A aposentada Hermínia Xavier e seu fogão a lenha de 3 bocas (Fotos: Acervo pessoal/Hermínia Xavier)
Nesse domingo (05), as refinarias aumentaram os valores dos preços do gás de cozinha para uso residencial em botijões de até 13 kg (GLP P-13) em 4,5%, em média. O novo aumento foi anunciado pela Petrobras na sexta-feira (3) passada. A justificativa é a “alta das cotações do produto nos mercados internacionais, influenciada pela conjuntura externa e pela proximidade do inverno no hemisfério norte”, acrescentando que a variação do câmbio também contribuiu para a necessidade do aumento. Como a legislação brasileira garante liberdade de preços no mercado de combustíveis e derivados, o preço para o consumidor dependerá de cada distribuidora e revendedora. De acordo com a Agência Brasil, se o reajuste for repassado integralmente ao consumidor final, o botijão pode chegar a aumentar em média 2%, uma alta de R$ 1,21, segundo os cálculos da companhia – mantidas as margens de distribuição e de revenda e as alíquotas de tributos.
Para os sertanejos de Petrolândia, terra onde inverno e câmbio não existem, os revendedores ainda tentam segurar os preços do botijão de gás, mas reclamam de prejuízos. Por seu lado, os consumidores já consideram ostentação ter um "bujão" cheio na cozinha, tanto quanto ter as panelas cheias de comida. Para economizar o gás, é preciso criar novas ou recriar velhas tecnologias. Foi o que fez a aposentada Hermínia Xavier, moradora do Projeto Barreiras, na zona rural de Petrolândia. Alguns meses antes de a Petrobras soltar o cabresto dos preços de combustíveis e gás de cozinha, ela construiu um fogão a lenha. Pobre já nasce inventor, já nasce artesão e a tecnologia ela aprendeu ainda criança, na vida difícil de filha de lavradores.
O fogão, construído por dona Hermínia e seu marido Renato, foi instalado sobre uma mesa de ferro, embaixo de um cajueiro, no quintal da casa dividida entre o casal e três dos filhos, cada um com sua própria família - companheiro(a) e filho(s).
A reportagem do Blog de Assis Ramalho conversou com dona Hermínia sobre o seu fogão a lenha.
Sobre a motivação para voltar ao uso do fogão a lenha
"Eu fiz o fogão pra economizar mesmo, porque ninguém merece o preço do bujão. Aqui em casa só passava um mês com um bujão. Então do preço que está o gás, eu resolvi fazer esse fogão. Eu fiz há quase dois meses atrás. No primeiro mês que eu usei ele, meu bujão durou cinco dias a mais, porque eu cozinhei pouco. Agora eu estou cozinhando mais no fogão de lenha, passo o dia praticamente embaixo do pé de cajueiro (onde o fogão foi instalado). Eu já vivia lá e, agora, com o fogão, é que eu vivo lá mesmo", diz a aposentada, bem humorada.
Sobre os principais usos do fogão
"Eu faço nele a comida mais "grosseira" (mais tempo de cozimento). O feijão eu já faço pra semana inteira, carne eu cozinho lá. Praticamente, o fogão (a gás) eu só uso à noite, porque eu não vou lá para debaixo do cajueiro à noite. Lá, ainda está improvisado, mas eu ainda vou fazer mais algumas adaptações pra ficar parecendo uma cozinha", enfatiza dona Hermínia.
Sobre a fumaça e orgulho de usar o fogão
"Eu estou gostando muito de cozinhar a lenha. Deixa a gente cheia de fumaça, mas isso tem seu lado ruim e bom também. É ruim pra quem tem problema respiratório e eu não tenho, graças a Deus. O lado bom é que espanta as muriçocas, que são muitas. Eu não tenho problema com fumaça não. Eu vim da fumaça e continuo na fumaça. Não tenho vergonha das minhas raízes", declara, com orgulho.
Dona Hermínia diz que seria bom se todos pudessem economizar com um fogão a lenha
"Seria bom se todo mundo fizesse um fogão desses pra ver se economizava e dava resultado, se todo mundo tivesse o seu lugarzinho pra fazer seu fogão e não dar tanta ousadia (lucro) a esse governo que só quer lascar com os pobres mesmo", finaliza dona Hermínia.
Redação do Blog de Assis Ramalho
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