Não temos dúvida de que o mercado de produtos orgânicos e sustentáveis vem crescendo conseguindo vencer a forte crise que passamos neste momento e, a cada dia, mais empreendedores investem no segmento, se capacitando, certificando e procurando saber como participar do mercado que mais cresce no mundo.
O mais recente episódio aconteceu há pouco menos de um mês, quando o gigante do mercado virtual, Amazon, comprou a maior rede de varejo de produtos orgânicos e natural, a Whole Foods Market. O que temos de aprender com isso? Tem muito mercado para explorar.
No mercado americano, o maior do mundo no setor, 82% das famílias americanas consumiram orgânicos no último ano, 14% de todas as frutas e vegetais consumidos no mercado já são orgânicos, 5% de todos os produtos lácteos são orgânicos e 75% de todos os produtos encontrados hoje no mercado já têm sua versão orgânica.
Multinacionais de alimentos e agronegócios no mundo estão fazendo pesquisas e estudando o segmento e, nos mercados no exterior, poucas têm criado marcas próprias e a grande maioria busca comprar marcas existentes para não ficar fora deste mercado. Aqui no Brasil, não é diferente e observamos que ainda estamos na fase inicial deste movimento. Sabemos que, com a globalização, a tendência é que o movimento chegará com força.
Cabe saber quem serão os pioneiros neste processo aqui no Brasil. O que podemos dizer destes números? Como podemos nos preparar para atender a forte demanda do consumidor com produtos mais saudáveis, mais confiáveis, mais seguros e com rastreabilidade?
O Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (ORGANIS) realizou, no período de março a abril, a primeira pesquisa nacional para conhecer o perfil do consumidor brasileiro de orgânicos, o que realmente conhecem e entendem sobre esses produtos. O resultado foi surpreendente e nos dá a indicação de que estamos ainda no inicio de um processo de consolidação e o crescimento se fortalecerá nos próximos anos.
O principal apontamento foi que 15% consumiram produtos orgânicos, sendo o maior índice para a região sul (34%) em contraste com os moradores da região sudeste, que obtiveram o menor índice com pouco mais de 10% dos domicílios. Outros indicativos interessantes: seis em cada 10 famílias consumiram verduras e uma em cada quatro consumiu frutas e cereais.
Outro número muito surpreendente é que 84% dos consumidores não conseguiram lembrar da marca do produto que consumiu.
A pesquisa apontou um preocupante desconhecimento por parte do consumidor sobre o produto e sua verificação. A grande maioria ainda associa o produto orgânico apenas com a questão de produto sem agrotóxicos ou químicos, ainda não conhece a regulamentação e, em muitos casos, confia na palavra de quem comercializa ou quem apresenta o produto. Isso tem um lado positivo, pois demonstra que a indicação pessoal é muito forte e representativa, mas preocupante, pois não reconhecer um produto orgânico, propicia oportunidades para fraudes e oportunistas. Pouco mais de 45% lembram ter visto o selo oficial do MAPA e apenas 8% afirmaram que utilizaram o selo como verificador de conformidade e credibilidade.
Estas informações indicam que as empresas têm um vasto mercado e oportunidades para trabalhar os brandings dos produtos, num mercado em pleno crescimento.
Quais os motivos para 85% da população não consumir orgânicos? 41% apontam o preço como fator determinante, os demais alegaram desconhecimento, falta de interesse e falta de local para compra.
Este resultado demonstra que falta ainda uma campanha nacional ou um projeto de educação para esclarecer o consumidor, melhor distribuição e oferta de produtos. O varejo tenta ser este veículo com o consumidor final, na medida em que lojas menores fazem um atendimento mais personalizado, potencializando o processo de educação e fidelização com os consumidores.
Temos um mercado para pensar como inserir a produção local, extrativista e familiar dentro de um modelo sustentável, em que o consumidor possa reconhecer seus valores, com a oportunidade de trabalhar a construção de valor na cadeia e o processo de industrialização dentro das condições e regulações de certificação. Segundo o MAPA, o país conta com cerca de 16.000 produtores orgânicos cadastrados, número crescente a cada ano.
O tamanho do potencial do mercado de orgânicos no Brasil é de 207 milhões de habitantes, afinal não dependemos de importação de insumos e tecnologia, pois temos tudo aqui no nosso quintal.
*Ming Liu é diretor do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (ORGANIS) – mingliu@organis.org.br
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