Anunciado nesta quinta-feira (20) pelo delegado da Polícia Civil Darlson Macedo, gestor do Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA), o trabalho em conjunto com a PF tem o objetivo de encontrar os responsáveis por coagir os participantes do jogo. “Logo de cara, é possível identificar os crimes de ameaça, lesão corporal e induzimento ao suicídio”, explica, já que as vítimas são desafiadas a cumprir tarefas que envolvem mutilação corporal.
De acordo com o gestor do DPCA, o caso recente de uma adolescente no município de Paulista já possibilitou a identificação de alguns dos números de telefone utilizados pelos criminosos para fazer as ameaças. “Quando a mãe da vítima nos procurou, determinamos a saída dela do grupo. Assim que ela deixou de fazer parte da rede, ela começou a receber ameaças via WhatsApp. Foi aí que identificamos os números e já estamos tomando as providências”, explica, referindo-se a telefones com códigos da Bahia, de Minas Gerais e do interior do Rio de Janeiro.
O trabalho de investigação também é complementado pelos depoimentos dos jovens que são vítimas das ameaças. “Normalmente os jovens, com medo, negam que estão participando do jogo, mas ainda assim estamos conseguindo extrair informações”, afirma o delegado.
Ainda segundo Macedo, o grau de dificuldade dos desafios aumenta a cada fase e, na última, os participantes são encorajados a tirarem a própria vida. “O adolescente que participa acredita que aquela ameaça é real, porque eles [os ‘curadores’] têm várias informações daquela pessoa. Muitas delas fornecidas pela própria vítima, o que é mais grave”, comenta o delegado, ressaltando a importância da observação dos pais ou responsáveis para evitar esse tipo de situação.
“É muito importante que os pais estejam junto dos filhos, que acompanhem as rotinas e que chamem a polícia caso detectem algo diferente. É um caminho sem volta”, alerta.
Recomendações
As recomendações para as famílias são: monitorar o uso da internet, frequentar as redes sociais dos filhos, observar comportamentos estranhos e, sobretudo, conversar e conscientizar os adolescentes a respeito das consequências de práticas que nada têm de brincadeira. Atenção redobrada com os jovens que apresentem tendência a depressão, pois eles costumam ser especialmente atraídos por jogos como o da Baleia Azul.
Também as escolas devem colocar o assunto em pauta e incorporar no currículo, cada vez mais, a educação para a valorização da vida, o respeito pela vida dos outros e o uso consciente das mídias e tecnologias.
O G1 ouviu especialistas que dão dicas de como lidar com o tema:
1. Fique atento à mudança de comportamento
Uma mudança brusca de comportamento pode ser sinal de que a criança ou o adolescente esteja sofrendo com algo que não saiba lidar, segundo Elizabeth dos Reis Sanada, doutora em psicologia escolar e docente no Instituto Singularidades.
“Isolamento, mudança no apetite, o fato de o adolescente passar muito tempo fechado no quarto ou usar roupas para se esquivar de mostrar o corpo são pistas de que sofre algo que não consegue falar”, diz.
2. Compartilhe projetos de vida
Para entender se a criança ou adolescente está com problemas é fundamental que os pais se interessem por sua rotina. Elizabeth reforça que este deve ser um desejo genuíno, e não momentâneo por conta da repercussão do “Jogo da Baleia”.
“Os pais devem conhecer a rotina dos filhos, entender o que fazem, conhecer os amigos”, afirma a Elizabeth. Ela lembra que muitos adolescentes “falam” abertamente sobre a falta de motivação de viver nas redes sociais. Aos pais cabe incentivar que os filhos tenham projetos para o futuro, tracem metas como uma viagem, por exemplo, e até algo mais simples, como definir a programação do fim de semana.
3. Abra espaço para diálogo
Filhos devem se sentir acolhidos no âmbito familiar, por isso, Elizabeth reforça que é necessário que os pais revertam suas expectativas em relação a eles. “É preciso que o adolescente se sinta à vontade para falar de suas frustações e se sinta apoiado. Se ele tiver um espaço para dividir suas angústias e for escutado, tem um fator de proteção”, afirma Elizabeth.
Angela Bley, psicóloga coordenadora do instituto de psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, diz que o adolescente com autoestima baixa, sem vínculo familiar fortalecido é mais vulnerável a cair neste tipo de armadilha. “O que tem diálogo em casa, não é criticado o tempo todo, tem autoestima melhor, tem risco menor. Deixe que ele fale sobre o jogo, o que sente, é um momento de diálogo entre a família.”
Angela reforça que muitas vezes o adolescente não tem capacidade de discernir sobre todo o conteúdo ao qual é exposto. “Por isso é importante o diálogo franco. Não pode fingir que esse tipo de coisa não existe porque ele sabe que existe.”
4. Adolescentes devem buscar aliados
O adolescente precisa buscar as pessoas em que confia para compartilhar seus anseios, seja no ambiente escolar ou familiar, segundo as especialistas. “Que ele não ceda às ameaças de quem já está em contato com o jogo e entenda que quem está a frente deles são manipuladores”, diz Elizabeth.
5. Escolas podem criar iniciativas pela vida
Assim como a família, as escolas podem ajudar a identificar situações de risco entre os alunos. “Não é qualquer criança que vai responder ao chamado de um jogo como esse, são os que têm situações de vulnerabilidade. A escola ajuda a construir laços e tem papel fundamental de perceber como os alunos se desenvolvem”, afirma Elizabeth.
Alguns colégios, já cientes da viralização do jogo, começaram a pensar em alternativas para aumentar a conscientização sobre a importância de cuidade da vida. No Colégio Fecap, que fica na Região Central de São Paulo, essa ideia virou projeto escolar: a turma de alunos do ensino médio técnico de programação de jogos digitais começou a criar uma espécie de “contra-jogo” da Baleia Azul. “O jogo ainda está sendo produzido pelos alunos. Eles estão se reunindo e debatendo a questão. Serão 15 desafios de como desfrutar melhor da vida e celebrá-la”, conta o professor Marcelo Krokoscz, diretor do colégio.
Durante o curso, os estudantes aprender a aplicar linguagens de programação para criar jogos para computadores, videogame, internet e celulares, trabalhando desde a formação de personagens, roteiros e cenários até a programação do jogo em si. Segundo Krokoscz, a ideia é que o jogo, ainda sem prazo de lançamento, esteja disponível on-line para o público em geral.
Ele afirma que o objetivo é a ajudar os jovens a verem o lado bom da vida. “Impacta mais fortemente nossos alunos a partir do momento que eles mesmos criam um jogo a favor da vida.”
G1 PE
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