O ataque a tiros à caravana do ex-presidente Lula (PT), no Paraná, e o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) deixaram o país em alerta sobre o radicalismo do discurso e das ações de grupos de militantes. Na visão de especialistas, esse cenário deve se arrasta durante este ano, com o risco de agravamento no início da campanha.
Segundo o cientista político da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Paulo Roberto Figueira, é muito provável que essas eleições tenham um nível alto de violência, inclusive física, maior do que as anteriores, desde a redemocratização.
De acordo com Figueira, esse cenário se dá pelo acirramento dos ânimos da população, pela percepção contrária à política muito disseminada e pela falta de ambiente de conversação, seja nas redes sociais, seja no mundo institucional. “A última campanha já foi mais radicalizada do que as anteriores e, de la para cá, a situação se agravou. Há um conjunto de variáveis que, se em 2014 já indicava um nível de polarização e falta de conversação. Agora a tendência é que tenhamos isso mais intensamente do que antes”, diz.
Figueira pontua que, antes, as ofensas verbais já estavam muito presentes, e que, agora, tiros já foram disparados. “À medida que a campanha avance para níveis de polarização mais intensos e que o ambiente fique mais quente, o cenário se torna muito perigoso”, afirma.
Segundo Figueira, é preciso ficar atento nesse momento crítico da democracia brasileira. “É preciso ligar o sinal amarelo, se queremos ter um processo eleitoral e que institua um governo cujas fontes em implementação de politicas públicas seja o voto. Temos que garantir que haja condições de as eleições transcorreram como devem transcorrer, com debates de ideias e não no debate da bala,” afirma.
O cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Lucas Cunha considera que o clima da eleição deste ano será muito tenso. “Todos os candidatos estarão sujeitos a essa polarização, que reflete a polarização de uma sociedade que está extremamente insatisfeita com a política, extremamente desgastada com os escândalos políticos”, argumenta.
Cunha explica que essa campanha vem depois de um processo controverso, que foi o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). “Esse fato polarizou a sociedade brasileira de uma maneira que fez com que parte da população fosse às ruas, fosse debater isso como um processo de golpe. O impeachment não acalmou os ânimos na disputa política no Brasil”, afirma.
Outro fator que, segundo Cunha, fará com que a tônica dessa campanha seja bastante polarizada é a situação de Lula na Justiça. Condenado em segunda instância, o ex-presidente teoricamente não pode participar da corrida eleitoral. Contudo, Cunha afirma que, com o fato de o petista estar em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de votos, a legitimidade do pleito fica vulnerável. “Esse pode ser um problema para eleição de 2018”, diz.
Lava Jato ampliou a polarização
A deflagração da operação Lava Jato – maior escândalo de corrupção já registrado no país, que atingiu políticos de diversos partidos – é apontada pelo cientista político Lucas Cunha, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), como fator que intensificou a polarização e acirramento dos ânimos dos brasileiros. “A Lava Jato colaborou para tornar a classe política ainda mais fragilizada. Os políticos que não foram presos também sofrem um respingo, o que reforça a ideia de que todos são corruptos”, diz.
Cunha ressaltou que a Lava Jato tem um papel importante de combate à corrupção, mas considera que a operação teve um efeito nocivo para a política do Brasil nos últimos tempos.
Jornal O Tempo
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