O monge beneditino Marcelo Barros foi o segundo religioso a visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na prisão em Curitiba (PR). No encontro, ocorrido nessa segunda-feira (14) e relatado pelo religioso por meio de uma carta, Lula teria mostrado indignação diante das denúncias que pesam contra ele, mas afirmou estar sereno. "Agora esses moleques vêm me chamar de ladrão. Eu passei oito anos na presidência. Nunca me permiti ir com Marisa a um restaurante de luxo, nunca fiz visitas de diplomacia na casa de ninguém... Fiquei ali trabalhando sem parar quase noite e dia... E agora, os caras me tratam dessa maneira...", desabafou o ex-presidente.
O petista disse, no entanto, que segue sereno e firme no que é o projeto de vida, que é, para ele, servir ao povo brasileiro. No local onde recebeu o religioso, Lula estava cercado de livros, entre os quais vários de espiritualidade, levados por Leonardo Boff, que o visitou na semana passada. "Você veio me trazer um apoio espiritual. E o que eu preciso é como lidar cada dia com uma indignação imensa contra os bandidos responsáveis por essa armação política da qual sou vítima e ao mesmo tempo sem dar lugar ao ódio", afirmou o ex-presidente, que cumpre pena de 12 anos de prisão na sede da Polícia Federal, em Curitiba, desde 7 de abril, dois dias depois de ter tido a prisão decretada pelo juiz Sergio Moro no caso do tríplex do Guarujá (SP).
O monge contou que consolou o político, afirmando que os movimentos sociais sabem da inocência dele e que sofre junto. "Na Bíblia, há uma figura que se chama o Servo Sofredor de Deus que se torna instrumento de libertação de todos a partir do seu sofrimento pessoal. Penso que o senhor encarna hoje, no Brasil essa missão", comparou o monge.
Durante a visita, Barros conta que Lula se emocionou diversas vezes, principalmente ao contar histórias da infância. Falou da separação dos pais e da coragem da mãe, dona Lindu, ao deixar o sertão de Pernambuco em um pau de arara com todos os filhos, dos quais ele (Lula) com cinco anos e uma menina com dois. "Lembrou que, quando era menino, por um tempo, ajudava o tio em uma venda. E queria provar um chiclete americano que tinha aparecido naqueles anos. Assim como na feira, queria experimentar uma maçã argentina que nunca havia provado. No entanto, nunca provou nem uma coisa nem outra para não envergonhar a mãe”, escreveu.
Lula teria mostrado a Barros uma fotografia na parede na qual ele juntou os netos. “Falou da família e, especialmente, lembrou um irmão que está com câncer. Isso o fez lembrar que quando Dona Lindu faleceu, ele estava na prisão e o Coronel Tuma permitiu que ele saísse da prisão e com dois guardas fosse ao sepultamento da mãe. No cemitério, havia uma pequena multidão de companheiros que não queriam deixar que ele voltasse preso. Ele teve de sair do carro da polícia e falar com eles pedindo para que deixassem que ele cumprisse o que tinha sido acertado. E assim voltou à prisão”, disse o monge.
Lula diz que vai até o fim por campanha
Antes de a visitar acabar, o monge deu um recado do petista às pessoas que seguem acampadas em frente ao prédio da PF, onde Lula está preso. “Diga que estou sereno, embora indignado com a injustiça sofrida. Mas, se eu desistir da campanha, de certa forma estou reconhecendo que tenho culpa. Nunca farei isso. Vou até o fim. Creio que na realidade atual brasileira, tenho condições de ajudar o Brasil a voltar a ser um país mais justo e a lutar para que, juntos, construamos um mundo no qual todos tenham direitos iguais”, disse Lula ao religioso.
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