Na oportunidade, o senador assegurou estar disposto a alavancar novamente o país, mediante um novo acordo com a sociedade. "Isso só será possível com planejamento e com sólido programa social que seja tecnicamente recomendável, politicamente viável e socialmente aceito", destacou.
No início do pronunciamento, Collor revisitou a história do seu governo e rememorou alguns dos feitos positivos de seu curto mandato presidencial, a exemplo da abertura econômica do país e da consolidação do lastro financeiro que possibilitou a implantação do Plano Real pelo seu vice-presidente, Itamar Franco, e o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. O senador enfatizou, ainda, a medida que garantiu uma nova realidade para os aposentados do campo. "Determinei o pagamento mensal de um salário-mínimo aos aposentados do antigo Funrural".
Collor também relembrou que foi responsável por planejar e realizar a Rio 92, bem como extinguiu a figura do cheque ao portador, instituindo ainda o uso do cartão de crédito no exterior, além de pôr fim às famosas "carroças". Coube ao então chefe do Poder Executivo, ainda, assinar o Tratado de Assunção que criou o Mercosul, secundando o trabalho iniciado pelo presidente José Sarney.
Confira, na íntegra, o discurso do senador Fernando Collor de Mello
"Enxuguei a máquina administrativa. Abri econômica e comercialmente o Brasil para o mundo. Quebrei monopólios, privilégios e reservas de mercado. Enfrentei grandes grupos econômicos e poderosos políticos da época. Tirei o país do atraso da Revolução Industrial de 1ª e 2ª gerações e o incluí na terceira geração, a da informatização. Imprimi avanços em demandas sociais como educação, saúde, assistência social e meio ambiente. Sancionei leis de grande relevância, como o Código de Defesa do Consumidor, o ECA, a Lei Rouanet, o Regime Jurídico Único dos Servidores, a Lei de Improbidade Administrativa, a Lei de criação do SUS, entre tantas outras".
Da tribuna do Senado, o pré-candidato fez uma avaliação no sentido de que, hoje, vê-se "tempos de extremismos e pós-verdades, de bravatas, radicalismos e, pior, de intolerâncias e confrontos de argumentos ideologicamente vazios". Para o ex-presidente da República, a população brasileira não pode mais se iludir, sendo necessária moderação, equilíbrio, maturidade e, sobretudo, um caminho que ainda não se abriu e que aponta para um centro democrático progressista e liberal, capaz de promover as mudanças demandadas pelo povo brasileiro.
"Um centro que nos leve à receita correta adotada pelas grandes nações, que conseguiram politicamente atender aos anseios sociais pela via econômica responsável. Um centro democrático que não mais se prenda ideologicamente a meros rótulos da esquerda ou da direita. Um centro que promova a interação entre o setor público e o setor privado, que é um mandamento do Estado Moderno. Mas também, um centro que saiba atribuir a cada ente a sua específica competência. Ou seja, ao Estado, o que é do Estado; ao mercado, o que é do mercado", emendou Collor.
Para o parlamentar, este é o apelo e a esperança da grande maioria da população brasileira diante da realidade atual. Daí, aponta Collor, a expectativa de uma candidatura que, de fato, preencha este vácuo político, apresentando um nome que possua comprovada capacidade de execução de um programa definitivo, sob o ideário liberal no plano econômico, democrático no plano político, inclusivo no plano social, e sustentável no plano ambiental, com vistas ao ideário da integração e da soberania no plano internacional.
"Para tanto, precisamos de comando executivo cujo perfil conjugue a vivência com a coragem, o conhecimento com a confiança, a serenidade com a disposição. Minha postulação de retornar ao Palácio do Planalto possui o suporte da experiência executiva nos cargos de prefeito, governador e presidente da República, bem como a experiência parlamentar, indispensável ao exercício político em nosso presidencialismo, adquirida nos mandatos de deputado federal e, nos últimos 12 anos, de senador da República, eleito em 2006 e reeleito em 2014".
Collor apontou que a maturidade adquirida - em 40 quarenta anos de vida pública, aliada a todas as agruras e obstáculos que passou, fizeram-lhe compreender que, na política, em qualquer nível de entendimento, a menor distância entre dois pontos é aquela que oferece menor resistência. "Esse aprendizado é de extrema importância ao dirigente de um país, um dirigente que saiba associar a condução política aos atos e decisões da gestão. Um gestor que conjugue o perfil executivo com o contorno legislativo. Uma liderança que consiga fazer a sociedade nela se espelhar por meio da atitude, da determinação, da confiança, e que coloque o interesse público acima da vontade particular. Ou seja, uma liderança que faça renascer a esperança e o otimismo de um país".
Diante do quadro atual, o senador destacou que, no Brasil, o grande problema de ontem torna-se pequeno no dia de hoje. "A incerteza parece ser a única constante. Daí que a razão precisa conquistar terreno, avançar sobre a versão, sobre a especulação,...sobre a emoção. Daí a necessidade de um novo pacto federativo, de um novo acordo com a sociedade. Mas isso só será possível com planejamento e com um sólido programa que seja tecnicamente recomendável, politicamente viável e socialmente aceito".
Papel do Brasil no mundo
O senador defendeu, ainda, que este é o momento ideal para que o Brasil tenha um papel de destaque nas discussões do espectro geopolítico internacional, visto que, muito em breve, os países estarão divididos entre os que programam e os que são programados. Ele alertou que, caso não se mude a postura do Brasil nos temas internacionais, muito em breve o país não terá a oportunidade de viver um outro momento econômico tão favorável no cenário internacional como o atual.
"Ou o Brasil se programa, ou continuará programado pelos grandes atores do poder mundial. E o caminho, volto a afirmar, está no amplo consenso de um centro democrático ao mesmo tempo progressista e liberal. Ou seja, um conjunto de forças cuja aglutinação dos melhores quadros do país tenha a competência política e a eficiência técnica para inserir todas as regiões na Revolução Industrial 4.0, pois, entendemos que a indústria possui papel central no desenvolvimento econômico e na distribuição dos frutos do progresso".
Para Collor, daí a necessidade de inovação, mas não só com o advento da tecnológica que hoje alavanca as nações por meio do conhecimento, como também da inovação para diferenciar a administração política de um país. "E essa é uma condição que também requer conhecimento, experiência e, acima de tudo, capacidade de atualização. Ou seja, não precisamos de revolução; precisamos, sim, de evolução. Da mesma forma, não precisamos de renovação; precisamos, sim, de inovação. Somente assim, conseguiremos insculpir o Brasil definitivamente entre as grandes potências do planeta".
Reconhecimento
Algumas medidas do governo Collor, que inseriram a população brasileira em uma nova realidade à época e que ainda estão presentes no dia a dia, foram ressaltadas em recentes materiais e publicações do economista e diplomata Roberto Campos e do historiador e analista político Marco Antônio Villa.
Roberto Campos sinaliza que o "o documento de março de 1991, intitulado Projeto de Reconstrução Nacional, é uma das melhores análises que conheço das transformações estruturais de que o Brasil precisa para recuperar a estabilidade e lançar-se numa rota de desenvolvimento sustentado". "As reformas constitucionais sugeridas eram essencialmente corretas. E também realistas, se se interpretar a política não como 'a arte do possível', e sim como 'a arte de tornar possíveis as coisas impossíveis'", declarou.
No livro "Collor presidente", Marco Antônio Villa aponta que o governo Collor pôs em prática um ousado plano de privatizações, enfrentando um sólido paradigma, construído nos anos 1930, que associava o desenvolvimento do país à presença estatal na economia; e que tinha respaldo político na direita e na esquerda. Mesmo assim, aponta Villa, obteve a aprovação do Congresso Nacional e desregulamentou diversos setores, verdadeiros cartórios que, há décadas, detinham privilégios.
Villa vai além ao destacar a importância de o governo Collor ter promovido a defesa do meio ambiente, transformando a Rio 92 em um sucesso. O historiador sustenta que Collor avançou também ao demarcar as reservas indígenas e encerrar o programa de construção de uma bomba atômica - restabelecendo a autoridade presidencial sobre as Forças Armadas (...).
"Collor colocou em prática o Sistema Único de Saúde (SUS). Apoiou a aprovação do ECA, criou um Ministério da Criança e tentou estabelecer um sistema escolar integral com os Centros Integrados de Atendimento às Crianças. E teve papel importante na implantação do Código de Defesa do Consumidor", frisou o historiador, acrescentando que o voluntarismo político caracterizou seu período presidencial. "A agenda política não só foi alterada, como parte dela de fato implementou-se como a reforma do Estado. De um lado, isto se deveu à ousadia; de outro, à sua concepção do papel de chefe do Executivo Federal", concluiu Villa.
Para Collor, tais expressões deste reconhecimento popular "são passagens de um governo contra as quais não há contra-argumentação, que explicam e desnudam em demasia a realidade que muitos insistem em desvirtuar, desmerecer ou simplesmente não aceitar". Mas, hoje, minha certeza é que a grande maioria da sociedade brasileira já se mostrou plenamente apta em alargar os horizontes. A atual convicção de seu espírito não mais incorrerá nos erros de avaliação nascidos de uma ilusão ou de uma desilusão. O futuro, ou mesmo o presente, devem esclarecer os incidentes. Não mais precisamos de novas condenações ou ultrapassadas versões para saudar um novo tempo, uma nova chance. O que importa agora é o olhar adiante, confiante e, sobretudo, com grande otimismo", complementou.
Por fim, Collor considerou que, em que pese a recuperação dos princípios básicos de da economia brasileira, que apontam para uma progressiva estabilidade e um razoável crescimento sustentável, o Brasil ainda convive com um conturbado quadro político e um instável cenário institucional. "Diante de tudo isso, o íntimo do meu sentimento público me diz que seria covardia de minha parte renunciar à verdade e desviar de mais um desafio que o destino me impõe. Os temores da história não podem preceder aos ardores da modernidade. Reunir a experiência, a coragem, o equilíbrio e a maturidade é uma dívida que não admite mais moratória".
Gazeta Web
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