Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em visita ao Maranhão
Paradoxalmente, como solução para sair dessa mesma crise, defendeu que o país gaste agora parte de suas reservas internacionais em dólar e que ofereça mais crédito ao consumo, mesmo que isso faça a dívida pública subir acima do equivalente a 80% do PIB (Produto Interno Bruto).
Lula disse que programas sociais como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e as desonerações a empresários impulsionaram a economia até 2014 e ajudaram a levar a taxa de desemprego a "um padrão chique, tipo Noruega e Dinamarca". O índice foi de 4,8% na média daquele ano.
"Então foi feito isso, e acho que nós erramos na dosagem. Porque se você tem uma torneira aberta entrando água e uma torneira aberta saindo água, e está entrando menos do que está saindo, uma hora a caixa seca", disse, em referência às receitas e gastos do governo.
Sobre a responsabilidade de Dilma na crise, afirmou: "[Dizem] 'é, mas a crise começou no governo da Dilma'. É verdade, é verdade. Nós tivemos problemas". "Agora, vamos ver a diferença da Dilma de 2014 com 1999: todo mundo sabe que o governo FHC quebrou três vezes (quando recorreu ao FMI). Qual foi a diferença do FHC para a Dilma? Que o FHC fez uma proposta de reforma na crise cambial (em 1999) e tinha como presidente da Câmara (dos Deputados) o (Michel) Temer."
"Em seis meses, aprovou tudo o que o Fernando Henrique queria. E a Dilma tinha o Eduardo Cunha, que não aprovou nada do que a Dilma queria", disse.
Apesar da imagem das "torneiras" e da "caixa seca" que levaram ao "erro de dosagem", Lula defendeu mais gastos públicos neste ano de ajuste fiscal e deficit previsto de R$ 159 bilhões. "Se o governo acredita nas suas politicas, tinha que ter coragem de dizer: 'Nós estamos em uma situação difícil. Eu tenho US$ 380 bilhões em reservas. Vou pegar somente alguns bilhões e vou investir em infraestrutura e não vai ter nenhum centavo para custeio. Vou retomar o desenvolvimento porque a gente pode fazer esse país voltar a crescer'".
Lula completou dizendo que um aumento da relação entre a dívida pública e o PIB poderia ajudar a economia. "Não tem nenhum problema. Os americanos, quando começou a crise deles [em 2008], a dívida pública era 64% do PIB. Ela chegou agora a 110%. A da Alemanha e da França ultrapassou 100%. Porque [eles] fizeram investimento para tirar o país da recessão. O Brasil precisa fazer o mesmo, e fazer crédito para essa gente comprar", disse.
"O governo passa o ano inteiro dizendo que vai controlar mais o Orçamento porque não consegue fechar o caixa. Esse governo é, no mínimo, analfabeto político e econômico", disse. "Pois se tem um jeito de fazer a dívida pública diminuir em relação ao PIB é o PIB crescer."
Boa parte dos motivos apontados para queda do investimento privado e da atividade hoje no Brasil é que a relação dívida/PIB está crescendo rapidamente, passando de cerca de 60% do PIB ao final de 2014 em direção aos 80% agora.
Isso tem aumentado a percepção de insolvência. Muitos economistas veem a necessidade do ajuste para controlar essa trajetória; e a própria Dilma perseguiu esse caminho em seu segundo mandato até ser cassada.
Já para a comparação da relação dívida/PIB entre países, economistas levam em conta, além da moeda de cada um (dólar e euro são considerados reserva de valor; o real, não), a renda e o PIB per capita. Eles são muito menores no Brasil do que em EUA, Alemanha e França.
Folha de Pernambuco
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