A marquise de um restaurante falido em Bonsucesso hoje só serve para abrigar moradores de rua. Ali, Valdiram forrou o chão com pedaços de papelão para se proteger da chuva. Na noite da última terça, apenas mais três homens dividiram o local com ele. Todos ali guardam suas próprias lembranças e frustrações. Mas apenas o ex-jogador de futebol, famoso por sua passagem pelo Vasco, em 2006, foi às lágrimas.
— Já fiz a alegria de uma torcida. Tive o nome cantado no Maracanã. Hoje estou aqui, na marquise. Estou pagando caro demais — desabafou.
No entorno da Praça das Nações, ponto central de Bonsucesso, Valdiram é uma figura conhecida. Não apenas pelos meses de protagonismo no Vasco. Mas pela nova rotina de morador de rua. O ex-atacante de 35 anos chegou no bairro há pouco mais de dois meses e, sem trabalho, conta com a ajuda de quem se dispõe a lhe dar dinheiro.
Este é o capítulo mais recente de uma história já conhecida. A trajetória de Valdiram é marcada mais pelas polêmicas extracampo do que pelos gols. De 2006 a 2011, passou por 18 clubes, média de três por ano. A compulsão por sexo, o alcoolismo e o vício em drogas o impediram de ter carreira sólida. Ele buscou tratamento numa instituição da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, do pastor Marcos Pereira, pela qual também virou pastor. A experiência não o impediu de sofrer recaídas. E as portas do futebol, aos poucos, se fecharam.
O último clube foi o Atlântico, da Bahia, no ano passado. Saiu de lá após desentendimento com o treinador e viajou à São Paulo atrás de uma irmã. Mas, na capital paulista, não teve a recepção que esperava. Sem dinheiro e sem casa, só encontrou amparo nas ruas.
No fim de 2017, com a ajuda da irmã, pegou a ponte aérea e tentou a sorte no Rio. Achou que encontraria ajuda no Bonsucesso, onde jogou há cinco anos. Só esqueceu que as portas de lá haviam se fechado para ele. O que se comenta no clube é que Valdiram furtou companheiros e funcionários.
— Sempre tem alguém na rua que dá dinheiro ou paga comida. Mas ele também precisa se ajudar — comenta Russo, ex-jogador e funcionário da recepção do Bonsucesso.
A todos que param para conversar com ele, o ex-jogador não esconde sua mágoa com Eurico Miranda. Na versão de Valdiram, o ex-presidente cruz-maltino teria lhe prometido nova chance em São Januário há cinco anos. A promessa nunca foi cumprida.
— Ajuda financeira nunca lhe foi negada. Agora, jogar no clube? Esquece. Não reunia condições — diz Eurico. — Lamento profundamente saber que chegou nessa condição. Mas, infelizmente, ele procurou essa situação.
Procurado, o presidente do Vasco Alexandre Campello lamentou a situação e prometeu acionar o departamento social do clube para estudar alguma forma de ajuda. Enquanto isso, Valdiram conta com a ajuda dos moradores e comerciantes de Bonsucesso. Chegou a morar em apartamento usado por outras pessoas sem casa. O imóvel não tem luz e água, exibe sujeira pelos quatro cantos e é frequentado por ladrões. Logo saiu. Quem mais lhe oferece ajuda é Renato Fernandes, dono de ótica. Além de dinheiro, lhe dá roupas e tenta encontrar uma saída. Quer levá-lo ao sindicato dos atletas e já agendou visita a um clube de Anchieta:
— Que clube pequeno não gostaria de tê-lo? Ele precisa de um trabalho e pode dar visibilidade.
Com três cirurgias nos joelhos e magro, Valdiram não sonha mais com o retorno ao futebol. Está sem os documentos, perdidos num encontro com uma prostituta. E não quer voltar a uma clínica.
— Passei três anos numa dessas e, quando saí, caí nas drogas. Você acha mesmo que resolve? — conta o ex-atacante, que cheirava a álcool nas duas vezes em que foi encontrado pela reportagem. — Preciso é de uma casa e trabalho. Posso trabalhar numa escolinha. Aí paro. Enquanto isso, bebo minha cachaça.
No último sábado, Valdiram falou com o pai, Valter, por telefone. Emocionou-se, mas garantiu estar bem no Rio. Apesar da saudade dos filhos (Letícia e Valdiram Júnior), não quer voltar a Canhotinho-PE, sua terra natal. Tem certeza que ainda dará um drible nas adversidades.
No entorno da Praça das Nações, ponto central de Bonsucesso, Valdiram é uma figura conhecida. Não apenas pelos meses de protagonismo no Vasco. Mas pela nova rotina de morador de rua. O ex-atacante de 35 anos chegou no bairro há pouco mais de dois meses e, sem trabalho, conta com a ajuda de quem se dispõe a lhe dar dinheiro.
Este é o capítulo mais recente de uma história já conhecida. A trajetória de Valdiram é marcada mais pelas polêmicas extracampo do que pelos gols. De 2006 a 2011, passou por 18 clubes, média de três por ano. A compulsão por sexo, o alcoolismo e o vício em drogas o impediram de ter carreira sólida. Ele buscou tratamento numa instituição da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, do pastor Marcos Pereira, pela qual também virou pastor. A experiência não o impediu de sofrer recaídas. E as portas do futebol, aos poucos, se fecharam.
O último clube foi o Atlântico, da Bahia, no ano passado. Saiu de lá após desentendimento com o treinador e viajou à São Paulo atrás de uma irmã. Mas, na capital paulista, não teve a recepção que esperava. Sem dinheiro e sem casa, só encontrou amparo nas ruas.
No fim de 2017, com a ajuda da irmã, pegou a ponte aérea e tentou a sorte no Rio. Achou que encontraria ajuda no Bonsucesso, onde jogou há cinco anos. Só esqueceu que as portas de lá haviam se fechado para ele. O que se comenta no clube é que Valdiram furtou companheiros e funcionários.
— Sempre tem alguém na rua que dá dinheiro ou paga comida. Mas ele também precisa se ajudar — comenta Russo, ex-jogador e funcionário da recepção do Bonsucesso.
A todos que param para conversar com ele, o ex-jogador não esconde sua mágoa com Eurico Miranda. Na versão de Valdiram, o ex-presidente cruz-maltino teria lhe prometido nova chance em São Januário há cinco anos. A promessa nunca foi cumprida.
— Ajuda financeira nunca lhe foi negada. Agora, jogar no clube? Esquece. Não reunia condições — diz Eurico. — Lamento profundamente saber que chegou nessa condição. Mas, infelizmente, ele procurou essa situação.
Procurado, o presidente do Vasco Alexandre Campello lamentou a situação e prometeu acionar o departamento social do clube para estudar alguma forma de ajuda. Enquanto isso, Valdiram conta com a ajuda dos moradores e comerciantes de Bonsucesso. Chegou a morar em apartamento usado por outras pessoas sem casa. O imóvel não tem luz e água, exibe sujeira pelos quatro cantos e é frequentado por ladrões. Logo saiu. Quem mais lhe oferece ajuda é Renato Fernandes, dono de ótica. Além de dinheiro, lhe dá roupas e tenta encontrar uma saída. Quer levá-lo ao sindicato dos atletas e já agendou visita a um clube de Anchieta:
— Que clube pequeno não gostaria de tê-lo? Ele precisa de um trabalho e pode dar visibilidade.
Com três cirurgias nos joelhos e magro, Valdiram não sonha mais com o retorno ao futebol. Está sem os documentos, perdidos num encontro com uma prostituta. E não quer voltar a uma clínica.
— Passei três anos numa dessas e, quando saí, caí nas drogas. Você acha mesmo que resolve? — conta o ex-atacante, que cheirava a álcool nas duas vezes em que foi encontrado pela reportagem. — Preciso é de uma casa e trabalho. Posso trabalhar numa escolinha. Aí paro. Enquanto isso, bebo minha cachaça.
No último sábado, Valdiram falou com o pai, Valter, por telefone. Emocionou-se, mas garantiu estar bem no Rio. Apesar da saudade dos filhos (Letícia e Valdiram Júnior), não quer voltar a Canhotinho-PE, sua terra natal. Tem certeza que ainda dará um drible nas adversidades.
O Globo
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