A equipe que trabalha nas buscas do Pará encontrou corpos de mais duas crianças na manhã desta sexta-feira. O total de mortos no naufrágio da embarcação clandestina "Capitão Ribeiro", no Rio Xingu, chega a 23 — sendo quatro crianças. A Defesa Civil agora trabalha com apenas mais dois desaparecidos a resgatar. Já o número de sobreviventes passou de 23 para 27, em revisão feita na madrugada desta sexta-feira.
Segundo informações da Secretaria de Segurança e Defesa Social (Segup) do Pará, as duas crianças encontradas "estavam no porão do barco e foram localizadas no momento em que foram retiradas as mercadorias estocadas no local".
Os corpos são de uma menina de 8 a 10 anos de idade, e de um menino, de 1 a 3 anos. A Segup informa ainda que os dois foram levados ao município de Porto de Moz, onde há uma estrutura montada pelo governo estadual e onde será realizada a perícia.
SEM LICENÇA PARA TRANSPORTE
Conforme o GLOBO revelou, o dono da embarcação, Alcimar Almeida da Silva, admitiu em depoimento à Polícia Civil nesta quinta-feira que não tinha licença da Agência Estadual de Regulação e Controle de Serviços Públicos (Arcon) do Pará. Portanto, não poderia fazer o transporte de passageiros.
A Arcon do Pará também informou na tarde da última quarta-feira que o navio não estava registrado e, portanto, não tinha autorização para transportar passageiros. Em nota, o órgão afirmou que “a embarcação estava realizando o transporte clandestino de usuários”. O navio M/B Capitão Ribeiro pertence à empresa Almeida e Ribeiro Navegação Ltda e, segundo a Arcon, a empresa foi notificada no dia 5 de junho, mas não regularizou o serviço.
Já em relação à Capitania dos Portos, Alcimar afirmou que recebeu aval para navegar entre os municípios de Santarém e Prainha, mas que “nunca cumpria” a determinação para “otimizar custos”. Ou seja, ele extrapolava a medida, e foi justamente após esse trecho que o naufrágio ocorreu. As informações foram obtidas junto a uma fonte que acompanha de perto as investigações.
– Isso que causa mais espanto. Há três anos, apesar de receber aval da Capitania para se deslocar entre Santarém e Prainha, ele disse que nunca cumpre, que deixa de cumprir. Isso, segundo ele confessou, é por conta de querer otimizar custos. É para tentar economizar com a contratação de pessoal. Mas o que mais chama a atenção e deixa a gente estarrecido é que há três anos é feito. E ele admitiu – disse ao GLOBO uma fonte que acompanha as investigações de perto.
A embarcação Capitão Ribeiro saiu de Santarém, no oeste do Pará, às 18h de segunda-feira, e tinha escalas previstas nos municípios de Monte Alegre e Prainha antes de chegar ao porto de Vitória do Xingu. O naufrágio aconteceu na última etapa da viagem, entre os municípios Porto de Moz e Senador José Porfírio, por volta das 21h de terça-feira. O GLOBO já havia antecipado que a embarcação poderia ter apenas autorização para ir de Santarém à Prainha. A informação agora foi confirmada.
REVISÕES E FALTA DE LISTA DE PASSAGEIROS
Durante a madrugada desta sexta-feira, o número de sobreviventes no naufrágio da embarcação “Capitão Ribeiro” foi revisto: passou de 23 para 27. As alterações acontecem por não existir uma lista oficial com a relação dos passageiros. Assim, o trabalho de mapeamento de vítimas e sobreviventes é feito, basicamente, por cruzamento das informações fornecidas por familiares que se apresentam à Defesa Civil em busca de seus parentes, bem como pelo resultado das operações de buscas e trabalho da perícia.
Somando-se sobreviventes (27), mortos (23) e desaparecidos (2), chega-se a um total de 52 passageiros. O número é diferente daquele divulgado inicialmente pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) do Pará, que informou que havia cerca de 70 tripulantes a bordo. O dono da embarcação, por sua vez, inicialmente disse que eram 48 (na soma de passageiros e membros da tripulação). Depois, em depoimento prestado nesta quinta-feira, afirmou que 50 pessoas estavam no “Capitão Ribeiro”.
– Ficamos por conta dos corpos aparecerem, dos familiares informarem quem são os desaparecidos, comprovarem que estavam no barco… A partir do momento que não tem um documento oficial com controle (de passageiros), tudo é possível. O número de passageiros pode ser diferente do que ele (proprietário da embarcação) informou. E é isso que, de certa forma, está acontecendo. Enquanto não tivermos um documento, uma lista, vamos ter que trabalhar dessa forma (cruzando informações) – afirmou a fonte.
A possibilidade de corpos não serem encontrados também não está descartada. Questionada se a inexistência da relação de tripulantes e fatores naturais do Rio Xingu (como a correnteza e distância das margens) poderiam fazer com que vítimas nunca aparecessem, a mesma fonte que acompanha as investigações não negou a possibilidade.
– Não está descartado que não apareçam corpos, mas estamos trabalhando. Amanhã (esta sexta-feira) vamos continuar (a trabalhar). Os corpos estão aparecendo e cada vez mais nos aproximamos do número que tem sido trabalhado conforme as informações repassadas pelos familiares – disse.
O Globo
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