De acordo com o delegado do Cordeiro, Carlos Couto, a mãe procurou a polícia após tomar conhecimento de uma postagem de uma foto no Facebook. A imagem foi encontrada pelo tio da vítima, na madrugada da última quarta (10), onde aparece uma menina semi-nua, com sinais de autoflagelações na região do abdômen e pernas. Outras lesões também foram encontradas na região dos punhos.
A mãe disse que a filha não quis mostrar o corpo para que ela confirmasse a suspeita. “Ela resistiu um pouco, mas acabou permitindo, e eu constatei que o corpo dela estava mutilado, mas, de maneira nenhuma, ela confessou, apenas silenciou durante toda a conversa. Eu fiquei horrorizada, apavorada, e de imediato me prontifiquei a procurar a polícia”, contou.
A jovem teria sido captada em uma comunidade na rede social Facebook. A polícia teve acesso ao celular da garota, onde verificou no aplicativo Messenger, do Facebook, o diálogo entre ela e os chamados curadores do “jogo”, as pessoas que convidam os jovens a participaram e comandam a entrega dos desafios a serem cumpridos o tempo todo.
“Foi instaurado um inquérito policial e, em princípio, constatamos que há evidências sim da participação dessa jovem no ‘jogo’. Inclusive, ela teria confessado que estava jogando para outras duas familiares, que ainda serão ouvidas. Pelo número de mutilações, pelas mensagens que contam no aplicativo dá sim a entender que ela já estaria pelo menos na parte final do ‘jogo’, uma vez que há uma mensagem em que o suposto curador pede para ela subir até um telhado, possivelmente para se jogar”, disse o delegado.
A adolescente foi levada à Delegacia do Cordeiro, mas não quis colaborar com a investigação. Depois, ela foi encaminhada ao Instituto de Medicina Legal (IML), também no Recife, onde não quis mostrar todas as lesões. O delegado acredita que a jovem está sendo coagida pelos curadores do jogo.
“Ela não mantém nenhuma espécie de comunicação verbal, nem mesmo com os pais. Para vocês terem uma ideia, do final da manhã até por volta das 18h [de quinta], a gente não conseguiu extrair nada, nenhuma palavra dela, nem por escrito, [meros acenos de cabeça. Ela demonstra interesse em permanecer no 'jogo', mantém insistente vontade de ter acesso ao celular e redes sociais, onde estava concentrando a vida”, informou.
A polícia trabalha para identificar os supostos curadores, que conversavam com a adolescente por meio do Facebook. “Possivelmente, esses criminosos devem estar atuando com diversas outras pessoas, por isso a importância dos pais, e no ambiente escolar, estarem sempre atentos para notificar esses casos o mais rápido para a polícia”, apontou o delegado. Dos oito casos registrados no estado, dois estão sob investigação da Polícia Federal.
Caso mais grave
Segundo o chefe da Polícia Civil de Pernambuco, Joselito Kehrle, esta é a ocorrência mais preocupante de todas que já foram notificadas no estado. "Esse caso foi o mais grave dos oito que Pernambuco está investigando porque ela [a jovem] se encontrava na fase final do ‘jogo’. O nome baleia azul é porque o animal, em determinado momento da vida, se suicida. Provavelmente o curador deve, se ela reatar a comunicação, estar ameaçando de alguma forma a mãe, o pai ou ela própria, e ela está, digamos assim, obstinada a cumprir a a última tarefa, que seria o suicídio. Por isso, é um caso gravíssimo, que a gente tem trabalhado com toda cautela e cuidado”, explicou.
Kehrle informou que a polícia vai buscar, por meio da Secretaria Estadual de Saúde, atendimento psicológico e psiquiátrico para que a jovem saia definitivamente do ‘jogo’, algo que ela se recusa. O idealizador do jogo, o russo Philippe Budeikin, 21 anos, segundo o chefe da Polícia Civil, foi preso e confessou que queria uma “assepsia biológica” das pessoas que queriam morrer, porque elas seriam frágeis.
“Os psiquiatras forenses dizem que as pessoas que entram no jogo já têm um buraco afetivo que é preenchido pelo curador, e ai as pessoas ficam subjugadas ao curador, atendendo todas as tarefas que são colocadas. Neste caso [da jovem de 19 anos], pela última mensagem, acredito que seria a última etapa do ‘jogo’. Assim como a baleia azul se mata, ela subiria até o lugar mais alto e lá receberia a última missão, que possivelmente seria saltar do prédio”, disse.
Uma das recomendações de Kehrle para os pais é que fiquem atentos a sinais como isolamento, muito tempo gasto na internet e marcas no corpo dos filhos. A mãe da jovem relatou à polícia que teve muita dificuldade em obrigar a filha a se despir. “O que ocorreu é que ela fez uma postagem dentro do grupo, que era uma das tarefas, onde aparece com uma marca de crucifixo feito á faca ou por estilete. A partir dai, ela verificou que aquelas marcas que tinham na foto estavam no corpo da filha”, explicou.
A mãe contou que a jovem já era bastante introspectiva e, de três meses para cá, passou a se relacionar menos com os pais. “Há mais ou menos uns três meses, eu venho notando a mudança de comportamento na vida da minha filha, como se aprisionar no quarto, passar muitas horas no banheiro com a porta fechada, escutar música melancólica. Ela vinha, há algum tempo, se sentindo confortável em ver filmes tristes, de terror, bastante macabros, de origem perversa. Ela sempre foi introspectiva, mas estava mais fechada”, disse.
Outros casos
Até o dia 20 de abril, as polícias Civil e Federal já tinham registrado sete casos de adolescentes envolvidos com o “jogo” no estado. Dois foram no Recife – um menino no Ibura e uma menina em Brasília Teimosa , na Zona Sul; uma em Paulista e outro em Moreno, na Região Metropolitana; um adolescente em Goiana e outro em Vicência, na Mata Norte.
O caso mais recente tinha ocorrido no bairro do Ibura. Segundo a polícia, numa das tarefas, o jovem tinha que filmar o sacrifício de um gato e beber o sangue dele. No “jogo”, a filmagem teria que ser enviada ao aliciador, conhecido como “curador”, para comprovar que a tarefa foi cumprida. Caso não fosse, a vítima e família dela seriam ameaçadas de morte.
As investigações acontecem tanto em âmbito local quanto nacional e contam com uma força-tarefa e com a colaboração de polícias de diversos estados. Os aliciadores, mesmo que tenham menos de 18 anos, podem ser responsabilizados, junto com seus responsáveis legais. Atualmente, no Brasil, há casos de suicídio e mutilação sob suspeita ou confirmação de ligação com o jogo em nove estados: Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia, Alagoas, São Paulo, Distrito Federal e Paraíba.
Confira as recomendações da Polícia Federal:
O jogo Baleia Azul
A referência do nome do jogo não é por acaso. As baleias são popularmente conhecidas por comportamento suicida ao forçarem o encalhe na praia. Uma das teorias é a “hipótese do integrante doente”, quando uma baleia doente procura águas rasas e tranquilas em busca de segurança, outras baleias a seguem e acabam encalhadas também.
Tudo na internet se espalha muito rápido, mesmo as coisas mais inacreditáveis. Neste caso não é diferente. O fenômeno ganhou visibilidade e vem se alastrando pelo mundo e tudo começou na Rússia, em 2015, quando uma jovem de 15 anos tirou a própria vida; dias depois, uma adolescente de 14 anos, Rina Palenkova, cometeu suicídio na cidade de Ussuriysk.
Depois de investigar as causas, a polícia ligou os fatos a um grupo que participava de um desafio com 50 missões, sendo a última delas acabar com a própria vida. A partir daí aconteceram cerca de 130 suicídios de crianças ocorridos na Rússia de novembro de 2015 a abril de 2016 e que de acordo com eles, quase todos eram membros do mesmo grupo na internet.
Causas do suicídio
As autoridades dizem que as causas principais são amor não correspondido, problemas familiares, dificuldades na escola, luto na família, saúde mental, falta de oportunidades, desemprego e abuso de drogas.
Cibercriminosos coagem adolescentes
Jogos com apelos de riscos letais têm virado moda entre os adolescentes como o jogo da asfixia, desafio do sal e gelo e jogo da fada. Os adolescentes e pré-adolescentes estão em uma fase em que ainda não percebem as consequências de seus atos esse jogo pode atrair não só aqueles em situação vulnerável, mas também outros, pela sedução da emoção que os desafios propõem.
Pessoas fragilizadas por eventos traumáticos, isoladas emocionalmente, que possuem dificuldade em confiar ou que se sentem cobradas e exigidas em demasia são mais propensas a desenvolver quadros depressivos que as tornam alvos fáceis para esse tipo de manipulação. Então, utilizando-se da inocência, da paranoia e da neurose de suas vítimas fazem elas a acreditar que estão à mercê dos administradores;
As vítimas
Normalmente, os alvos dos criminosos são crianças e adolescentes, já que são facilmente impressionáveis e por isso são coagidas a participar do jogo no Facebook ou Whatsapp. Em virtude de terem acesso ao banco de dados do Serasa e Cadastro Nacional (com dados pessoais como nome completo, escola em que estuda, média de notas escolares, cidade, endereço, IP e nome de amigos próximos), os aliciadores passam a assustar as vítimas menores de idade ao mostrar dados pessoais e fazer ameaças.
A criança se sente pressionada e amedrontada e passa a interagir com eles! As ameaças de seguem com perguntas tais como: “Desenhe uma baleia com estilete no braço, depois tire uma foto quando estiver sangrando e me envie. Você, seus amigos e sua família correm perigo, espero que você salve a eles. Dez minutos para a conclusão, fico no aguardo.”
Fragilidade
Através de informações pessoais deixadas pela própria criança como problemas em casa, brigas com os pais, notas baixas na escola, tristeza por ter acabado um namoro, morte na família – então eles se aproveitam desta fragilidade sentimental para incentivar a participar do jogo. Acontece que esses cibercriminosos estão entrando em grupos até de autoajuda, de superação da depressão, discussão sobre transtorno de ansiedade generalizada e aconselhamento pró-vida no Facebook para encontrar e atacar suas vítimas.
Onde se joga
Através de links em grupos contidos no Facebook, numa rede social russa chamada VK atualmente com mais de 33 milhões de usuários ou até mesmo em grupos do Whatsapp criados para essa finalidade.
Como se joga
Os adolescentes são previamente selecionados para participar de 50 desafios macabros, onde alguém por trás da tela (curador- é a pessoa que convida os jovens para o jogo e comanda e entrega os desafios para serem cumpridos o tempo todo) manipula e dá as ordens para serem cumpridas pelo jogador. As tarefas que incluem escrever frases e fazer desenhos com lâminas na palma da mão e nos braços e com queimaduras, bater fotos assistindo a filmes de terror de madrugada, ficar doente, subir no alto de um telhado ou edifício, escutar músicas depressivas, na última “missão” tirar a própria vida.
Vítimas no Brasil
Além de Pernambuco, houve vítima em diversos estados, como Mato Grosso e Minas Gerais (com mortes de uma menina em uma represa e de um menino de overdose de remédios – indícios de cortes no braço e no Whatsapp comentários sobre o jogo, respectivamente). Na Paraíba, a Polícia Militar investiga casos em que uma classe de alunos já estariam no procedimento de mutilação.
Como se proteger
1- Denuncie nos grupos. Se você perceber algum amigo postando fotos e mensagens estranhas nas redes sociais, talvez ele esteja jogando o baleia azul, não ignore, denuncie. O próprio Facebook possui ferramentas de denúncia.
2- Você poderá lavrar um boletim de ocorrência em uma delegacia e caso você tenha acesso às conversas trocadas entre o mentor e o jogador, pode comparecer a um cartório de notas onde será lavrada uma ata notarial, dando fé pública ao conteúdo das mensagens (essa ata será importante fonte de prova caso as mensagens sejam apagadas).
Alerta aos pais
1 – Os pais devem atrair a confiança dos filhos através do diálogo franco e aberto sem qualquer tipo de repressão para que no primeiro sinal de perigo a criança possa sentir-se à vontade e procurar sua ajuda, confidenciando-lhes o que está acontecendo;
2 – Observe o comportamento estranhos dos filhos tais como isolamento, tristeza aguda, decepção amorosa, comportamentos depressivos, atitudes suicidas;
3 – Preste atenção no corpo de seu filho se não existe sinais de mutilação ou queimaduras e se ele de repente está usando camisas de mangas compridas para evitar a exposição de tais marcas;
4 – Há tempo para tudo. Evite que seus filhos fiquem expostos a altas horas na internet e assistindo filmes na televisão pela madrugada.
5 – Observe se ele não está saindo de casa escondido em horários pela madrugada com o objetivo de cumprir tarefas impostas pelo jogo;
6 – Os pais devem supervisionar os acessos dos filhos de uma forma discreta; A vida moderna exige que os pais tenham pelo menos conhecimento básico de internet – peça ao seu filho para ser adicionado nas redes sociais deles, fazendo isso você poderá saber o que está se passando com ele e com quem eles estão interagindo. Caso os pais não tenha idade para aprender a conviver com este mundo virtual eles devem delegar tal tarefa para um parente mais próximo (irmão, primo, sobrinho) a quem o adolescente seja próximo e confie;
7 – Quando possível deixe o computador num local comum e visível da casa;
8 – Se vetar alguma página explique as razões e os perigos da rede;
9 – Evitar expor informações particulares e de dados pessoais em demasia: (telefones, endereços, CPF, horário que sai de casa e para onde está indo, localização acessível o tempo todo, etc);
10 – Evitar colocar fotos tais como: locais onde frequenta (clubes, teatros, igrejas), carros (a placa localiza o endereço), casa (mostra onde a pessoa mora);
11. – Nunca incluir desconhecidos nos contatos;
Outras formas de obter ajuda
1 – Também as escolas devem colocar o assunto em pauta e incorporar no currículo, cada vez mais, a educação para a valorização da vida, o respeito pela vida dos outros e o uso consciente das mídias e tecnologias.
1 – E, por fim, não custa lembrar que o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta um serviço incrível por meio do telefone 141 e você sempre pode buscar órgãos apropriados como a SaferNet e autoridades locais.
Tipificação penal
A conduta dos mentores do Baleia Azul é criminosa. “Induzir (criar a ideia de suicídio em alguém), instigar (incentivar alguém que já estava pensando em suicídio) ou auxiliar (ajudar materialmente o suicida) o suicídio de outra pessoa é crime, de acordo com o artigo 122 do Código Penal, punido com pena de dois a seis anos de prisão caso o suicídio se consuma ou de um a três anos de prisão caso a tentativa de suicídio resulte em lesão corporal grave. Caso tais pessoas sejam menores, as condutas criminosas que praticarem entram como ato infracional, estando sujeitos às penalidades instituídas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A indenização cível deverá ser paga pelos seus responsáveis legais.
Via FolhaPE
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