do evento é Desenvolvimento Humano e Sustentabilidade, tendo como missão trazer à luz as graves questões que preocupam governos e sociedade civil organizada em torno do bioma, com ênfase na crise hídrica, na sustentabilidade e no processo agressivo de desertificação, tendo como eixo central o Ser Humano.
Assessoria de Imprensa Ecolume/IPA
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