Aliados do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), começaram uma campanha em defesa do nome do parlamentar fluminense como candidato a presidente da República em uma eventual eleição indireta, caso o presidente Michel Temer renuncie, seja cassado ou sofra impeachment. A candidatura dele já é defendida publicamente por líderes de partidos médios e nanicos e, nos bastidores, por lideranças de grandes partidos da base aliada e pela oposição.
O nome de Maia como candidato a presidente começou a ser defendido por aliados dele desde que as primeiras notícias sobre a delação de executivos do grupo JBS começaram a ser divulgadas, na última quarta-feira, 17, incriminando o presidente Michel Temer. Em jantar naquele dia na casa do líder do PT do B, Luis Tibé (MG), por exemplo, deputados de partidos da base, como PP, defenderam abertamente a candidatura.
“O momento ainda é de muita incerteza, mas o Rodrigo seria um bom candidato. Tudo que ele promete ele cumpre”, afirmou Tibé ao Broadcast/Estado. Líder do PEN, outro partido nanico como o PTB, o deputado Junior Marreca (MA) também defende a candidatura. “Defendo o Rodrigo como candidato. Ele tem conduzido a Câmara com tranquilidade e é a opção mais viável que existe hoje. Não tem outro nome”, afirmou
Uma eventual candidatura de Maia, que é alvo da Lava Jato, tem apoio público até de deputados que já fizeram oposição ao parlamentar fluminense. “Se por acaso o presidente sair, acho que ele é uma boa alternativa. Ele tem condições de ser eleito”, afirmou o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), presidente do Solidariedade. Paulinho da Força, como é conhecido, era um dos líderes do antigo “Centrão”, grupo de siglas médias que disputava espaço na base com o grupo de Maia.
Favorecido. Defensores de Maia elencam pelo menos três fatores que favorecem a candidatura dele a presidente da República. O primeiro é a boa relação com a oposição, que o apoiou nas duas eleições para presidência da Câmara. Publicamente, opositores falam que o foco deles será a defesa de eleições diretas. Em reservado, porém, parlamentares do PT e do PCdoB já admitem que poderão apoiá-lo, desde que se comprometa a fazer reformas “mais brandas" do que as propostas por Temer.
Outro fator seria o apoio de Maia dentro da própria base aliada. Aliados lembram que o parlamentar fluminense foi reeleito em fevereiro deste ano no primeiro turno da disputa pela Presidência da Câmara por 293 votos, pouco menos do que os 298 votos que um candidato a presidente da República precisa para ser eleito de forma indireta por deputados e senadores. "Ele cumpre o que ele promete", diz um líder da base.
Maia tem “entusiastas” em partidos como PPS, PTN, DEM e até no PSDB – os dois últimos são principais partidos de sustentação hoje do governo Michel Temer. Parlamentares dessas legendas, contudo, não querem falar publicamente sobre o assunto, sob o argumento de que é preciso primeiro esperar a situação do presidente Temer ser resolvida, para só então dar início a uma ofensiva mais explícita em defesa da candidatura do parlamentar fluminense.
Deputados desses partidos lembram que uma eventual candidatura de Maia acrescentaria mais um cargo para entrar nas negociações, o que ajuda a facilitar as discussões. Em uma eventual eleição indireta, estarão em disputa os cargos de presidente e vice-presidente. Mas, se o parlamentar fluminense for candidato a uma dessas vagas, a presidência da Câmara ficará vaga e poderá entrar na negociação por apoio.
Os cenários traçados por aliados de Maia preveem que esses três cargos podem ser divididos entre PMDB, PSDB e DEM, principais pilares de sustentação do governo Temer hoje. Com essa aliança, defensores da candidatura do presidente da Câmara acreditam que poderia haver um “acerto” para preservar grande parte da equipe de ministros de Temer, mantendo o foro privilegiado deles, cuja maioria é investigada pela Lava Jato.
Espera. O presidente da Câmara, por enquanto, ainda não se movimenta nesse sentido. Segundo líderes partidários, o comportamento de Maia tem sido “exemplar”. “Não vejo ele trabalhando para isso. Ele tem sido muito correto com o presidente”, disse um líder. Pelo contrário, lembram que o parlamentar fluminense vem colaborando na reaglutinação da base governista e se esforçando para manter o plenário votando as matérias da agenda econômica.
Fontes ressaltam que, em discurso durante reunião no Palácio da Alvorada no último domingo com Temer, Maia chegou a se emocionar ao dizer que se chegou aonde chegou, foi graças a Temer e que não seria instrumento de desestabilização do governo. A interpretação é de que, mesmo que Maia quisesse disputar futuramente, não seria inteligente de sua parte trabalhar para derrubar o presidente da República, uma vez que mesmo fora do jogo, Temer seria um cabo eleitoral importante para Maia, principalmente dentro do PMDB.
Segundo seus interlocutores, Maia sabe que seria um candidato “natural” ao cargo, mas decidiu se preservar e interditar qualquer comentário nesse sentido. “Seria um erro ele estar fazendo qualquer movimento para derrubar o Michel”, comentou um deputado. Ainda de acordo com líderes partidários, Maia está atuando para que Temer continue no cargo. Eles contam que Temer teria dito ao grupo que vai lutar de todas as formas possíveis para se manter no cargo.
A oposição reconhece que tem uma relação amistosa com Maia (diferente da relação com Cunha), que ele seria o candidato natural, mas que ele deixou claro que não vai “empurrar”, tampouco defender o presidente da República. O discurso é que essa boa relação com Maia não seria suficiente para apoiar uma futura candidatura dele, uma vez que ele “se comporta como líder do governo Temer” no plenário. O cenário só mudaria se ele mudasse essa agenda de reformas.
Estadão Conteúdo
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