A decisão da Justiça Federal suspendendo a desestatização rendeu uma situação curiosa. Autor da ação popular que travou a privatização da Eletrobras, o advogado Antônio Campos (Podemos) dedicou sua "luta contra a privatização da Eletrobrás e da Chesf à memória de Miguel Arraes". Contudo, o deputado Danilo Cabral (PSB) também comemorou a decisão, como uma consequência de sua luta na Frente em Defesa da Chesf. Atualmente em campos opostos, por diferenças na política estadual, Danilo e Antônio disputam o protagonismo pela defesa da estatal, uma vez que o precursor dessa causa, o ex-governador Miguel Arraes, enquanto socialista histórico, representa os dois atores políticos.
Antonio Campos ingressou com uma ação contra a privatização na última segunda-feira, enquanto Cabral impetrou recurso semelhante dois dias depois. A decisão do juiz Cláudio Kitner acabou unificando as duas provocações judiciais em um só processo na sua decisão.
Na prática, a disputa política se deu de maneira velada, já que Campos e Danilo evitaram o confronto no discurso. Na internet, Antônio, que é neto de Miguel Arraes, fez questão de frisar que estava "desde o início participando ativamente do movimento contra a privatização da Eletrobrás, da Chesf, por consequência, na prática, do Rio São Francisco." "Entendo que alguns setores estratégicos nacionais como o elétrico não devem ser privatizados, em sintonia com diversos setores da sociedade civil", aponta o advogado.
Em 1995, Arraes enquanto governador de Pernambuco, enviou uma carta ao então presidente Fernando Henrique Cardoso, se colocando contra a privatização da Eletrobras. Essa mesma carta voltou à tona quando Fernando Filho, que pertencia ao PSB, decidiu tocar a privatização da elétrica. Integrante da oposição no Congresso Nacional, Danilo Cabral qualificou a liminar como uma "derrota expressiva do Governo Temer". "A desestatização da Eletrobras é a crônica de uma morte anunciada", opina.
Blog da Folha
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