sábado, março 17, 2018

Alagoas teve 3 vereadores mortos em 2017; no país, foram 40 políticos

Pelo menos 40 vereadores e prefeitos foram assassinados desde 2017 (Foto: Arte G1)

A violência contra vereadores, ex-vereadores, prefeitos e ex-prefeitos resultou em pelo menos 40 mortes no Brasil na atual legislatura, segundo registros em reportagens do G1 publicadas entre 2017 e 2018

Nesta semana, a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) foi assassinada a tiros no Rio de Janeiro. Ela foi a 40ª vítima (veja lista com todos os casos ao final desta reportagem).

Além desses 40, o G1 também registrou no período os assassinatos de dois suplentes de vereador (Roberto da Conceição Margarido, de Itatiaia-RJ, e Ueliton Brizon, de Cacoal-RO) e um ex-vice-prefeito (José Roberto Soares Vieira, de Ourolândia-BA).

A morte de Marielle levou milhares de pessoas às ruas em todo o paísem protestos contra o assassinato e a onda de violência na cidade. O Ministério Público avalia pedir a federalização das investigações. O governo federal diz que concentrará "todos os esforços" para identificar e prender os assassinos.

O PSOL, partido ao qual Marielle Franco era filiada, informou ter registrado, desde 2016, 24 mortes de pessoas ligadas a movimentos sociais (quilombolas, indígenas, sindicalistas, MST, etc.) em razão das atividades políticas desenvolvidas por elas.

Em 2016, somente no período eleitoral, a violência contra candidatos atingiu pelo menos 17 estados e levou a 28 mortes. À época, 25 mil militares das Forças Armadas foram destacados para fazer a segurança das eleições, e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pediu à Polícia Federal que investigasse os crimes.

'Perseguição'


Para o integrante da coordenação nacional da Pastoral da Terra, Paulo Cesar Moreira, a morte de Marielle não é um caso "isolado". Isso porque, na avaliação dele, a defesa das pessoas das periferias e do campo "passa por um momento de acirramento e conflito, marcado pela impunidade".

Segundo Moreira, há uma "seletividade" nas "perseguições" e assassinatos de lideranças que defendem direitos de pessoas que vivem em periferias ou que buscam o acesso à terra.

"Em geral, as perseguições e assassinatos visam pessoas com visibilidade, lideranças bem articuladas e com lucidez política, que conseguem levar sua mensagem adiante, como era o caso de Marielle", afirmou ao G1.

Moreira entende que Marielle se enquadrava neste contexto, já que era negra, criada na periferia e, após ser eleita vereadora com mais de 46 mil votos, se tornou uma "voz forte" em defesa de minorias. Para ele, a militância da parlamentar a tornou um alvo.

"Marielle tinha autoridade para falar dos problemas das pessoas que vivem nas periferias, sobre a violência das autoridades e do Estado. A perda é grande, porque temos poucas pessoas no Legislativo com essa autoridade, com esse conhecimento de causa", disse.

Crime 'mais estruturado'

Pesquisador do Grupo de Violência e Cidadania da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o doutor em sociologia Francisco Amorim afirmou ao G1 que assassinatos de políticos e de lideranças de movimentos sociais ocorrem com maior frequência em locais onde o crime organizado "está mais estruturado" e tenta impor as próprias regras.

"Essas execuções acontecem em momentos em que há uma disputa pelo controle social da população de modo mais amplo, quando se tenta intimidar não só o adversário, grupo rival ou polícia, mas também a sociedade. É a tentativa de impor uma regra paralela tão ou mais poderosa do que a regra legal", afirmou.

Amorim lembrou, ainda, que Colômbia e México registram ondas de execuções de políticos e jornalistas, ligadas ao tráfico de drogas.

"Não é só marcar território, intimidar ou silenciar uma voz, é dar um recado para toda a sociedade de que a regra paralela é mais forte", disse.

O pesquisador destacou que, muitas vezes, as ações passam por relações de organizações criminosas que contam com integrantes que estão em instituições legais.

"As execuções podem ser realizadas não só por gente completamente na ilegalidade, como traficantes, mas por pessoas que operam no mundo legal e cometem ilegalidades", ponderou.

'Déficit civilizatório'

Após a morte de Marielle Franco, o presidente do TSE, Luiz Fux, avaliou que o assassinato demonstra o "déficit civilizatório".

"Ficamos chocados com essa notícia, que no mundo de hoje se tente calar a voz política através de uma atitude que demonstra baixíssimo déficit civilizatório nesse campo. Manifestar solidariedade aos familiares e amigos que nesse momento passam intensa dor. Peço licença para enviar a todas as pessoas que lutaram por um Brasil melhor, sem desigualdades e mais justo, nosso abraço sentido e sofrido", afirmou o ministro.

Mortes de políticos

Veja a lista dos políticos municipais assassinados desde o ano passado, segundo registros em reportagens do G1:

2017
Marcos Santos Rocha, ex-prefeito de Pau Brasil (BA)
Alexandro Pereira da Silva, vereador de Santa Helena de Minas (MG)
Marcos Fernandes, ex-prefeito de Umarizal (RN)
Francisco Vicente de Souza, prefeito Candeias do Jamari (RO)
Claudeir dos Santos, ex-vereador de Poço Redondo (SE)
Élpido da Silva Meira, ex-vereador de Colniza (MT)
Antônio Marcos dos Santos, vereador de Santo Antônio do Monte (MG)
Paulo Chaves Marinho, vereador de Rio Maria (PA)
Diego Kolling, prefeito de Breu Branco (PA)
Nilson Pereira de Toledo Filho, ex-vereador de Borda da Mata (MG)
Jones William, prefeito de Tucuruí (PA)
Manoel Francisco Soares Almeida , vereador em Pau d'Arco (PA)
Adelmo Rodrigues de Melo, vereador em Batalha (AL)
Fabiano de Freitas Figueiredo, vereador de Guará (SP)
Tony Pretinho, vereador em Batalha (AL)
Antônio José Denadai, ex-vereador de Vitória (ES)
Esvandir Antônio Mendes, prefeito de Colniza (MT)
Manoel Mariano de Sousa, ex-prefeito de Barra do Corda (MA)
Kedson Rodrigues, vereador de Governador Nunes Freire (MA)
Jailton Martins de Carvalho, vereador de Carira (SE)
Wilson Portilho da Cunha, vereador licenciado de Goianésia (GO)
Jucely Alves Arrais, vereadora de Aiuaba (CE)
Cristóvão Silveira, ex-vereador de Campo Grande (MS)
Ademir Carlos Patel, vereador de Brunópolis (SC)
José Roberto Cavalcante, vereador de Tomé-Açú (PA)
Nerivan de Oliveira Silva, vereador de Craíbas (AL)
Miguel Sampaio Soares, vereador de Anajatuba (MA)
Erialdo Araújo Feitosa, ex-verador de Juazeiro do Norte (CE)
Eliseu de Souza Leal, ex-vereador de Santa Maria do Oeste (PR)
Edilson Ferreira dos Santos, ex-vereador de São Miguel do Tocantins (TO)
Neuri Carlos Persch, ex-prefeito de Ministro Andreazza (RO)
Luiz Carlos Machado, ex-prefeito de Porto Alegre do Norte (MT)
José Paulo da Silva, ex-prefeito de Mogeiro (PB)

2018

Adriano Ribeiro dos Santos, ex-vereador de Erechim (RS)
Aldair Silva Andrade, ex-vereador de Porto Seguro (BA)
Jorge Cunha, vereador de Apicum-Açu (MA)
Everaldo Batista, ex-vereador de Parintins (AM)
Elton Alexandre de Aguiar Matta, vereador de Barra do Jacaré (PR)
Miguel Calixto, vereador de Barra do Jacaré (PR)
Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro (RJ)

Por Filipe Matoso, Guilherme Mazui, Gustavo Garcia, Fernanda Calgaro e Ricardo Gallo, G1, Brasília e São Paulo

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