quarta-feira, outubro 11, 2017

ONU defende empoderamento das mulheres do campo no Brasil

A representante da ONU Mulheres no Brasil, Ana Carolina Querino, participa do debate Mudar o futuro da migração: investir em segurança alimentar e desenvolvimento rural (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Com o devido acesso ao crédito e a terras, as mulheres brasileiras do campo podem ter um aumento de produtividade de 30%, enquanto sua fome pode ser reduzida em 17%. Essa foi a tônica da apresentação da gerente do escritório brasileiro da ONU Mulheres, Ana Carolina Querino, feita hoje (10), em Brasília, por ocasião do Dia Mundial da Alimentação, que será comemorado na próxima segunda-feira, 16.

Ela destacou que, além de não serem oficialmente donas das terras, as mulheres enfrentam “barreiras estruturantes”, como o difícil acesso a ativos como o crédito e outros insumos, que ficam concentrados na mão dos homens.

Segundo Ana Carolina, embora respondam por grande parte do que é gerado no campo, as mulheres ainda não são identificadas como produtoras nem proprietárias de terras. O último Censo Agropecuário, de 2006, evidencia essa desigualdade: enquanto 3 milhões de homens eram apontados como donos de pequenos terras, apenas 600 mulheres tinham tal título. Das 15 mil mulheres que habitavam o campo, de acordo com o levantamento, um terço tinha uma ocupação e era formalmente reconhecida por isso, com a maioria sendo considerada somente um apoio.

A gerente da ONU também destacou que, entre 1995 e 2014, a percentagem de mulheres que chefiam famílias saltou de 15% para mais de 25%. Segundo ela, o fato pode estar relacionado ao fenômeno de migração forçada, em que os homens partem de suas casas em busca de trabalho, transferindo o cuidado da família a suas companheiras.

Permanência no campo

O coordenador-residente do sistema das Nações Unidas no Brasil, Niky Fabiancic, afirmou que o relatório O Estado da Alimentação e da Agricultura no Mundo, divulgado ontem (9) pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), instrui as autoridades a dar à população do campo um caminho à inclusão para que os mesmos permaneçam na área rural, com dados sobre programas públicos bem-sucedidos.

Entre as recomendações do estudo, foram apontadas uma maior conexão entre as áreas rurais e os mercados urbanos e a sustentação de políticas que assegurem que os pequenos produtores possam satisfazer a demanda alimentar das cidades.

Segundo Fabiancic, nos países em desenvolvimento, cerca de 43% dos trabalhadores rurais são mulheres, que "são responsáveis por produzir grande parte dos alimentos disponíveis”. Para ele “essas mulheres podem ser agentes de transformação efetivos nas cadeias de produção e consumo de alimentos, para que a terra e diferentes recursos sejam divididos de maneira eficiente e sustentável. Mas, para que isso possa acontecer, é preciso que haja políticas que facilitem sua participação nas tomadas de decisão”, falou.

“Do total de pessoas vivendo em extrema pobreza no mundo, 80% fazem parte das populações rurais. E o Brasil tem 30% dos pobres rurais da América Latina e do Caribe”, lembrou Fabiancic.

Agência Brasil

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