sábado, maio 05, 2018

Números de assaltos e explosões em bancos crescem em ano eleitoral


Sempre que o período eleitoral se aproxima, as notícias sobre assaltos a banco ganham mais atenção. Muita gente tem a certeza absoluta de que o produto desses crimes terá como destino o financiamento de campanhas eleitorais, enquanto que outros já possuem dúvidas. Mas, o fato é que sim, nos meses que antecedem o início das campanhas políticas o número de assaltos a agências e explosões a caixas eletrônicos aumentam. Ao menos em Alagoas.

Dados dos Sindicatos dos Bancários de Alagoas, contabilizados desde 2013, apontam que nos doze meses que antecedem às convenções partidárias, a média de assaltos a agências bancárias, explosões de caixas eletrônicos e tentativas desse tipo de crime são maiores que nos doze meses após as convenções partidárias, mesmo com a redução significativa, no cômputo geral, desses crimes.

De julho de 2013 a junho de 2014, o Sindicato registrou 67 assaltos, ataques a caixas eletrônicos e tentativas, numa média de 5,58 ocorrências por mês. Nos doze meses após as convenções de 2014, a média de ocorrências foi de 2,5 por mês, totalizando 30.

Já no período entre julho de 2015 e junho de 2016, foram 33 assaltos, ataques e tentativas, média de 2,75/mês; nos 12 meses após as convenções de 2016 – primeira eleição sem o financiamento empresarial de campanha –, foram 24 ocorrências, com média de duas mensais.

De julho de 2017 a abril deste ano, segundo os dados do Sindicato dos Bancários, foram 20 assaltos, explosões e tentativas, numa média de duas por mês. Porém, o detalhe é que este intervalo é de somente 10 meses.

Se os números parecem apontar relação direta entre os assaltos a banco e explosões em caixas eletrônicos e as eleições, as autoridades na área da segurança pública não atestam tal ligação. Nem mesmo o presidente do Sindicato dos Bancários, Márcio dos Anjos, crava que o dinheiro roubado é destinado ao financiamento de campanhas políticas.

“Seria leviano dizer que há ligação direta com a questão eleitoral. O que eu posso dizer – e afirmar –, mesmo não sendo nenhum estudo científico, é que temos estatísticas onde os números nos mostram, com clareza, que nos anos eleitorais acontecem mais assaltos nas agências bancárias que nos demais anos. É coincidência? Tem algo a ver com o processo [eleitoral]? Jamais afirmaria uma coisa dessa, até porque quem tem de dizer é a polícia. O que temos são dados que provam que, coincidência ou não, acontecem mais assaltos nas agências no período eleitoral”, comenta o sindicalista em entrevista à reportagem da Tribuna Independente.
Secretário de Segurança crava: “Assaltos não têm ligação com a política”

O secretário de Estado da Segurança Pública, coronel Lima Júnior, afirmou à reportagem da Tribuna Independente que os ataques às agências bancárias de Alagoas não têm relação alguma com as eleições.

“Temos realizado um grande trabalho de combate à explosão de banco aqui no estado. A primeira coisa que tem de ficar claro é que, até o presente momento, não há nenhuma ligação entre explosão de banco com período eleitoral na nossa gestão”, crava o titular da Secretaria de Segurança Pública (SSP).

Lima Junior detalhou algumas ocorrências para mostrar a falta de relação entre ataques a agências bancárias com o período eleitoral. Segundo ele, são quadrilhas que vivem de explodir bancos e sem nenhuma ligação política.

“Quando a gente prende a quadrilha se faz levantamento de quem são as pessoas. Sempre tem o trabalho de inteligência por trás, então não tem esse link até o momento. Daqui a pouco, a gente pode prender uma quadrilha que seja ligada a alguém, mas até o agora isso não ocorreu. Falo de forma tranquila e segura por saber o perfil das pessoas que nós prendemos. São quadrilhas compostas de elementos de vários estados e que atuam em vários estados. Não tem essa ligação. A maioria deles é de bandido com histórico, muitos de facções”.

Ainda de acordo com o secretário, todas as quadrilhas que ocasionaram explosões a bancos em Alagoas neste ano foram presas ou mortas em confronto.

DADOS DA SSP

A SSP não registra as tentativas de assaltos às agências bancárias, nem os crimes praticados sem uso de explosivos, com reféns. Mesmo assim, seus dados apontam que nos doze meses anteriores às convenções eleitorais, as ocorrências são maiores que os períodos após os encontros partidários.

Segundo os números apresentados à reportagem pela SSP, entre julho de 2015 e junho de 2016 ocorreram 23 arrombamentos com explosivos a agências bancárias (22) e a caixas eletrônicos (1) em Alagoas. Média de 1,9 por mês.

Já entre julho de 2017 a abril deste ano, a SSP registrou 15 ocorrências, sendo oito arrombamentos de agências bancárias e sete a caixas eletrônicos. Média mensal de 1,5, com apenas dez meses.

No pós-convenções, do fornecido pela Secretaria, foram 18 ocorrências entre julho de 2016 e junho de 2017, isso representa 1,5 ocorrência por mês. Dezessete deles foram arrombamentos de agências bancárias.

Segundo Lima Júnior, os números de prisões realizadas nos últimos dois anos e meio explicam a redução que esse tipo de crime vem tendo no estado. Ele ressalta o fato de Alagoas ter reduzido esse tipo de crime enquanto estados vizinhos como Bahia, Pernambuco e Sergipe tiveram crescimento “estúpido”. Entretanto, o secretário destaca que o aumento não se deu em ano de convenções partidárias e eleições.

“Aqui fizemos o dever de casa e não deixamos passar em branco o fortalecimento das inteligências das polícias e da integração com as inteligências de outros estados”, comenta Lima Júnior.

Ele também pontua o “fim das fronteiras” entre os estados para a execução de ações policiais.

“Isso foi muito importante e foi um grande passo. Qual era o modus operandi dessas quadrilhas? Eles explodiam um banco em Alagoas e iam para Pernambuco. Chegavam em qualquer cidade e se instalavam, na confiança de que a polícia daqui não os alcançaria. No máximo, faríamos um relatório de inteligência e o mandaríamos para o órgão de inteligência do outro estado. Daí, eles iam trabalhar e quando percebessem, os criminosos já tinham explodido banco lá e corrido para outro estado”, relata Lima Júnior.

O secretário de Segurança Pública acredita que o êxito das ultimas operações realizadas pelas forças policiais contra assalto a banco trará um hiato nesse tipo de ocorrência em Alagoas.

“Depois dessas operações que nós fizemos neste ano vai ter um sossego. Tivemos seis ocorrências de explosão, sendo duas em abril. Em março não teve nenhuma”, diz Lima Júnior.
Delegado diz haver possibilidade de relação entre assaltos e eleições


Se o coronel Lima Júnior, titular da SSP, descarta qualquer ligação entre os assaltos a banco no Estado durante o período eleitoral à disputa política, o delegado Vinícius Ferrari, da Seção de Roubo a Banco (Serb) da Polícia Civil de Alagoas, acredita na possibilidade de os roubos serem usados para financiar campanhas políticas. Contudo, ele ressalta não haver nenhum levantamento comprovando a ligação.

“Isso não é estudo, não é nada. Por que eu acho que aumenta o número de roubo a bancos em ano eleitoral? Por conta da demanda por dinheiro. Muitos dos ladrões de banco são agiotas que emprestam dinheiro a juro nessa época e muitos dos candidatos estão à procura de dinheiro para as campanhas. Então, eu acho que isso pode explicar esse aumento em ano eleitoral, muito embora esse ano a estatística não esteja muito alta”, diz o delegado Vinícius Ferrari.


Lima Júnior questiona a fala do delegado Titular da Serb. Para ele, qualquer posicionamento tem de ser apenas com base nos números da SSP.

“Quando eu dou o posicionamento da Secretaria de Segurança, o faço com embasamento porque eu estou convicto de que não existe ligação”, garante.

RASTREAMENTO

O delegado foi questionado sobre a possibilidade de rastrear o dinheiro roubado. Segundo Vinícius Ferrari, esse tipo de ação é difícil porque os bancos não informam o montante que havia nos locais alvos de roubo.

“Os bancos não informam quanto foi roubado e é bem difícil rastrear dinheiro em espécie”, explica o delegado.
Segundo Márcio dos Anjos, do Sindicato dos Bancários, não há no Brasil nenhum mecanismo de rastreamento de dinheiro roubado.

“Pelo menos que eu tenha conhecimento. Nem o Banco Central tem algum instrumento para monitorar a sequencia de cédulas. Esse caminho é difícil de ser seguido”, comenta o sindicalista.

CAIXA E PF

Somente assaltos a agências da Caixa Econômica Federal são investigados pela Polícia Federal (PF), mesmo havendo outros bancos públicos no país, a exemplo do Banco do Brasil ou do Banco do Nordeste. Segundo Márcio dos Anjos, essa distinção se deve ao fato de que somente a Caixa é 100% pública.

“O Banco do Brasil e o Banco do Nordeste são públicos, assim como a Caixa, mas eles são de economia mista. Têm acionistas. 50,08% do Banco do Brasil pertencem ao Governo Federal, mas o restante são de acionistas. Por isso só a PF investiga assaltos a suas agências”, explica Márcio dos Anjos.

Fonte: Tribuna Independente
Tribuna Hoje

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