Em meio a retrocessos que ameaçam Unidades de Conservação na Amazônia, Temer tenta positivar a agenda ao triplicar área de parque nacional no Cerrado. Segundo Mariana Napolitano, do Programa de Ciências do WWF-Brasil, a nova área do parque – de cerca de 180 mil hectares – deverá ser totalmente integrada à gestão atual.
Em cerimônia no Palácio do Planalto na manhã dessa segunda-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente, o presidente Michel Temer assinou o Decreto que triplica a área do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Com a medida, a unidade de conservação de proteção integral salta dos atuais 65 mil hectares para 240 mil hectares de área contínua, além de um pedaço, adjacente, que inclui as regiões de Sertão Zen e Macacos. Trata-se de uma das melhores notícias do ano, e chega em meio a uma tentativa de desmanche de Unidades de Conservação na Amazônia, promovida pelo Congresso Nacional com explícito apoio do governo.
Mesmo sendo de altíssimo interesse para a conservação entre as diversas regiões naturais da Terra, o Cerrado é um dos biomas brasileiros que menos tem áreas federais sob regime de proteção integral – cerca de 3 % apenas. Com a ampliação, a situação melhora um pouco. Mas ainda está longe do ideal. O compromisso do Brasil é ter 17% de todas os biomas protegidos por lei. Apesar de sua importância global, estima-se que o Cerrado já tenha perdido mais do que a metade de sua cobertura vegetal nas últimas décadas devido ao avanço do agronegócio e a ocupação humana. O parque de Veadeiros tem sido um freio ao avanço do desmatamento.
Ganho para o Brasil
Além de destinarem-se à conservação da biodiversidade, os parques nacionais são importantes vetores de desenvolvimento econômico e social, por meio da visitação, pesquisa científica e educação ambiental. Na área de expansão do parque de Veadeiros, os cientistas identificaram pelo menos nove tipos de fisionomias vegetais (matas de galeria, mata seca, cerradão, cerrado sentido restrito, vereda, campo sujo, campo limpo e campo rupestre).
Nesse meio, pelo menos 17 espécies de plantas encontram-se ameaçadas de extinção, segundo a lista vermelha do Ministério do Meio Ambiente.
A diversidade de paisagens indica que a fauna da região também é bastante rica, e precisa ser melhor compreendida, antes que desapareça. Com a ampliação, o parque de Veadeiros passa a proteger 34 espécies de animais ameaçados de extinção, sendo 15 de aves, 18 de mamíferos e uma espécie de abelha nativa.
Transitam livremente pelo parque de Veadeiros populações de lobo-guará, onça pintada, raposinha-do-cerrado, pato-mergulhão, cachorro-do-mato-vinagre, morcego-beija-flor. Lá, eles estão seguros. A ampliação aumenta as chances de sobrevivência dessas espécies. O parque também protegerá cerca de 600 nascentes, garantindo segurança hídrica para o futuro da região.
“Estamos deixando ali uma reserva de vida, de esperança para a ciência, um espaço de contemplação e revigoramento do espírito. É um ganho para todo o Brasil e as gerações que vêm por aí”, assinala Jaime Gesisky, especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil, organização que liderou a campanha pela ampliação do parque juntamente com a Coalizão Pró-UCs.
#ampliaveadeiros
Em dezembro do ano passado, o WWF-Brasil e a Coalizão Pró-UCs iniciaram uma campanha pela ampliação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Depois de colocar no ar uma petição online pedindo que o governo de Goiás desse a anuência e o governo federal concretizasse a ampliação, a campanha promoveu uma série de ações de engajamento da sociedade em torno da ideia de aumentar a proteção da unidade de conservação.
A petição ficou durante mais de cinco meses reunindo assinaturas de pessoas de todo o país interessadas em ver o parque ampliado. Foram mais de sete mil brasileiros que aderiram à campanha. O documento foi entregue na semana passada no Palácio do Planalto. A adesão da comunidade que vive próxima ao parque foi imediata. Artistas locais emprestaram sua arte para a causa de Veadeiros.Os vídeos produzidos ao longo da campanha revelaram que a sociedade não só havia entendido o sentido da ampliação como também almejavam isso em nome das futuras gerações. A moradora e líder espiritualista de Alto Paraíso, Darshan de Freitas pediu pela ampliação por se tratar de uma causa de interesse global. A pesquisadora Gislaine Disconzi – que estuda a ecologia do pato-mergulhão na Chapada dos Veadeiros avalia que o parque será vital para proteger as espécies ameaçadas e as paisagens do Cerrado.
Já o herpetólogo e professor da Universidade de Brasília, Reuber Brandão, um dos mais ativos pesquisadores da região de Veadeiros apelou em nome da ciência. “Ampliar Veadeiros é um passo civilizatório”, disse ele. O chefe do parque, Fernando Tatagiba, acredita que a ampliação aumentará ainda mais o potencial turístico do parque com impactos positivos na economia local.
Desafios da ampliação
Segundo Mariana Napolitano, do Programa de Ciências do WWF-Brasil, a nova área do parque – de cerca de 180 mil hectares – deverá ser totalmente integrada à gestão atual. Os novos limites da unidade exigirão esforços de planejamento e implantação. “Será preciso avaliar o potencial e vulnerabilidade de cada porção da UC, redefinindo seu zoneamento para garantir que a mesma cumpra todo o seu potencial”, diz Mariana.
Novos atrativos turísticos, trilhas e travessias poderão ser incorporados, propiciando mais oportunidades de visitação ao público que já visita Veadeiros, além de novas oportunidades de negócios para a comunidade local. “O desafio da implantação de Veadeiros poderá ser superado por meio de um grande pacto entre a gestão da unidade, ONGs e atores locais. Estamos prontos para fazer parte dessa história”, afirma Maurício Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil.
Sobre o WWF
O WWF-Brasil é uma organização não governamental brasileira dedicada à conservação da natureza, com os objetivos de harmonizar a atividade humana com a conservação da biodiversidade e promover o uso racional dos recursos naturais em benefício dos cidadãos de hoje e das futuras gerações. Criado em 1996, o WWF-Brasil desenvolve projetos em todo o país e integra a Rede WWF, a maior rede mundial independente de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países e o apoio de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários.
O WWF-Brasil é uma organização não governamental brasileira dedicada à conservação da natureza, com os objetivos de harmonizar a atividade humana com a conservação da biodiversidade e promover o uso racional dos recursos naturais em benefício dos cidadãos de hoje e das futuras gerações. Criado em 1996, o WWF-Brasil desenvolve projetos em todo o país e integra a Rede WWF, a maior rede mundial independente de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países e o apoio de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários.
JB Press/WWF-Brasil
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