Cerca de 40 mil pessoas já são afetadas pela salinização das águas do Velho Chico que, sem forças para correr para o mar, está sendo invadido por ele (Foto: Antelmo Leão)
Aos 73 anos, nascido e criado em Piaçabuçu, onde o São Francisco encontra o mar, Durvan Gonçalves é, ele próprio, uma foz – de memórias. Aposentado há pouco mais de uma década, passou a vida inteira dentro do rio: “Sou do tempo em que os pescadores voltavam para casa com o barco forrado”. A fartura era tanta que Seu Durval, como é conhecido no município de 19 mil habitantes, situado no estado de Alagoas, criou 12 filhos, todos “estudados”, como faz questão de ressaltar. “Estamos vendo o rio morto, morto… Antes era canoa cheia de pilombetas, agora nem pra comer”, afirma, olhando desolado para aquele pedaço de São Francisco sendo engolido pelo mar.
A situação na cidade é, de fato, crítica. Piaçabuçu encontra-se entre os municípios mais afetados pela salinização das águas, ocasionada pelo baixo índice pluviométrico do São Francisco. Sem forças para correr para o mar, o rio vem sendo invadido por ele. No último dia 5, a direção do CBHSF reuniu-se com membros da Comissão Processante do Conflito pelo Uso, representantes dos órgãos nacionais competentes e representantes dos moradores. O encontro aconteceu em Salvador. Foram mais de cinco horas de debates na audiência de conciliação e o resultado poderia ter sido mais satisfatório, segundo o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda.
“Poderia ter avançado muito mais, economizado tempo e até recursos se alguns atores importantes nesse contexto, a começar pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mas também a Agência Nacional de Águas (Ana), Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e o Ministério da Integração, estivessem participando”, ressaltou Miranda. “Quando convocamos tais instituições, não fazemos um convite social. Estamos chamando para, ainda no terreno da conciliação, na construção de consensos, ajudarem a encontrar solução para um problema que atinge milhares de pessoas na foz do São Francisco. É uma questão de saúde nacional”.
Ao todo, somam-se cerca de 40 mil pessoas afetadas pela salinização das águas. Cada uma destas pessoas com sofrimentos pessoais e pelejas individuais. A dona de casa Regiane Vieira sempre lavou roupa no rio. Ela conta que antigamente até dava para lavar de “ganho”, fazendo um dinheirinho extra, mas, atualmente, um pacote de sabão com cinco barras não é suficiente para uma trouxa. “Quando esprememos a roupa sai uma espuma amarela, a água fica parecendo uma nata de leite, toda cortada, em pedaços mesmo”, lamenta. Outro problema, segundo Regiane, é a necessidade de correr toda vez que a maré baixa, sem perder tempo. Na vazão, a água fica menos salgada e é, nesta hora, que se enchem os baldes.
“Sinto falta de água boa, da fartura de peixes. Rezo para que chova bastante para o rio encher. Gostaria que a água melhorasse, pois vivemos da pesca e se ela arriar acabou-se tudo”, desabafou a dona de casa.
A profissão de pescador é uma das mais antigas do mundo e, em Piaçabuçu, é passada de pai para filho. Assim foi com Pedro Lucas, 17, que recebeu-a de herança do pai, Tadeu dos Santos, 51. O pai tira – literalmente – o chapéu para falar do velho Chico: “Era fundo, fundo, agora a gente anda a pé por ele. Nem enchente temos mais. O peixe está difícil, antes dava muita manjuba, pegávamos 150kg a 200 Kg de uma vezada, hoje só conseguimos 2 Kg no máximo”.
Leia a matéria completa em http://cbhsaofrancisco.org.br/quando-o-rio-nao-corre-para-o-mar/
Texto: Vitor Luz/Ascom CBHSF
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