O uso de um smartphone na sala de aula pode ter efeitos positivos sobre a atenção e a aprendizagem, mas somente quando eles são usados para atividades centradas na instrução.
Você marca um encontro com seus amigos para colocar o papo em dia e nota que todos estão olhando para seus smartphones ao invés de conversar. Ou ainda suponha que você é um professor e precisa ensinar um conteúdo complexo de Física para seus alunos e percebe que boa parte da turma está desatenta, mexendo no celular.
Esses exemplos nos fazem refletir se a nossa capacidade de dar real atenção às coisas e ao momento do aprendizado encolheu. Acredito que os profissionais de aprendizagem e desenvolvimento devem usar as pesquisas fundamentadas sobre como aprendemos para, daí sim, termos base para a criação de um treinamento. Isso nos impede de cair em modas e usar métodos que possam diminuir o aprendizado. Não podemos processar, lembrar ou aplicar informações que não tenhamos realmente recebido, ou seja, que não tenhamos dado devida atenção.
Como funciona: Vamos falar, agora, sobre três problemas específicos de atenção que podem levar a dificuldades de aprendizagem:
1. Nosso processo de raciocínio favorece a resolução de problemas óbvios, em vez de questões e mudanças sutis.
2. A forma que processamos diferentes inputs (entradas de informação)
3. Somos multitarefas, o que realmente prejudica a atenção.
Nossos processos de pensamento dão mais importância às questões de perigo eminente e grandes mudanças ambientais. Um exemplo é que sempre estivemos atentos às atitudes provenientes de um outro ser humano ou até mesmo de um ataque animal. Agora, no entanto, a maioria das necessidades de atenção são com coisas mais sutis. Precisamos captar alguns sinais mais tênues que nos dizem para analisarmos profundamente uma determinada situação, como, por exemplo, quando tiramos um extrato bancário e ele vem com pequenos débitos, recorrentes e não autorizados que podem levar a um montante maior.
Nossos sentidos lidam com muitos inputs provenientes do ambiente que nos rodeia, mas muito pouco dessas informações são realmente processadas. Isso porque nossos sistemas de atenção e memória só podem processar uma pequena quantidade de cada vez. Internalizamos o que achamos mais importante. Mas o que é realmente significativo? O que estamos processando pode estar em desacordo? É muito fácil ter a atenção atraída por situações emocionais.
Também temos problemas para prestar atenção em informações que exijam processamento pelo mesmo "canal" de entrada. Sistematizamos a informação verbal (o que nos é falado) e visual (o que vemos) em diferentes "canais". E essas modalidades de interação são armazenadas em dois tipos de memória diferentes: memória verbal e memória visual. Desta forma, existiria uma maior chance de armazenamento e recuperação dessas lembranças, conforme necessário, quando as memórias relacionadas são armazenadas verbal e visualmente. Mas quando tentamos processar várias entradas de informações no mesmo canal, enfrentamos dificuldades. Por exemplo, não podemos processar facilmente duas pessoas falando ao mesmo tempo. Mas podemos observar as expressões faciais de um falante e processar suas palavras simultaneamente (canal visual e canal verbal).
E como se todos estes problemas relacionados a atenção não bastassem, ainda tentamos ser multitarefas. Pesquisas mostram, claramente, que não podemos fazer várias coisas ao mesmo tempo. O que estamos executando, quando achamos que estamos sendo multitarefa, é rapidamente mudar o foco de nossa atenção. E a mudança rápida, muitas vezes, prejudica nosso rendimento na atividade que estamos tentando realizar. Cal Newport, autor do livro Deep Work: Rules for Focused Success in a Distracted World, nos ajuda a entender que a multitarefa exige muito da atenção e realmente prejudica - de forma severa - a capacidade de nos concentrarmos e focarmos no que é mais importante para o sucesso.
No que a sua atenção tem trabalhado? Uma vez que percebemos todas os fatores que interferem na nossa atenção, entendemos que precisamos superar algumas barreiras para nos mantermos atentos. Temos muito trabalho a fazer:
1. Monitorar o ambiente ao nosso redor, suas ameaças e mudanças;
2. Ignorar informações provenientes de nossos sentidos, que nós acreditamos não serem necessárias neste exato momento.
3. Selecionar, a todo momento, onde iremos focar.
4. Ajudar a memória organizar o que é importante processar.
Nossas mentes se concentram muito nos itens 1 e 2, em detrimento de outras tarefas. Essa é uma das razões pelas quais eu não consigo ver um carro desacelerando na minha frente até que ele pare bem na frente e eu bata em seu para-choque. Não é, no entanto, simplesmente, que eu não estivesse prestando atenção. Na verdade, eu não estava me concentrando nas mudanças (sutis) do ambiente ao meu redor que me diziam que o carro adiante estava diminuindo sua velocidade ou parando. Meu foco era, provavelmente, sobre problemas emocionais: os comentários de um colega de trabalho ou a pessoa no banco do carona que estava ouvindo música alta.
Na pesquisa de Wilson e Korn sobre a atenção dos alunos durante as aulas convencionais foram encontradas poucas evidências de que realmente os alunos focam a atenção na exposição do que está sendo ensinado. E portanto, devemos, dizem eles, fazer o máximo possível para aumentar a capacidade dos estudantes de prestarem atenção e garantir que eles tenham selecionado corretamente as ideias mais importantes.
Distrações...saiam daqui! Uma implicação óbvia dos problemas aqui abordados são as dispersões. Mas os smartphones são úteis ou uma distração? Eu duvido que você tenha problemas com os resultados da pesquisa porque nós usamos nosso celular, laptop ou tablets durante aulas, oficinas, apresentações e conferências. É tão fácil afastar-se da pessoa que fala e focar naquilo que a mente nos diz ser fundamental (mas provavelmente não é): e-mail, Facebook, você o nomeia.
O uso de um smartphone pode ter efeitos positivos sobre a atenção e a aprendizagem, mas somente quando eles são usados para atividades centradas na instrução. Mas quando os laptops não são usados estritamente para atividades relacionadas com a aquisição do conhecimento, vemos os seguintes resultados negativos: mais distrações, falta de engajamento nas atividades e, em última análise, menos aprendizado. Coloque distrações junto com dificuldades de atenção típicas e temos uma receita para não aprender. A pesquisa sobre o comportamento dos alunos na classe mostra que as pessoas estão distraídas pelas atividades não relacionadas ao foco da aprendizagem.
Nem tudo está perdido! Essa dificuldade crônica de atenção pode ser resolvida se soubermos monitorar nosso ambiente e extrair dele as atividades que precisam ser nosso foco. É necessário também ignorar as informações desnecessárias que insistem em desviar nossa atenção.
Além disso, podemos lançar mão dos dispositivos tidos como protagonistas da distração para, por meio deles, impulsionar nossa aprendizagem. Mas para que isso aconteça, devemos buscar formas mais adequadas e adaptadas para esses artefatos tecnológicos. Nos treinamentos corporativos, por exemplo, eu auxilio as empresas na construção de aplicativos que sejam persuasivos, ou seja, que atraiam a "atenção" dos usuários nos temas que elas querem que sejam aprendidos. Para isso, utilizo várias técnicas de Design de Interface (UX/UI), técnicas de aprendizagem baseadas em Microlearning e alguns conceitos de Ensino Adaptativo, que transformam conteúdos densos em pílulas, facilitando o aprendizado e se adequam a cada indivíduo.
Mas, em suma, o importante é entendermos que a atenção não está diminuindo ou aumentando, e sim, os fatores externos a ela que vão se alterando com o passar do tempo. Antes não existiam smartphones, Internet, Facebook, Instagram, Snapchat e etc. Por isso, devemos nos manter vigilantes em formas e atitudes que podem melhorar nossa atenção e, por consequência, nosso aprendizado, porque aprender sem atenção é IMPOSSÍVEL.
Espero que este artigo forneça algumas dicas de como melhorar sua atenção e, consequentemente, sua produtividade.
*Sobre Samir Iásbeck
CEO e Fundador do Qranio, plataforma mobile de aprendizagem que usa a gamificação para recompensar os usuários e estimulá-los a se envolver com conteúdos educacionais em todos os momentos. Seu foco é auxiliar companhias na criação de treinamentos personalizados e 100% móveis para possibilitar que os colaboradores destas empresas tenham acesso às informações na hora e no local que necessitam, por meio de recursos que incentivam o autodesenvolvimento. Com base em conteúdo adaptado, baseado em microlearning, a plataforma se encaixa no estilo de vida “on the go” dos colaboradores. O Qranio também possui seu aplicativo disponível gratuitamente para Android e iPhone (iOS) e já conta com mais de 1 milhão de usuários inscritos e 43 milhões de perguntas respondidas. O app também disponibiliza uma loja virtual onde os usuários podem trocar suas moedas virtuais (os Qi$) por prêmios reais.
PiaR
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