Mas memória não vai para o lixo. A operação secreta foi revelada por Job, em um depoimento inédito ao qual ÉPOCA teve acesso com exclusividade, e constitui um grave relato de interferência nas investigações, capaz de agravar a situação de Geddel. Job contou um pouco do que sabe ao delegado Marlon Cajado na Superintendência da Polícia Federal da Bahia, em Salvador, na terça-feira, dia 14, como uma mostra de boa vontade e disposição para firmar um acordo de delação premiada com a Lava Jato. A memória de Job é perigosa para Geddel e seu irmão Lúcio. Em prisão domiciliar desde setembro, o ex-assessor pretende tornar públicas suas lembranças para se livrar da pena.
Job foi alvo de prisão domiciliar porque suas impressões digitais foram identificadas nas notas poucos dias depois de a Polícia Federal descobrir a caixa-forte de Geddel num pequeno apartamento em Salvador. As imagens com malas cheias de dinheiro, mais exatamente com R$ 51 milhões, correram o mundo como prova desvergonhada de corrupção. Geddel voltou à Papuda, porque o apartamento fora emprestado a ele e ao irmão. Lúcio, no entanto, nada sofreu por estar protegido pelo foro privilegiado. Era óbvio que as impressões dos dedos de Job estariam na bufunfa. Contratado como assessor parlamentar, pago com dinheiro público, uma das principais atividades de Job sempre foi contar dinheiro para os Vieiras Lima, como ele mesmo diz.
Job teve uma longa história de relacionamento com a família. Começou a trabalhar como secretário parlamentar do patriarca Afrísio Vieira Lima, que também foi deputado federal, no fim da década de 1980. Depois, passou a ser assessor parlamentar de Geddel, entre 1991 e 2007, quando ele exerceu mandatos de deputado federal, e se tornou funcionário de Lúcio Vieira Lima em 2011. Job só foi exonerado por Lúcio, no mês passado, após se tornar um investigado. Com um histórico desses, tinha acesso direto e privou da intimidade dos Vieiras Lima.
Procurado, o advogado de Job, Marcelo Ferreira, confirma que seu cliente quer fazer delação premiada e estuda entrar com uma ação na Justiça pedindo ressarcimento dos valores de seu salário que eram devolvidos à família Vieira Lima. “Apesar de figurar nos registros da Câmara dos Deputados como secretário parlamentar, na prática as atividades de Job se resumiam aos interesses pessoais dos parlamentares e familiares, um verdadeiro empregado doméstico, refém das circunstâncias e obrigado a devolver a maior parte de seu salário, pago pelos cofres públicos”, diz o advogado.
A defesa da família Vieira Lima afirmou que não comentaria o caso, por não ter tido acesso ao depoimento de Job. “(Job) É uma pessoa que trabalhava pra gente há 30 anos, então não estou sabendo de muita coisa que ele está dizendo, aí eu não posso dar opinião não, só o advogado mesmo”, disse Marluce Vieira Lima. O deputado Lúcio Vieira Lima disse que só seu advogado poderia responder. A defesa de Geddel argumentou que as buscas no apartamento com os R$ 51 milhões foram ilegais porque partiram de denúncia anônima.
ÉPOCA
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