Libertados nesta terça-feira treze das 15 pessoas presas pela Polícia Federal na quarta-feira passada durante a Operação Torrentes, que investiga desvios que podem chegar a até 30% de contratos que totalizam R$ 450 milhões para compra de colchões, filtros de água e comida para flagelados de enchentes na Mata Sul de Pernambuco. A medida, confirmada pela Polícia Militar de Pernambuco e pela Secretaria Executiva de Ressocialização de Pernambuco (Seres), foi tomada diante da negativa do Tribunal Federal da 5ª Região do pedido do Ministério Público e da Polícia Federal pela prorrogação da prisão temporária dos investigados.
Já foram liberados os empresários Antônio Manoel de Andrade Júnior, Antonio Trajano da Rocha Neto, Heverton Soares da Silva, Ítalo Henrique Silva Jaques, João Henrique dos Santos, Rafaela Carrazzone da Cruz Gouveia Padilha, Ricardo Henrique Reis dos Santos, Ricardo José de Padilha Carício, Roseane Santos de Andrade e Taciana Santos Costa, que estavam presos no Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima e os coronéis Fábio de Alcântara Rosendo e Roberto Gomes de Melo Filho, que estavam deidos na Academia da Polícia Militar em Paudalho. A decisão do TRF beneficiou ainda o tenente-coronel Laurinaldo Félix Nascimento, que estava em prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica. Já o coronel aposentado da Polícia Militar Waldemir José Vasconcelos de Araújo já havia sido solto na sexta-feira passada, por meio de habeas corpus. O único não beneficiado pela decisão do tribunal é o empresário Daniel Pereira da Costa Lucas.
Governo - Ao falar ontem pela primeira vez em público sobre a Operação Torrentes, o governador Paulo Câmara (PSB) deixou claro que não vai “admitir erros” na sua gestão, caso seja provada a participação de militares em possíveis desvios de recursos das operações Reconstrução e Prontidão destinadas, respectivamente, ao atendimento das pessoas atingidas pelas enchentes de 2010 e 2017. “Quero ver onde está o superfaturamento. Se tiver, serei o primeiro a punir. Agora, as peças que vimos não mostram claramente onde é que está o superfaturamento”, destacou o socialista com base na análise que, segundo ele, foi feita pelo governo no inquérito relativo ao caso.
Paulo Câmara aconselhou, inclusive, que os órgãos de imprensa “olhem as peças acusatórias” para observar onde está o superfaturamento dos contratos. “Mandei olhar todos (sua assessoria). Não vou admitir erro em nenhum deles. Tenho clareza de que para acusar precisa ter provas, precisa estar no inquérito e precisa estar na denúncia. E isso, infelizmente, não foi visto ainda”, alertou.
A Operação Torrentes foi deflagrada quinta-feira pela Polícia Federal e Corregedoria Geral da União (CGU). A investigação apura supostos desvios na verba de R$ 455 milhões enviados ao estado pelo governo federal para atender vítimas das enchentes. A Polícia Federal, no entanto, não informou o quanto teria sido desviado. Entre os investigados estão 11 integrantes da Polícia Militar com atuação na Casa Militar, onde os agentes federais estiveram para cumprir mandado de busca e apreensão. A presença deles nas dependências Palácio do Campo das Princesas levou o governo a chamar a ação policial de “desproporcional”.
Ontem, Paulo também falou sobre o assunto. “O inquérito mostra que todos os prédios onde funciona a Defesa Civil, onde estão documentos, não ficam no Palácio do Governo. O Poder Judiciário determinou busca e apreensão também no âmbito do gabinete do secretário (da Casa Civil), que apenas funciona no prédio do Palácio. Temos que respeitar isso, mas também não podemos achar que isso é normal”, questionou.
O socialista disse, ainda, que o governo está acompanhando o caso desde quinta-feira e o interesse é de que tudo seja esclarecido. “Temos um governo que se dedica a melhorar a vida do povo. As operações feitas nas cheias de 2010, 2011 e 2017 buscaram salvar vidas, reconstruir cidades. Então, vamos apurar tudo. Queremos a verdade. Mas temos também a consciência tranquila de que o trabalho foi feito”. Questionado se a Operação Torrentes teria reflexo negativo no seu projeto de reeleição em 2018, o governador resumiu: “Não estou preocupado com isso. Estou preocupado com as investigações e que tudo seja esclarecido.”
Diário de Pernambuco
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