A esquerda ainda comemora o fato de os debates sobre a privatização da Petrobras terem chegado a todas as classes sociais, mas, por outro lado, preocupa-se com as manifestações pró-intervenção militar. Já as lideranças que apoiaram o governo de Michel Temer estão insones com a perda visível de autoridade do presidente e com o derretimento do seu capital político – o que ainda restava. Por outro lado, as mesmas apostam que o governo estadual ficou na berlinda nesse período. Foi muito criticado por usuários do transporte coletivo quando prometeu que 100% da frota de ônibus circularia nas ruas normalmente na greve, o que não aconteceu.
O governador Paulo Câmara (PSB) é o personagem político que mais se destacou no auge da crise, na avaliação do cientista político Ernani Carvalho, professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco, onde atua como pró-reitor de pesquisa e pós-graduação. Mas Ernani acredita que as imagens negativas ou positivas dos candidatos a governador só vão se consolidar, no estado, a partir do momento que se formarem os palanques eleitorais nacionais. Ele lembrou que a paralisação gerou reações tão atípicas que, mesmo sendo ministro extraordinário de Segurança Pública do governo Michel Temer, Raul Jungmann (PPS) também ganhou visibilidade positiva ao longo dos protestos.
No tocante a Paulo Câmara, o cientista político citou alguns fatos positivos, entre eles, as críticas incisivas contra a política de preços da Petrobras, a publicação do decreto de situação de emergência que garantiu os serviços essenciais do estado e o diálogo com a cadeia produtiva, que alegou muitas perdas na paralisação. Para o professor, o governador apresentou desenvoltura quando se aliou a outros governadores do Nordeste e fez um discurso enfático contra Temer, que pediu aos estados para reduzir o Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviço (ICMS). “Não vamos, de maneira nenhuma, abrir mão de receita de saúde, de educação e de segurança, para garantir lucro da Petrobras”, disse o governador na semana passada.
Em relação a Jungmman, por sua vez, Ernani Carvalho se referiu ao fato de o ministro ter se destacado como principal interlocutor do governo durante a greve. “Depois da crise do Rio de Janeiro, ele de certa forma ganhou um status especial junto ao governo, não só na segurança pública, mas com os caminhoneiros. Ele tem um acesso importante e vai ser um forte aliado na disputa”, apostou.
Adversário de Paulo Câmara e pré-candidato a governador, o senador Armando Monteiro Neto (PTB) tem uma avaliação crítica sobre a postura do socialista durante a crise que, para ele, não ofereceu qualquer contrapartida para os caminhoneiros ou aos consumidores, como baixar o ICMS. Armando discordou que a imagem de Paulo tenha se fortalecido e frisou que houve um desgaste generalizado da classe política, o que será um desafio nas eleições.
“Em Pernambuco, não identifico elementos que tenha um impacto específico, um impacto diferente. O que há, sim, é um mal humor da sociedade, seja no Brasil ou em Pernambuco. Há uma grande indisposição contra a classe política e não acho, sinceramente, que o governo Paulo Câmara vai capitalizar a greve. Pelo contrário. Acho que pode ser que haja uma maior indisposição com os governantes em todos os níveis”, ponderou o parlamentar, cujos aliados se preocupam com o fato de ele não ter conseguido, neste período, ser a voz do empresariado e do setor produtivo. Armando é ligado à Confederação Nacional das Indústrias e à Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco.
Para o senador Humberto Costa, que foi aliado de Armando nas eleições de 2016, mas agora é um dos defensores da aproximação do PT com Paulo Câmara, o palanque da oposição estadual está fragilizado. Sem citar nomes, ele disse que a chapa “Pernambuco quer mudar”, composta por lideranças que deram suporte a Michel Temer, como o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) e os deputados Mendonça Filho e Bruno Araújo (PSDB), vai absorver todo o desgaste do governo federal.
“Tem dois tipos de impacto causados pela greve. Primeiro, o impacto geral, que é muito forte em cima de Temer e deve se transmitir para os defensores dele em Pernambuco. Segundo, foi confirmado o que a gente já dizia há muito tempo. Que o golpe contra Dilma iria levar o Brasil a uma encruzilhada muito grave”, observou Humberto. O petista sofre críticas de correligionários por manter o discurso do “golpe” e defender uma aliança com Paulo, que defendeu o impeachment de Dilma.
Por Diário de Pernambuco
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