O uso racional da água e de tecnologias que promovem maior biosseguridade em projetos de aquicultura foi tema de treinamento promovido pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Itiúba, centro tecnológico e científico da Companhia localizado em Porto Real do Colégio (AL). Participaram do treinamento técnicos da empresa que atuam em Alagoas e em Sergipe, aquicultores e profissionais da área de aquicultura que atuam em municípios situados na área de atuação da Codevasf em Alagoas.
O treinamento apresentou aos participantes o cultivo de peixes e de camarão em sistemas de bioflocos, que se caracteriza, entre outros aspectos, pela redução na quantidade e nas trocas de água, e pela utilização de conceitos básicos de biosseguridade. Segundo o chefe do centro integrado de Itiúba, Vinícius Dias Filho, o cultivo de peixes e camarão em sistemas de bioflocos é baseado em uma tecnologia inovadora e uma tendência mundial que está se disseminando no Brasil. “Esse é um sistema que demanda uma menor quantidade de água no cultivo, possibilitando maior produção em um menor volume de água. Outra vantagem é o reaproveitamento da ração que não é utilizada diretamente pelos peixes e camarões. Essa ração é assimilada pelos bioflocos que são formados no sistema, e os animais voltam a ter a possibilidade de absorver os nutrientes”, explica.
Segundo Dias Filho, o treinamento pretende disseminar a tecnologia de cultivo de peixes e camarões em sistemas de bioflocos na área de atuação da Codevasf em Alagoas e preparar o centro para produção, nesse sistema, de alevinos de espécies nativas da bacia do rio São Francisco. “O foco inicial era capacitar apenas os técnicos da Codevasf. No entanto, devido à demanda externa, abrimos o treinamento para produtores familiares e técnicos de outras instituições, como prefeituras municipais. Com isso, queremos replicar essa tecnologia. Já iniciamos testes e vamos utilizar todo esse conhecimento para otimizar a produção de alevinos aqui no centro integrado”, afirma.
O facilitador da capacitação foi o professor Luís Otávio Brito, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (Ufrpe). Para ele, o cultivo em sistemas de bioflocos proporciona maior biossegurança e rentabilidade em projetos de aquicultura. “Hoje existe uma tendência na carcinicultura nacional, devido ao surto de enfermidades, de modificação nos sistemas produtivos a fim de se conviver com as doenças que acometem os cultivos. Uma das principais doenças é o vírus da mancha branca, e o novo sistema tem a tendência de conseguirmos conviver com ele e, ao mesmo tempo, que os produtores obtenham rentabilidade e que consigam se manter na atividade”, explica.
De acordo com o professor, os produtores têm procurado trabalhar nesse sistema sem renovação de água ou com pouca renovação no intuito de minimizar a entrada de patógenos e aumentar a biosseguridade, e têm tido resultados considerados interessantes em estados como Ceará e Rio Grande do Norte.
O aquicultor familiar José Nielson Soares foi um dos participantes do curso. Ele desenvolve, em conjunto com um irmão, um projeto de produção de camarão no município de Piaçabuçu, região da foz do rio São Francisco. Eles já realizaram uma experiência de cultivo em bioflocos, mas tiveram perdas e procuraram o curso para aperfeiçoar a produção. “Considero esse treinamento bem interessante, pois não tive oportunidade de fazer outros cursos para criação de camarão. No primeiro dia de curso, o professor falou justamente sobre o problema com nitrito que tivemos. Conversei com o professor e ele me deu diversas dicas que vão melhorar nosso cultivo”, diz.
Entre os temas abordados no treinamento estão informações sobre taxas de concentração de amônia, nitrito e nitrato e sobre quantidade de carbono orgânico e inorgânico que deve ser inserido no sistema para que o produtor possa manter os parâmetros ideais de qualidade de água no sistema, a fim de obter alta produtividade.
Codevasf
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